31.1.08

Bom fim-de-semana!


A viagem vai ser longa, mas vamos de olho na recompensa final e cheios de vontade de uns dias muito bem passados. A quem fica, bom fim-de-semana desde já!

25.1.08

Na cabeceira


Conheço o trabalho do jornalista, mas desconheço a obra do escritor. Como me veio parar à mão sob a forma de presente, vou matar a curiosidade.
Bom fim-de-semana!

24.1.08

Nas bancas


Não ganho comissão, mas não custa nada passar a palavra. Está nas bancas e, entre outras coisas, dá à estampa a reportagem do Rio de Janeiro.

23.1.08

Música para os meus ouvidos 2

Gosto muito desta nova estória da Carochinha. É que gosto mesmo.

22.1.08

Música para os meus ouvidos

Em época de remisturas, nada se perde, tudo se (re)inventa. Gosto de ouvir a Alanis a cantar Seal, os Freemasons a cantar Alanis e o David Fonseca a cantar Elton John.

18.1.08

Bom fim-de-semana!

Cena do filme Expiação, D.R.


O livro, e o seu autor, está entre os meus eleitos. Agora sempre quero ver se o filme lhe faz jus.

15.1.08

Rio: Copacabana

Calçada de Copacabana, criada por Burle Marx, D.R.


“A mão de Deus em tudo / Em Copacabana / O Rio bate um bolão / Garotas que passam têm lugar na canção” (Delírio dos Mortais, Djavan). Dou entrada no Copacabana Palace quando a tarde de sábado já vai a mais de meio. A piscina, há muito o coração social deste hotel, é agora também disputada por várias noivas, e respectivas entourages, que não se importam de pagar bem para que o seu dia de sonho inclua um cenário digno de capa de revista.


Fachada do Copa, D.R.


Há uns tempos, pediram que explicasse as razões que me levam a regressar aqui, ainda que prefira ambientes modernos e pequenos, e eu escrevi: “Regresso pelo conforto dos quartos, pelo empregado que se esforça em fixar o meu nome entre tantos, pelas orquídeas que trepam pelas árvores do pátio, pela feijoada de sábado, pelo brunch de domingo, e pela hora mágica em que as suas fachadas se alumiam. E também porque, para mim, a ideia de um dia perfeito no Rio termina com um banho ao luar, na piscina ancorada entre os restaurantes Pérgula e Cipriani”. A isto somo agora um outro atractivo de peso: um spa a cheirar a novo, de 700m² nas antigas Termas Copacabana, com acesso pelo edifício anexo, com belos apontamentos florais nas paredes, onde as empregadas usam havaianas em vez de sapatos e os tratamentos, a partir dos 35 euros, utilizam produtos das linhas Natura, Decleor, Wellness e Shiseido.


Piscina do Copa ao anoitecer, D.R.


Mas, Copacabana, por mais que a calçada ondulada projectada por Burle Marx continue apetecível (e a virar estampa de marcas como a Osklen), não se resume à bela fachada do Copa ou à Avenida Atlântica. Basta sair da beira-mar e entrar nas ruas interiores do bairro e sentir-nos-emos de imediato num outro “mundo”, que pouco ou nada preservou da aura mágica dos anos 50 e 60, tão bem ilustrados por Nelson Motta, o homem dos sete ofícios, em Ao som do mar e à luz do céu profundo. Uma outra época, em que o metro ainda não depositava centenas de pessoas vindas da Baixada fluminense nos congestionados areais e a vida corria a outro ritmo, com menos roubos, boates de quinta e prostituição de rua.

Sente-se, porém, ventos de mudança no ar. A prova disso são os novos quiosques da orla entre os postos 1 e 4, que trouxeram melhores condições sanitárias, maior conforto e uma infinidade de novos cardápios; a cozinha estrelada de Roland Villard em Le Pré-Catelan (Sofitel, Av. Atlântica, 4240); ou ainda a dupla de São Paulo que, depois de abrir o Copa Café (Av. Atlântica, 3056), inaugurou em 2007 o Atlântico (Av. Atlântica, 3880), uma mistura de lounge e restaurante, com arquitectura de Gilmar Peres, que já se tornou lugar da moda para ver e ser visto.


Um dos novos quiosques entre os postos 1 e 4, D.R.


