31.12.06

Hoje é dia...


Faltam apenas algumas horas para sair 2006 e entrar 2007. Quem chegará primeiro, quem chegará por último? Aqui faz-se a contagem ao segundo.

Logo mais, não me vou vestir todo de branco, mas, na minha mesa, não quero que faltem flores brancas. Flores e velas. Brancas.

(JMS, direitos reservados)

A menos que fosse para descer aos areais de Copacabana, e ali ficasse, anónimo entre o povo de branco vestido, a ver os fogos e a torcer para 2007 dar certo!


(Fogos em Copacabana, direitos reservados)

Lembrei-me agora: eu já estive ali. Já vivi esse momento pela mão de Chico Buarque...


«A última vez que encarei a Vanda, ela tinha os olhos bem abertos e o rosto iluminado pelos fogos de artifício: ouro, prata, azul, verde e rosa. Depois escapei pela escada, tomei o elevador trepidante, o edifício parecia vir abaixo com o foguetório. Cruzei a avenida, desci na praia apinhada de gente, exceto por umas clareiras com iemanjás de areia cercadas de velas. Cheguei à beira da água, de onde pessoas com saias suspensas e calças arregaçadas atiravam flores brancas ao mar. Quebrou uma onda mais forte, recuei para não molhar os sapatos; a espuma chegou aos meus pés e um ramo de lírios encalhou na areia. Significava um pedido recusado, por ambicioso demais, ou pouco intenso, ou enigmático, ou indecoroso, sabe lá. Colhi o ramo, com suas três flores ensopadas, mirradas mas ainda inteiras, e pensei em avançar mar adentro de terno e tudo, para atirá-lo além da rebentação. Mas talvez Iemanjá se aborrecesse por ver aquele lírio repetido, um lírio que acabara de rechaçar. Lírios, no entanto, são lírios, são todos iguais, e ela não haveria de estar ali julgando lírios, mas sim pedidos. Então fechei os olhos e cheguei a dar dois, três passos, até atinar que não tinha pedido nenhum para fazer. Eu que, sem acreditar em Iemanjá, sempre lhe lancei oferendas e fui atendido, agora era um homem crédulo com uma oferenda inútil na mão.»
(Trecho de Budapeste, de Chico Buarque, direitos reservados para texto e imagem)

30.12.06

Hoje é dia...


Falta apenas 1 dia para sair 2006 e entrar 2007. Quem chegará primeiro, quem chegará por último? Aqui faz-se a contagem ao segundo.

Escolhi Nova Iorque para vos desejar um 2007 iluminado...

(Chuva de confettis em Times Square, Nova Iorque, direitos reservados)

... mas, antes, deixem-me contar-vos uma estória.

A meia-noite aproximava-se a passos largos. A multidão estava mais frenética do que nunca. Ela deixou-se contagiar. Ao ponto de sacudir o cansaço e de esquecer as longas horas de espera. O grande momento, o clímax, não tardaria muito. E foi por esse breve instante, pensou Ela, que tinha cometido a loucura de, pela primeira vez na sua vida, passar um réveillon sem família ou amigos por perto (…).
Ao seu lado, um grupo de marines norte-americanos. Reparara neles momentos antes – para além do barulho que faziam, a sua farda branca não passava despercebida –, mas só então se dava conta de que o acaso se tinha encarregue de a brindar com mais um cliché nessa noite. Para além de estar em Times Square, estava também a ser alvo da atenção dos marinheiros. Uma cena digna de um velho clássico como o “On the Town”, em que Frank Sinatra e Gene Kelly, fardados a rigor, se aventuram na Broadway em busca de aventuras amorosas.

