25.5.07

Bom fim-de-semana!



A travessia do deserto. O senso comum habituou-nos a encará-la como uma provação, um tempo de aridez nas nossas vidas. Acontece que eu adoro desertos. Sou mesmo fascinado por eles. Exercem em mim um efeito quase hipnótico. Logo, atravessar um deserto pode ser sinónimo de descoberta, de um tempo de reflexão. Sobretudo se tiver tempo para ficar quieto. O deserto é também um ponto de encontro. Pode até parecer que estamos sozinhos, mas não estamos. Outras almas errantes fazem igualmente a sua caminhada. E no deserto, porque todos querem e precisam sobreviver, nunca falta quem nos estenda a mão.

24.5.07

Leituras



Hoje, e até ao dia 10 de Junho, começa mais uma edição da Feira do Livro, em Lisboa. Desde os meus tempos de universitário que me converti a esta prática saudável - e que não perco a não ser por motivos de ausência ou de força maior.
Adoro.
Gosto de andar por ali, com ou sem companhia, e sem olhar para o relógio, a espreitar as novidades, a verificar quais são os livros do dia, os autores do momento... Enfim, nunca dou por perdido o tempo (e o dinheiro) que ali gasto. Bem pelo contrário. Regra geral, deixo para esta ocasião a compra dos títulos que vão engrossar o meu estoque de Verão, mas como ando numa fase devoradora, e estava sem nada para ler desde que acabei o último do Ian McEwan (que se lê de uma penada!), antecipei-me e comprei dois no Corte Inglès (que, aproveito para informar, está a fazer descontos nos livros).
Um deles, já estou a ler: A Herança do Vazio, da indiana Kiran Desai, que cometeu o feito de ganhar o Man Booker Prize, em 2006, com apenas 35 anos. É uma revelação para mim. Mais uma, acho eu, a juntar à já vasta galeria de escritores indianos que leio e venero. Pode ser que, um dia, uma centelha do seu talento literário passe para mim por osmose.
Eu bem que gostaria...

22.5.07

Virar a página

(Auto-retrato, Frida Kahlo)


Por cada porta que se fecha, a vida encarrega-se de nos abrir uma janela. Será? Dizem que sim... O problema é quando a porta permanece fechada e nós teimamos em não ver a janela aberta. O segredo para se virar a página de um livro está em se conseguir terminar um capítulo para começar um novo.

21.5.07

(Re)começar

(Alan Keohane, direitos reservados)


O ritual repete-se. Mais uma segunda-feira. Decidi que vou começar a semana a pensar positivo e de, preferência, com um sorriso na cara. Aguardo algo há muito antecipado, mas que, ainda assim, eu espero ser capaz de me surpreender (pela positiva, já agora). Quero ser arrebatado. Não faço por menos.

18.5.07

Bom fim-de-semana!

Parece que, a partir de amanhã, o tempo já não será mais o mesmo. Vai daí, e porque estes dias de Verão temporão assim o justificam, esta tarde vou agarrar nas minhas coisas e mudar o meu estaminé para uma esplanada à beira-rio. Até já estou mesmo a ver qual.

17.5.07

Grande Espiga!


«A Quinta-feira da Ascensão ocorre quarenta dias depois da Páscoa. Popularmente chamada de Quinta-feira da Espiga, é tida como “o dia mais santo do ano”. Em terras de Alenquer, era tradicional colher-se um ramo de espigas de trigo (sempre em número ímpar), um pequeno tronco de oliveira, papoilas, margaridas e varas de videira. Este ramo era depois colocado atrás da porta de casa, para que nela houvesse pão, azeite, dinheiro e alegria durante todo o ano.»

Mesmo sendo de Lisboa, ora aqui está uma tradição que, em minha casa, sempre se fez questão de cumprir. Todos os anos, neste dia, o meu pai compra um ramo de espigas, que substitui assim o do ano passado no lugar de sempre, ou seja atrás da porta da despensa. Tão bom saber que certos hábitos não se perdem.

15.5.07

A vida não pára

PACIÊNCIA
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára (a vida não pára não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára (a vida não pára não)


Esta música, cantada por João Pedro Pais e Mafalda Veiga (que recuperam assim uma letra fantástica de Lenine e Dudu Falcão), ficou-me no ouvido. A vida não pára. É raro o dia em que não sinta a vida a passar muito rápido, mas em vez de me afligir por estar a ficar mais velho, deveria antes afligir-me por a vida estar a passar sem eu dar importância e sem abrir espaço a coisas fundamentais. A vida é tão rara. Eu sei, mas, às vezes, esqueço-me.