Entre as novidades, conta-se igualmente uma roda gigante para breve, a ser instalada no Forte de Copacabana. Por ora, prefiro apontar o meu foco na direcção contrária, onde estão o Leme e a Urca, pensar na vista maravilhosa que tenho a partir do Morro do Pão de Açúcar e terminar com mais um verso cantado por Djavan: “Rio / Podem dizer o que quiser / Mas o xodó do povo / É o Rio / Casa do samba e do amor / Do Redentor / Louvado seja o Rio”. Ámen.

11.1.08

Rio: Leblon

Vista do Leblon e do Morro Dois Irmãos, D.R.


“Lá não existe / Felicidade de arranha-céu / Pois quem mora lá no morro / Já vive pertinho do céu” (Ave Maria no Morro, João Gilberto). Das ruas do Leblon ainda não dá para perceber, mas o crescimento da favela Chácara do Céu, no sopé do Morro Dois Irmãos, já começa a levantar muitos sobrolhos. Que o digam os moradores do Alto Leblon, tido como um dos bairros mais pacatos do Rio de Janeiro ― quase uma aldeia, reduto da alta burguesia carioca, onde ainda se cumprimenta o jornaleiro, as crianças brincam na praça e se pára no bar da esquina para dar dois dedos de conversa. Até ver, contudo, a aura residencial do Leblon, seguramente o bairro com mais vedetas por metro quadrado, mantém-se incólume, não obstante os seus luxuosos condomínios terem quase todos ultrapassado, em muito, a altura máxima outrora estabelecida em quatro andares.

Outra sua característica muito curiosa é a de ser praticamente auto-suficiente. Há de tudo: da praia badalada, com direito a segmento para as amas, aos melhores pontos de sumos naturais ― aconselho o Juice Co. Lounge (Av. Gen. San Martin, 889) e o Universo Orgânico (R. Conde de Bernadote, 26, lojas 105 e 106) ―, sem esquecer a animação nocturna, sobretudo no Baixo Leblon, com o Jobi (Av. Ataulfo de Paiva, 1166) à cabeça graças às mesas lotadas madrugada fora com cariocas e não cariocas em amena cavaqueira.


Andrea Prado e Christiana Guimarães, da Grã, D.R.


O melhor exemplo desta concentração está, todavia, na rua Dias Ferreira, repleta de óptimos restaurantes, livrarias, lojas ou até guloseimas inesperadas numa cidade tropical como sejam as 50 variedades de bombons artesanais da Envidia (nº106-A), nome sugerido pelo cantor Djavan, casado com uma das sócias. Como alternativa mais personalizada às boas marcas do Shopping Leblon (Av. Afrânio de Mello Franco, 240) e do São Conrado Fashion Mall (Estrada da Gávea, 899, São Conrado), existe nesta mesma artéria, no nº417, um prédio com vários estilistas por andar ― como Isa Lima (Domitila, sala 406), moda feminina muito colorida, ou Andrea Prado (Grã, sala 304), famosa pelas suas bolsas, carteiras e malas de viagem em couro, linho ou até palha de milho.


Estrada do Joá vista do La Suite, foto de JMS



Aproveito a boleia de um conhecido para me fazer a uma das estradas mais bonitas do Rio, suspensa em pilares, que serpenteia o trecho da orla entre São Conrado e o Joá. É aqui, debruçada sobre o mar, que fica La Suite (R. Jackson de Figueiredo, 501, tel. 0055 21 2484 1962). É a casa do francês François Dussol, que, após o lançamento da La Maison (a cargo do seu irmão Jacques) em 2004, na Gávea, descobriu este ponto excelente, nas imediações da praia da Joatinga, frequentada por surfistas. Felizmente, o La Suite recebe hóspedes, que podem assim optar por um dos sete quartos, cada um de uma cor diferente, com direito a estampas de Andy Warhol nas paredes e a um quinhão da vista só para eles. Em construção está uma piscina, daquelas que se perdem na linha do horizonte. O sossego é absoluto, a menos que seja dia de dar uma festa de arromba para algum VIP de passagem pelo Rio. Contam-me que o fotógrafo Mario Testino foi um dos felizardos.


Piscina do La Suite, D.R.

10.1.08

Rio: Ipanema

Piscina do Fasano com vista para o Morro Dois Irmãos, D.R.