Um dos marines, com pinta de italo-americano, volta e meia, mirava-a de soslaio, enquanto os seus comparsas se metiam com ele. (…) De qualquer forma, de súbito todas as atenções convergiram para a enorme bola luminosa que começava a girar e a descer à terra em contagem regressiva. Os últimos sessenta segundos. Mais um ano prestes a escoar-se como areia por entre os dedos entreabertos. Quis fazer um balanço-relâmpago da sua vida no último ano, mas não conseguiu concentrar-se. A multidão estava ao rubro. Juntou-se ao coro nos dez segundos finais. E foi então que a esfera psicadélica pareceu explodir e a chegada do novo ano foi anunciada com o numérico a piscar sem parar.
Ao mesmo tempo que o céu era riscado por uma saraivada de trovões incandescentes, comandados à distância por computador, sobre as suas cabeças abateu-se uma chuva de papelinhos cintilantes de mil e uma cores. A imagem que tantas vezes vira na televisão repetia-se perante si para seu enorme deslumbramento. Apeteceu-lhe chorar de emoção. À sua volta, as pessoas riam, pulavam, beijavam-se, abraçavam-se… Deu-se conta que estava agora lado a lado com o marinheiro que ainda há pouco a fintava. Empurrados um para o outro por uma multidão que parecia conspirar a seu favor, tiveram a sensação de ser os únicos que permaneciam inertes. Levados pelo momento, e como tivessem acabado de assistir a um serviço religioso, deram um abraço rápido de circunstância. Ou melhor, deu Ela, pois ele, num gesto claramente irreflectido, voltou a puxá-la para si e desferiu-lhe um beijo de supetão.
Apanhada de surpresa, Ela só teve tempo de cerrar os lábios e de ensaiar uma tentativa de o empurrar para trás. Ainda com a boca dele colada à sua, os olhos dela, irados como mar revolto, detiveram-se nos dele, serenos como espelhos de água. Houve qualquer coisa naquele olhar, onde se podia ver reflectida, que a levou dali. Deixou de ouvir o barulho à volta, de sentir os encontrões, de pensar em mais nada que não fosse aquele beijo. À medida que afrouxou os lábios, sentiu o hálito morno dele, ligeiramente acidulado pela cerveja, misturar-se com o seu. As línguas encontraram-se e contorceram-se às cegas até se unirem num abraço sôfrego.
Enquanto durou o beijo foi como se tivessem estado dentro de uma cápsula. À parte. Imersos num tempo paralelo, que corria mais devagar, ao passo que à volta continuava tudo igual, numa rotação acelerada. Não ficaram suspensos no tempo. Apenas aquele momento, que para os outros não terá excedido os dois ou três minutos, equivaleu para eles a uma pequena eternidade. Deu mesmo para Ela abandonar o seu corpo por instantes e assistir à cena de fora. Dois corpos, lembrar-se-ia Ela mais tarde, enlaçados num beijo memorável, digno de figurar, caso alguém se tivesse dado ao trabalho de o imortalizar para a posteridade, entre a sequência final do “Cinema Paraíso”, o seu filme de eleição.
Ninguém os fotografou ou filmou. Aliás, quando soltaram o beijo foi como se ninguém tivesse dado por eles. (…) E nem sequer tiveram tempo de trocar uma única palavra, pois mal se largaram, a massa humana em movimento tratou de os arrastar para cantos opostos.
Atordoada, Ela demorou uns minutos a recompor-se. Não sabia o que pensar. Chegou mesmo a duvidar se aquele beijo teria realmente acontecido ou se tudo não passara de uma alucinação. O seu coração batia ainda descompassado e na boca sentiu um travo acidulado familiar. Não fora uma ilusão. Os seus olhos varreram a multidão à procura dele. Nem sinal.
Melhor assim, concluiu.
(…) Neste ano havia dispensado as passas, o brinde com champanhe e a troca de votos com quem lhe era mais querido, mas não abria mão dos seus desejos. O bom destes rituais de passagem, pensou, é que, ao repetirem-se ano após ano, devolvem ao ser humano a ilusão de é que possível zerar o conta-quilómetros da vida. Começar de novo. Uma ilusão que ajuda a manter-nos vivos. A manter a esperança.
Talvez por isso, em vez de lamentar o beijo trocado com um estranho, resolveu lembrar-se dele como um bom presságio para o ano acabado de chegar. Sentiu vontade de ouvir uma voz familiar. (…) E foi então que se deu conta de algo que, no fundo, sempre soubera e que só não se atrevera até então a admitir. Nem para si mesma. A solidão pode ser uma boa companhia, até mesmo uma boa conselheira. Só não deve é tornar-se possessiva a ponto de nos impedir de dar o devido valor à comunhão e à entrega ao outro. Cansou-se de estar sozinha nessa noite, mas a revelação, em vez de amargura, trouxe-lhe paz. A paz de quem sabe estar sozinha porque quis e não porque a isso foi obrigada.
(Trecho do conto O beijo, escrito por JMS em 2005-2006)

29.12.06

A Não Perder (2)

(Babel, de Brueghel, direitos reservados)