14.5.07

Inspiração



Ian McEwan foi-me dado de presente. Ou melhor, a possibilidade de descobrir Ian McEwan como um dos meus escritores favoritos foi-me proporcionada por alguém que, um belo dia e a propósito de nada, resolveu oferecer-me Amesterdão. De início, estranhei, demorei um pouco a render-me ao seu estilo, mas quanto mais lia, mais fascinado ficava com a sua narrativa escorreita e sem floreados. E não só. Fico maravilhado com o trabalho de pesquisa que sustenta cada uma das suas obras, um preciosismo quase digno de ourives, e que me faz acreditar piamente no neurocirurgião de Sábado ou no cenário de guerra de Expiação. Agora estou a ler Na Praia de Chesil e sei que, uma vez mais, não me decepcionarei.

11.5.07

Bom fim-de-semana!



Acho piada à Maria João, e não é de agora. Gosto da intérprete de
jazz, que sabe improvisar como só ela, mas também da artista que soube criar um estilo próprio e nos passa uma tranquilidade só possível a quem está de bem com a vida. Andava curioso em relação ao seu último trabalho, João, em que empresta a alma e a voz a 14 clássicos da música brasileira (Powell e Vinicius, Ary Barroso, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Lenine, Carlinhos Brown, Marisa Monte, entre outros). Mais do que apenas versões, Maria João, que na capa do CD tem qualquer coisa de Frida Kahlo, torna estas músicas suas. Eu que já me deliciei outrora com a sua interpretação de Beatriz, de Chico Buarque, não espero menos agora. Vou ouvi-la este fim-de-semana.

10.5.07

Em antecipação



Estão a ver o velho edifício do Estoril Sol? Pois esqueçam. O que vem ai está muito mais à frente (como podem avaliar pela maqueta acima). Se o plano for cumprido à risca, em 2009 vão surgir, no lugar do hotel, duas torres assimétricas de vidro e alumínio, da autoria do arquitecto Gonçalo Byrne, destinadas a blocos de apartamentos.

7.5.07

Segunda-feira


Eu sei que é segunda-feira e que manda a tradição queixarmo-nos da vida, de como é duro voltar ao trabalho, à rotina, ao corre-corre, ao trânsito... Mas sabem que mais? Não estou nem ai. Para mim, hoje está um belo dia para não fazer nada. Um belo dia para me deitar numa rede e ficar a ver a vida passar. Sem pressas.

4.5.07

Bom fim-de-semana!

(Muro de Berlim, direitos reservados)

Passaram mais de 17 anos sobre a queda do ignóbil Muro de Berlim, mas o mundo assiste, hoje, com alguma indiferença à construção de outros muros da vergonha entre os EUA e o México, Israel e a Palestina, Arábia Saudita e o Iraque, a China e a Coreia do Norte. Às vezes, dá-me a impressão que a Humanidade por cada passo em frente recua outros dois.
Tenham um bom fim-de-semana!

3.5.07

Um simples café


É impressão minha ou está cada vez mais difícil marcar um simples café com alguém? Andamos todos tão atarefados que, parece-me, só encontramos mesmo tempo para umas SMS's rápidas e para conversarmos frente a um computador. É uma pena.

1.5.07

As flores do 1º de Maio

Gosto da Madeira. Tenho dela uma das minhas primeiras recordações de viagem fora de Portugal continental e, já adulto, tive oportunidade de voltar ali e de me encantar de novo com muitas das peculiaridades da sua cultura e da sua geografia. Por isso mesmo, acho que a Madeira merecia mais do que ser notícia no 1º de Maio por dois factos lamentáveis.

Um deles, infelizmente, já não é novidade para ninguém, Alberto João Jardim, não contente com o descerrar ensandecido de placas inaugurais, continua a brindar-nos com pérolas como esta: a oposição ao PSD/PPD na Madeira nunca irá a lugar nenhum enquanto for feita por "pé de chinelos" e "gente rasca". Pois eu, que sou social-democrata assumido, digo que é uma pena, pois seria com enorme gosto que assistiria à sua derrota eleitoral.


O segundo caso do dia, da lavra do Dr. Paulo Portas, também não deixa de ser menos preocupante; dele, ao menos, eu sempre esperava que tivesse mais noção do peso das palavras. No seu discurso a propósito da data, saiu-se com esta:
«para nós CDS/PP trata-se de um festejo que acarinhamos. Nós acreditamos no valor do trabalho. Nós acreditamos que o trabalho liberta». Nada a opor não fosse o "trabalho liberta" um dos slogans nazis mais repetidos nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Paulo Portas pode ser muita coisa, mas não é desinformado nem um alienado, logo não se aceita que tenha incorrido num erro tão grosseiro por mera desatenção. Um acto tão mais infeliz quando Portugal foi palco há pouco tempo de manifestações de extrema-direita que a todos nós, cidadãos de bem, envergonham.