“Cariocas são bonitos / Cariocas são bacanas / Cariocas são sacanas / Cariocas são dourados / Cariocas são modernos / Cariocas são espertos / Cariocas são diretos / Cariocas não gostam / De dias nublado” (Cariocas, Adriana Calcanhotto). O Arpoador, na divisa entre Copacabana e Ipanema, passou a ter um rival de peso na cobertura do novo hotel Fasano Rio na hora de admirar o mais elogiado pôr-do-sol da cidade. É também aqui que encontro a piscina, com serviço de bar, mais bonita de toda a cidade, com direito, para além do já citado fim de tarde, a vista desafogada para toda a marginal que se estende de Ipanema ao Leblon, entre a pedra do Arpoador, de um lado, e o Morro Dois Irmãos, do outro.


Fasano na esquina da Vieira Souto com a Joaquim Nabuco, D.R.


O Fasano, mais um nome de São Paulo que chega ao Rio para marcar a diferença, abriu as suas portas em Agosto de 2007. Instalado num prédio de oito andares, discreto mas que dá logo no olho, este Fasano depressa se tornou o ícone do novo Rio chique, apesar de ainda não estar tão afinado em matéria de serviço como o seu irmão paulistano. Seja como for, Rogério Fasano não brinca em serviço; quando se juntou aos outros investidores no projecto, já eles tinham então contratado o designer de interiores Philippe Starck, não abdicou de ter uma palavra a dizer.


Poltrona Big Mamma, de Gaetano Pesci, no corredor do Fasano, foto de JMS


Da “fricção” de génios e pontos de vista divergentes, nasceu um consenso que se traduz no seguinte: a classe de Rogério sente-se, sobretudo, na recepção (lindo o balcão de cinco metros e seis toneladas, todo escavado num tronco único de pequiá), no lobby (onde mistura reproduções de mobiliário brasileiro dos anos 50 e 60 com marcas registadas de Starck como os enormes espelhos ou as cortinas a separar ambientes, mas aqui em palha de seda), no Londra (o bar do momento, com quase 100 capas de LP’s da sua colecção privada a forrar as paredes) e no restaurante Fasano al Mare (a cargo do chef Luca Gozzani, Rogério bateu o pé que queria colunas como as do aeroporto Santos Dumont, mas permitiu os lustres fabulosos de Murano). Já Starck teve maior “liberdade” na piscina, nos corredores (foi sua a ideia de colocar as poltronas Big Mamma, de Gaetano Pesci) e nos quartos (muito confortáveis, tendo como marca registada o espelho “gota de água”, também utilizado para reflectir a paisagem).


Uma das suites topo de gama do Fasano, D.R.


Foi um investimento brutal, que implicou importar material topo de gama dos quatro cantos do mundo. Com um total de 92 quartos, do mais simples com cama king size à suite de luxo, é certo que apenas pouco mais de 40 dão directamente para o mar. Os restantes têm de se contentar com os fundos, mas até ai a filosofia da casa prevalece e argumentam que mais vale ficar no pior quarto do melhor hotel do Rio do que num quarto medíocre com vista panorâmica. É um ponto de “vista”.


Varanda com vista lateral de um dos quartos do fundo do Fasano, foto de JMS


Além de estar a mudar o perfil do Arpoador, o Fasano, na esquina da Joaquim Nabuco com a Vieira Souto, também veio tornar mais disputado o quinhão de areal frente ao posto 8. De todas as praias urbanas do Rio, Ipanema continua a ser a preferida, mas convém não fazer confusões; cada trecho de areal carioca tem a sua identidade: o célebre posto 9, outrora símbolo do movimento hippie e da resistência à ditadura, serve de ponto de encontro para os corpos mais enxutos do Rio, ao passo que entre o 8 e o 9, face às ruas Teixeira de Melo e Farme de Amoedo, é onde se reúnem gays, simpatizantes e musas que não se importam de dar a cara (os mais discretos preferem a Reserva, no Recreio). Não por acaso, uma das novas boates da moda entre o público GLS, o 69, fica na esquina da Farme com a Prudente de Morais, ao lado da choperia Devassa.


A praia frente ao célebre posto 9, em Ipanema, D.R.

Aliás, como em muitos outros pontos da cidade, aqui é fundamental ter, mais do que uma mera noção geográfica, uma percepção de como as coisas funcionam. Por uma questão de comodidade e segurança, os cariocas apreciam ter tudo o que precisam no seu bairro. Ipanema não é diferente e se o assunto é gastronómico, rume ao Quadrilátero de Charme, cheio de restaurantes e cafés recomendados. É precisamente neste perímetro que fica a mais nova casa de dois andares do Gula Gula (Rua Henrique Dumont, 57). Tudo começou com um modesto ponto no Leblon, onde o engenheiro Fernando de Lamare, o Fernandão, queria ocupar os dias de ócio. O sucesso foi tanto que hoje, passados mais de 20 anos, o seu filho Pedro e a neta, a chef Nanda, continuam o legado. Ao lado, no número 65-A, fica a Q-Guai, onde a dupla Amanda Haegler e Maria do Rosário encantam com três colecções ao ano de propostas femininas muito vivas e joviais.