Acho que já deu para perceber que entendo o acto de viajar em sentido lato, não em sentido estrito. Assim sendo, não vão estranhar que fale aqui de Babel, em exibição desde ontem, como uma tremenda viagem. Aquele que é, seguramente, um dos filmes do ano e um dos mais sérios candidatos a arrebanhar os mais importantes galardões de cinema, tem a assinatura de Alejandro González Iñárritu. O primeiro filme que vi deste realizador mexicano foi o Amores Perros (Amores Brutos em português), um tremendo soco no estômago. Seguiu-se 21 gramas e agora este Babel, para fechar com chave de ouro a sua “trilogia da dor”.
E se falo em viagem é porque há muitas formas de viajar. Neste filme, para começar, estamos perante uma equipa multicultural, um elenco plurinacional
onde se destacam Brad Pitt, Gael Garcia Bernal (lembram-se dele em O Crime do Padre Amaro, versão mexicana?) e Cate Blanchett , que filmou em quatro línguas, em três continentes, e em quatro países (Marrocos, E.U.A., México e Japão). As rodagens duraram mais de um ano e o título Babel não foi escolhido ao acaso: o filme fala de relações humanas, de (in)comunicabilidade; parte daquilo que nos separa para chegar àquilo que, línguas, credos, latitudes, cor da pele e cultura à parte, nos une.
E se já houve um tempo em que todos falávamos a mesma língua, em que nos entendíamos, aqui o fio condutor a todos é a dor. Um tiro no deserto marroquino altera a vida de um casal americano e esse facto acaba por ter repercussões em três outras famílias em pontos diferentes do globo. Quatro estórias pessoais cruzadas, com a mestria habitual de Iñárritu
. É tudo muito real, muito cru. Da paisagem (da aridez do deserto marroquino às vertigens de Tóquio) às emoções dos actores, sem esquecer a música, tão intensa que nos chega a deixar pregados à cadeira.


(Alejandro González Iñárritu, à dir., com parte do elenco, direitos reservados)


O que diz João Lopes, crítico de cinema:
«Grande filme
é o novo de Alejandro Gonzalez Iñárritu: "Babel", um cruzamento de histórias — de novo com a colaboração do fiel argumentista Guillermo Arriaga — em que, de Marrocos aos EUA, do México ao Japão, descobrimos uma teia de histórias que, por assim dizer, traçam o mapa de uma interactividade afectiva, porventura fundamental para compreendermos o mundo de hoje. Com um elenco brilhante — incluindo Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal —, é também um filme que nos recoloca face a um drama eminentemente contemporâneo: a decomposição das relações pais/filhos. Ou ainda: o abalo interior de todas as hierarquias familiares. Para ver e rever.» (Cannes 2006)

Hoje é dia...


Faltam apenas 2 dias para sair 2006 e entrar 2007. Quem chegará primeiro, quem chegará por último? Aqui faz-se a contagem ao segundo.

Reiquiavique

(Fogos de fim de ano, Islândia, direitos reservados)

Aos nossos olhos, a Islândia, essa terra de gelo e fogo, permanece como uma espécie de “mundo do fim do mundo” (acho que Luis Sepúlveda não levará a mal por lhe tomar emprestado o título de um dos seus romances). Remoto, sim; incivilizado, nunca. Muito longe disso, como já o provou a cantora Björk e o facto da sua população possuir uma das taxas de leitura mais elevadas do planeta. Vai daí, lembrei-me, como será a passagem de ano em Reiquiavique, a capital? Gamlarskrold, perdão? É assim que chamam à passagem de ano, mas não percam muito tempo a tentar soletrar o que é (quase) impronunciável, pois os bons dos islandeses não ligam muito… Festivos como são, preocupam-se mais em juntar os amigos à volta de uma grande mesa e depois saem pela cidade em busca das várias, e enormes, fogueiras que alumiam o breu e aquecem os corações. Diz-se ser um costume que já vem da Idade Média e a mim parece-me uma ideia simpática. De resto, os habitantes da cidade têm um fascínio especial por fogo de artifício ― e, curiosamente, ou talvez não atendendo ao seu apurado sentido de ética, não possuem nenhuma lei que regule o seu uso, pelo que cada um pode estoirar quantos quiser ― e por beber, pelo que os bares e clubes não têm copos a medir pela madrugada fora. Falta-lhes, quiçá, o calor do Sul, mas têm ou não a sua piada?

28.12.06

Hoje, o Rio acordou assim...

(Cristo Redentor, Rio de Janeiro, direitos reservados)

Li hoje, no blog da Suzi, que o Rio de Janeiro havia amanhecido triste, cinzento. Na altura não compreendi, de imediato, a sua metáfora, que ficou clara agora que se difundem pelo mundo as notícias que dão como certos os feridos (23, pelo menos...), as mortes (18) e o pânico que se gerou, de madrugada, na cidade, em áreas nobres como Copacabana, Botafogo ou Barra da Tijuca, devido ao ataque de grupos marginais (ao que tudo indica sob as ordens dadas a partir de uma prisão local, por membros de quadrilhas da droga ali retidos, para semear o terror e pressionar as autoridades). Várias pessoas foram atacadas, assaltadas, autocarros incendiados, espalhou-se o medo num momento em que o Rio se enche para festejar o Réveillon, que é, a par do Carnaval, um dos seus maiores cartões de visita. Para piorar (ainda mais) tudo, as ligações aéreas de e para a cidade estão com sérias dificuldades. Fico sempre triste quando é este o eco que me chega d'além-mar. O Rio e os cariocas não merecem.

Aceitam-se encomendas


A Suzi e a Ma
rta R. pediram e eu, que tenho bom coração, resolvi aceder. Que façam bom proveito!

(George Clooney na sua casa de L.A., direitos reservados)

A notícia sobre o projecto hoteleiro de Clooney, que era o que justificava a presença deste senhor no meu blogue, continua mais abaixo... Só para o caso de haver alguém interessado em ler!?

Alegoria de fim de ano

Se cá nevasse, eu fazia cá ski, e Lisboa ficaria assim!

(Foto de ASS, direitos reservados)

Hoje é dia...


Faltam apenas 3 dias para sair 2006 e entrar 2007. Quem chegará primeiro, quem chegará por último? Aqui faz-se a contagem ao segundo.

2007 promete ser, para variar, um ano em cheio para as celebridades:


Ou muito me engano ou Leonardo DiCaprio vai, pelo menos tentar, ser hoteleiro. No início de 2006 vieram a público notícias que confirmaram DiCaprio como comprador de um ilhéu ao largo do Belize, na América Central, pela módica quantia de cerca de 1,5 milhão de euros. Até aí nada de novo, não fosse DiCaprio ter outros propósitos para Blackadore Cayo, assim se chama a ilhota de 41,6 hectares, do que servir-lhe apenas de refúgio para escapar dos paparazzis. Fontes próximas do actor confirmaram na altura a sua intenção de construir ali um eco-hotel de luxo, onde os hóspedes ficarão alojados em villas com piscinas, terraços privados e acesso directo à praia.

Dadas as preocupações ecológicas de DiCaprio, que deve ter presente a polémica ambiental que envolveu o filme A Praia rodado numa reserva natural ao largo de Phuket, na Tailândia, foi criada uma fundação e anunciado que o empreendimento vai apenas utilizar fontes de energia totalmente renováveis. A construção, para a qual o actor se associou à equipa do vizinho Cayo Espanto, vai decorrer de forma a provocar o menor impacte possível no ecossistema local, pois é bom não esquecer que a ilhota está apenas a 25 minutos de barco da barreira de coral do Belize, classificada como Património da Humanidade pela Unesco. A ver vamos se tudo não fica só no papel e nas intenções…

… como aconteceu, por exemplo, com George Clooney. Mas, primeiro, deixem-me recapitular. Clooney anunciou, no último trimestre de 2005, que pretendia abrir um resort em Las Vegas. De início, ter-se-á pensado que se tratava de mero marketing para ajudar a lançar um projecto alheio. O que, bem vistas as coisas, tinha a sua razão de ser, pois quando se começou a falar do assunto, as notícias focavam sobretudo que Clooney e Brad Pitt, depois de terem rodado os filmes Ocean Eleven e Ocean Twelve em Las Vegas, teriam manifestado a sua vontade de se associarem ao empresário Rande Gerber (na foto, à dir. de Clooney) ― também ele famoso pelos seus restaurantes, clubes nocturnos e, não menos importante, por ser o marido de Cindy Crawford ― na construção de um hotel-casino de luxo que marcasse a diferença na “Cidade do Pecado”.
Não era um mau plano. Mas Pitt saltou fora do projecto, Clooney ficou, disposto a investir dinheiro do seu, e anunciou ao mundo: «Estamos a colocar algo mais do que os nossos nomes neste projecto. Estamos a investir, económica e criativamente, para criar um ambiente suave que reflicta os nossos gostos pessoais e interesses, onde possamos relaxar com os nossos amigos que também adoram esta cidade.»


Baptizado de Las Ramblas (ver maqueta ao lado), este projecto deveria ocupar 62 hectares da área mais movimentada da cidade, o Strip, e contar com um hotel de cinco estrelas com 300 quartos, vários restaurantes, bares e um spa, além de cerca de três mil apartamentos construídos em torres. Pois é, só que ficou tudo em águas de bacalhau. O projecto tornou-se demasiado megalómano e a sociedade dissolveu-se. Há ainda quem diga que Clooney não desistiu e que, pode ser, talvez venha a convencer o amigo Brad Pitt e Rande Gerber a associarem-se na criação de algo mais pequeno, mas não necessariamente mais modesto. Quem viver, verá.

Ainda não sabem onde ir ver os fogos de fim de ano, inspirem-se...

Funchal

(Fogos na Madeira, direitos reservados)

27.12.06

Hoje é dia...


Faltam apenas 4 dias para sair 2006 e entrar 2007. Quem chegará primeiro, quem chegará por último? Aqui faz-se a contagem ao segundo.

As férias na neve conquistaram os portugueses e, de ano para ano, crescia o número de pessoas que as elegiam para o Réveillon... Mas eis que a falta de neve nas principais estâncias europeias, sobretudo nas mais em conta como a Serra Nevada, em Espanha, está a levar muitos a cancelaram as suas reservas à última da hora. Pois é, se no ano passado, por esta altura, já estava tudo esgotado para ir esquiar, agora está tudo cheio é para "fugir" do frio e ir ao encontro do calor. E quais são as preferências dos portugueses? Brasil, pois claro, com o Rio de Janeiro e as praias do Nordeste à cabeça, seguido das "Caraíbas dos pobres" (que é como quem diz República Dominicana e Cuba) e de Cabo Verde. É o que se pode chamar de entrar no novo ano "à sombra da bananeira", ou será antes do coqueiro?
Em contrapartida, e a avaliar pelas notícias mais recentes, destinos como a Indonésia, a braços com chuvas torrenciais, a Índia, com mau tempo e uma vaga de frio que está a deixar as autoridades preocupadas devido ao elevado número de sem-abrigos, ou Taiwan, vítima de um violento sismo que afectou as comunicações na China, Singapura e até no Japão, devem ficar de fora das cogitações de quem está à procura de um lugar exótico para entrar em 2007.


Três lugares onde não me importaria de aterrar nesta passagem de ano (mas sem constipação, por favor):


Sydney


(Fogos na baía de Sydney, direitos reservados)

Nova Iorque

(Times Square, direitos reservados)

Rio de Janeiro

(Fogos em Copacabana, direitos reservados)

26.12.06

Hoje é o dia...


... em que assinalo o primeiro mês do Lugares Comuns. Um mês na vida de um blogue não é nada. Curioso é pensar que há dois meses, nem preciso recuar mais, quase não frequentava a blogosfera... Daí então a pensar ter um blogue... Foi uma decisão repentina, mas vai ficar, sem dúvida, como uma das coisas boas que realizei em 2006.


... de relembrar as vítimas do tsunami. Há precisamente dois anos, quando o mundo ainda estava na ressaca de mais um Natal, fomos todos surpreendidos pelas imagens de destruição e impotência. Por força do hábito, destinos como as Maldivas, Sri Lanka ou Phuket, só para falar nalguns dos sítios mais atingidos, faziam parte do nosso imaginário colectivo de férias de sonho. Ver tudo aquilo, de um momento para outro, transformar-se num dos piores pesadelos de sempre é uma imagem que vai custar a apagar. Ainda não voltei a nenhum desses lugares. Não por medo, mas por falta de oportunidade. Aliás, acho que, tenho a certeza, uma das melhores coisas a fazer é mesmo não votar esses países ao ostracismo. A maior parte deles, não minimizando nunca as perdas sofridas, está de volta à actividade turística em grande estilo e recomenda-se, porque ali, como no resto, a vida tem de continuar. Aconselho a leitura de um artigo, publicado na Condé Nast Traveler, em Outubro, sobre o regresso da Tailândia em 2006 como destino de eleição.

... em que a maioria dos países anglo-saxónicos comemora o Boxing Day, mas as Baamas vão um pouco mais longe e não se contentam com um simples feriado. Todos os anos, a 26 de Dezembro, Nassau, a capital, mergulha de corpo e alma no Junkanoo, o Carnaval local. A origem desta festa popular de cores vibrantes, com centenas e centenas de pessoas fantasiadas que dançam quase em transe ao som dos batuques, remonta ao período da escravatura e ficou a dever-se a um homem, John Canoe, que conseguiu obter permissão para que os negros pudessem celebrar a sua cultura na data assinalada. A tradição ficou de ano para ano, chegando aos nossos dias como uma forte atracção turística. É claro que ter aparecido num dos filmes de James Bond ajudou, e muito, para se tornar mais conhecido fora de portas.

25.12.06

Natal no Mundo (12)

(Iluminação de Natal junto ao Arco da Rua Augusta, Lisboa, direitos reservados)

Há coincidências curiosas. Iniciei esta viagem virtual pelo Natal no Mundo numa data perfeitamente aleatória, mas eis-me chegado ao dia 25 e ao número redondo de 12. Nem de propósito. Para terminar o meu périplo não podia eleger outra cidade. Ou melhor, até podia, mas não me apetece. Por todos os motivos, só pode mesmo ser Lisboa. A cidade onde nasci e vivi a maior parte da minha vida. É também a ela que estão associadas, desde sempre, as minhas recordações de Natal. A fotografia foi tirada no Chiado, num final de tarde por aquelas bandas. Do que vi na capital, pareceram-me ser das iluminações natalícias mais bem conseguidas.

Feliz Natal/Merry Xmas!

P.S. A pedido da Suzi, fui à procura de outra imagem de Natal em Lisboa para colocar e acabei por descobrir que a empresa portuguesa Castros, responsável pelas iluminações natalícias na capital e também em Londres, foi eleita, pelo segundo ano consecutivo, como a melhor da Europa. Está de parabéns. Ler mais aqui.

24.12.06

Natal no Mundo (11)

(Árvore de Natal em Hong Kong, China, direitos reservados)

Véspera de Natal. É engraçado como a loucura dos últimos dias de preparativos precipita tudo e, num abrir e fechar de olhos, já chegámos. Agora é tratar de desacelarar para que, quando dermos por isso, ele não tenha já passado a correr.
Hoje elegi novamente uma paragem longínqua, aparentemente inusitada, mas que me fascina pelo seu turbilhão de luzes e pela forma como se constrói. Há ali qualquer coisa de eterno reclamo luminoso. Plástica, demasiado plástica, dirão alguns. Talvez. Mas não desgosto.
Então, Hong Kong festeja o Natal? Claro que sim. Não nos esqueçamos que ela foi, durante vários séculos, uma possessão britânica.

Feliz Natal/Merry Xmas!

23.12.06

Natal no Mundo (10)

(Iluminações de Natal na Praça Vermelha, Moscovo, direitos reservados)

O Natal está quase, quase aí. A minha ronda virtual está prestes a terminar. É curioso que me lancei este desafio, de postar por dia uma cidade diferente onde a quadra seja de alguma forma assinalada, sem ter muita noção se iria ser ou não fácil arranjar material para ilustrar o meu propósito. Confesso que houve dias em que não me apeteceu de todo, ou que me apeteceu menos, cumprir o ritual, mas persisti. Não por achar que teria reclamações ou que iria haver quem sentisse a falta, mas por uma questão de princípio. Afinal, ter um blogue também é isso, um compromisso.
Para hoje, em antevéspera de Natal, escolhi Moscovo. O calendário ortodoxo não coincide com o católico, pelo que o verdadeiro Natal russo só será celebrado mais tarde, já em Janeiro se não me atraiçoa a memória, mas a cidade enfeita-se logo a partir de Dezembro. Não resisti à imagem da Praça Vermelha iluminada, nem ao postal tradicional da época. Tudo à boa maneira russa.
Aos que continuam a passar por aqui, reitero os meus votos de Feliz Natal/Merry Xmas!

22.12.06

Natal no Mundo (9)

(Iluminações de Natal em Londres, direitos reservados)

Londres possui uma forte tradição nesta quadra, sendo recorrente como cenário para muitos filmes e contos alusivos a esta época. Um pouco por todo o lado, a cidade aposta forte nas iluminações de rua, nos mercados e nos ringues de patinagem no gelo (actualmente, o mais famoso é o da Somerset House, no Strand), mas armazéns famosos como o Harrods fazem questão de, todos os anos, surpreender os transeuntes com decorações natalícias planeadas até ao mais ínfimo pormenor. A enorme árvore de Natal de Trafalgar Square (na foto), oferecida pela Noruega como é da praxe, não chega a ser tão mediática como a de Nova Iorque, mas é um cartão postal incontornável. Mais informações aqui.
Este ano, porém, Londres está a deixar um amargo de boca devido às graves condições climatéricas registadas nos últimos dias (ler mais), o que obrigou, só hoje, a cancelar mais de 350 voos em Heathrow, um dos maiores aeroportos do mundo e a mais importante placa giratória de passageiros em trânsito. Estima-se que mais de 40 mil pessoas tenham sido afectadas por este contratempo, correndo algumas delas o sério risco de não chegarem a tempo de passar o Natal nos seus destinos. Segundo informações mais recentes, prevê-se que nos dias 23 e 24 de Dezembro a situação normalize.

Feliz Natal-Merry Xmas!

(Hergé, direitos reservados)

Já que estou numa de Tintin, fui desencantar este postal para desejar a todos aqueles que por aqui passarem um Feliz Natal/Happy Holidays!

A Não Perder (1)

(Tintin no Pompidou, foto da AFP, direitos reservados)


Se fosse vivo, Hergé iria comemorar, em Maio de 2007, o centenário do seu nascimento. Para assinalar a data, o Centro Pompidou, no Beaubourg, Paris, dá finalmente, com o jornal
Le Monde já vaticinou, o passo que faltava para colocar de vez “a obra hergiana no panteão da arte moderna” através de uma exposição, em parceria com a Fundação Hergé, dedicada ao criador de Tintin. A exposição, com entrada gratuita, vai decorrer até 19 de Fevereiro de 2007 e, entre muitas outras coisas, tem como grande atractivo o facto de, pela primeira vez, exibir a colecção completa das 124 pranchas originais do livro “O Lótus Azul”, desenhada entre 1934 e 1935. Absolutamente imperdível para quem, como eu, se habitou a viajar e a ver o mundo através de Tintin. É que hoje pode até estar provado que Hergé raramente deixou a Bélgica, mas uma coisa é certa ― e vou citar uma vez mais o Le Monde ― “ele fez bem mais do que colocar apenas uma galeria de personagens nas vinhetas a correr à aventura; ele criou um universo coerente, quer pelo traço, quer pelo espírito, e deu muito de si. Por isso, sem dúvida alguma, ele construiu à volta de Tintin, mais do que uma obra, uma verdadeira obra-prima”.

21.12.06

Natal no Mundo (8)

Post dedicado aos cariocas de gema e de coração.

(Fogos na inauguração da Árvore de Natal, Rio de Janeiro, direitos reservados)

No Rio de Janeiro, a chegada do Natal marca também a entrada no Verão. A “Cidade Maravilhosa”, à beira-mar plantada, torna-se mais aberta e despojada. No nosso imaginário, treinado desde a mais tenra idade para associar à época frio e roupas pesadas, não há grande espaço para uma visão assim, mas, como já dizia Fernando Pessoa, primeiro estranha-se… e depois entranha-se. O certo é que os cariocas não dispensam o calor da festa nem as rabanadas à sua mesa em noite de Consoada. Cá como lá. Já falei aqui dela, da Árvore de Natal flutuante na Lagoa Rodrigo de Freitas, um símbolo do Natal carioca dedicado à família brasileira, mas outros eventos alusivos à quadra, como feiras, coros e exposições, acontecem um pouco por toda a cidade. Destaco duas coisas: a iluminação do Palácio da Ilha Fiscal (na foto acima), onde teve lugar o último baile do Império, e a Casa Julieta de Serpa, de que falarei a seguir.

Parte dois

(Natal 2006 na Casa Julieta de Serpa, direitos reservados)

O Flamengo, juntamente com o seu vizinho Botafogo, foi das primeiras localidades à beira-mar a serem ocupadas depois do centro da cidade, nos anos 1600, pelo que exibe ainda hoje, e à vista desarmada, resquícios de uma época em que era eleito para morada de famílias endinheiradas. É certo que o “cachet” de outrora mudou de endereço (está agora no Leblon e mais além, a oeste) e que o bairro se tornou popular, mas um passeio a pé por ali ainda nos revela mansões e villas mais ou menos intactas. Sem muito tempo para andar à deriva, fui direito ao casarão que mais me interessava, no nº340 da Praia do Flamengo.
Cheguei ali por indicação amiga, mas devia andar muito distraído para não ter reparado antes no endereço que se tornou moda entre a alta burguesia carioca e que tem servido de cenário a tudo o que é produção fotográfica com estrelas da televisão e do teatro. Trata-se de um legítimo palacete neoclássico, construído no início do século passado, que acolheu por cerca de 80 anos a família Seabra. Conta-se que surgiu como prova de amor de um homem que desejava oferecer a mais bela casa de então à sua jovem mulher, mas o facto de ter chegado aos dias de hoje, a funcionar como a Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, também não deixou de ser um acto de filantropia. É que depois de vendida pelos herdeiros, a casa esteve para ser demolida para dar lugar a um imóvel mais rentável, mas o professor Carlos Serpa de Oliveira comprou-a e resolveu fazer dela um espaço polivalente dedicado à memória de sua mãe, uma amante da cultura e das artes.

Com uma arquitectura elegante e um recheio faustoso, que inclui vitrais, mobiliário, tapetes e até portas vindos da Europa, a casa causou sururu num Rio dado à informalidade, mas que não dispensa um toque do “velho mundo”. E como cultura é bom, mas não consegue por si só custear a manutenção de um palacete, o professor, que se prepara para abrir em breve um antiquário nas águas furtadas, teve a ideia de aproveitar as várias divisões para criar um restaurante de alta gastronomia (Le Blason), um salão de chá (Salon d’Or), um piano bar (J Club), um bistrô provençal (instalado na antiga cozinha), e um espaço todo modernaço, onde o neoclássico é misturado com peças de design contemporâneo, para refeições ligeiras e lanches. Nesta última área, com cortinas suspensas, a colagem deliberada ao estilo habitual de Philippe Starck espantou-me, mas o impacto é garantido. Pelo meio, há quem acuse a casa de pretensiosismo e de desajustada à realidade carioca, mas, o certo é que os seus eventos vivem lotados e na programação cultural não faltam exposições e sessões de cinema e teatro para crianças desfavorecidas (como na foto acima).


(Presépio da Casa Julieta de Serpa, direitos reservados)

Quem vem de fora achará, porventura, demasiado “afrancesado”, mas que isso não nos impeça de partilhar a alegria de quem ali vive e delira com uma casa que, em pleno Natal tropical, não tem pejo em se enfeitar a rigor com o maior presépio da cidade e de se deixar embalar pelos cânticos que vieram do frio. Afinal, são as contradições que tornam também o Rio irresistível. (trecho adaptado da reportagem “Cidade de Deus e do Homem”, publicada pelo autor na revista Volta ao Mundo, Dezembro de 2006)

Postal Ilustrado (2)

(Gravura antiga da Confeitaria Colombo, Rio de Janeiro, direitos reservados)


Francisco Palmares suspira, ergue os olhos e vê um anjo. A luz passa através dele, como é suposto que aconteça com os anjos, e desce depois dourada e mansa sobre os largos espelhos com molduras de jacarandá.
«Cada espelho destes pesa uma tonelada e meia. Vieram da Bélgica no princípio do século. Certamente ainda guardam a imagem de Olavo Bilac, Machado de Assis, Lima Barreto. Todos eles tinham o costume de vir aqui tomar chá às cinco da tarde, sabias?»
Monte encolhe os ombros.

«Não sabia e nem isso me interessa. Prefiro a nossa Biker, em Luanda, agrada-me a decadência.»
O coronel ignora o comentário.

«O Olavo Bilac era tão pontual que as pessoas costumavam acertar o relógio assim que ele entrava.»

Trecho de "O Ano em que Zumbi tomou o Rio", de José Eduardo Agualusa

É provável que, hoje, no Rio de Janeiro o termómetro ronde os 40 graus. Em Lisboa faz frio. Apetece-me começar o dia com um chá bem quente e um pastel de nata na Confeitaria Colombo. Gosto do seu cenário de filme, digno de um Visconti. Gosto, tal como Agualusa, de ver reflectidos nos seus espelhos belgas os escritores e poetas que já não moram cá. Foram-se embora, mas deixaram as palavras. E são também as palavras que me guiam hoje, nesta manhã fria de Lisboa, até ao coração do velho Rio. Num abrir e fechar de olhos.

Tenham um bom dia!

20.12.06

Hoje, Londres acordou assim...

Queixem-se do frio, mas, ao menos, em Lisboa ainda vemos muitos palmos à frente do nariz. Em Londres, para variar, hoje o dia acordou nublado. Normal, não fosse o nevoeiro tão intenso que já forçou a British Airways (BA) a cancelar um total de 160 voos de rotas europeias de e a partir do aeroporto de Heathrow. O pior é que não se prevê uma melhoria do estado do tempo nas próximas horas, pelo que os atrasos e cancelamentos não se devem ficar por aqui. Aliás, não é só a BA a ser afectada. O Controlo de Tráfego Aéreo implementou restrições no número de aviões autorizados a aterrar e levantar voo, por hora, no aeroporto, pelo que todas as companhias ali presentes tiveram de operar a 50 por cento da sua capacidade normal durante todo o dia. As companhias aéreas estão a proceder a reembolsos dos voos cancelados a quem assim o deseje. Se vão voar de ou para Londres, o melhor é consultarem links como o da BA.

Natal no Mundo (7)

(direitos reservados)

Parte um
Deu hoje nas notícias, logo é oficial. O Pai Natal deixou a sua oficina na Lapónia para começar a distribuição dos presentes. E porque a tradição ainda vale o que vale, consta que os prestáveis gnomos deram a devida assistência, eles que não têm sossego durante todo o ano a produzir os brinquedos, e que saiu montado no trenó puxado por renas. O seu saco continua a ser como a mala do Sport Billy (só os mais velhos vão entender esta…): não tem fundo.

Parte dois
Ohne blitz bitte. Utan blixt tack. El salamaa kiitos. Várias línguas para dizer o mesmo: nada de flashes na cara do Pai Natal! Um pedido mais do que razoável, pois, apesar do ar bonacheirão e da infinita paciência para responder, horas a fio, às solicitações de miúdos e graúdos, a versão finlandesa do Pai Natal é de carne e osso como toda a gente. A Santa Claus Village, situada no Círculo Árctico, a cerca de nove quilómetros de Rovaniemi, capital da Lapónia, é ponto obrigatório de romaria para os milhares de turistas que visitam a Finlândia. Trata-se, por isso, de um sítio “para turista ver e pagar” ― com as lojas de souvenirs da praxe ―, mas, ainda assim, das duas vezes que ali estive em trabalho, consegui reconhecer-lhe alguma piada. Nem que seja pela cara de felicidade dos miúdos… Uma visita virtual pode ser feita aqui.