Mas, em matéria de compras, não há como escapar à Visconde de Pirajá. Com trânsito nervoso e gente apressada como quase todas as avenidas no miolo do bairro paralelas à Vieira Souto, é aqui que encontro a minha livraria preferida no Rio, a Travessa (nº572), com café e uma filial no Shopping Leblon. Só perde em programação cultural para a Letras & Expressões (nº276). Entre as duas, no número 365, não tenho como falhar a Farm. Sem vitrina, a fachada da nova megaloja de 300 m2, é linda e já é conhecida por um fenómeno muito curioso: nos dias de maior movimento, os homens ― namorados, maridos, amigos, simples curiosos ― ficam sentados ou em pé nas escadas enquanto as suas acompanhantes, que se confundem com as vendedoras, conferem as novidades. A linha, alegre, colorida e descontraída, é a “cara da carioca” e o mérito é da estilista Kátia Barros (na foto), ela mesma uma filha do Rio, criada na praia do posto 6, que, apesar da expansão do negócio, não esquece que a sua inspiração está aqui.

A calar a boca dos que acusam Ipanema de se estar a “copacabanizar”, a Garcia d’Ávila (e, até certo ponto, a Maria Quitéria), perpendicular à marginal, é mais “o Rio a querer ser os Jardins, em São Paulo”; nota-se que as melhores marcas e restaurantes capricham especialmente na sua apresentação. Por oposição, o Mil Frutas Café, que ocupa uma loja para lá de acanhada no número 534-A, arriscava-se a passar despercebida, não fosse serem aqui vendidos os gelados mais amados da cidade.

9.1.08

Rio: Lagoa, J. Botânico e Gávea

Vista geral da Lagoa Rodrigo de Freitas, D.R.


“O Rio de Janeiro continua lindo / O Rio de Janeiro continua sendo / O Rio de Janeiro, Fevereiro e Março” (Aquele Abraço, Gilberto Gil). Uma lagoa rodeada por prédios e morros. O céu de fim de tarde não chega a ficar incandescente, mas a magia não sai beliscada. Coloco de parte o cocktail de álcool e frutas amazónicas, demasiado adocicado, e ajeito-me numa das cadeiras alfresco do Kanta Galo (Av. Epitácio Pessoa, s/nº, Parque do Cantagalo) para melhor desfrutar o cenário. A minha preguiça nem sequer destoa da energia comedida com que a grande maioria, e são muitos àquela hora, se exercita e passeia nos oito quilómetros que rodeiam a Lagoa Rodrigo de Freitas.

Os parques vizinhos dos Patins e das Catacumbas foram os pioneiros, no final dos anos 90, a inaugurar a tradição dos quiosques com cozinhas de vários pontos de mundo, mas o Kanta Galo, o irmão mais novo do exótico ― e, a meu ver, mais conseguido ― Palaphita Kitch, pertence a uma geração mais recente de quiosques que vieram dinamizar o Parque do Cantagalo, às margens da Lagoa, entre o final do dia e a madrugada.

Mas nem tudo é tão idílico como parece à primeira vista. A meio caminho entre Ipanema e Leblon, a lagoa, ligada ao mar pelo canal do Jardim de Alah, padece ainda com a poluição, mas tem vindo a melhorar e está mais arborizada e cuidada. O trânsito intenso à sua volta também está longe de ser um bálsamo em hora de ponta, até porque é um eixo de circulação entre vários bairros da Zona Sul.


Alameda das palmeiras imperiais, J. Botânico, D.R.


É o caso do Jardim Botânico. Este bairro-jardim, um dos mais procurados por quem troca a proximidade às praias por um maior recato, cresceu em torno de um ícone da cidade (o parque comemora, juntamente com a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, o seu bicentenário em 2008), mas sem dúvida que o facto de albergar a sede da TV Globo contribuiu, e muito, para que, aos poucos, este se esteja a tornar um verdadeiro fenómeno gastronómico ― não é à toa que sucessos de São Paulo, como a Pizzaria Braz (R. Maria Angélica, 129) e Nakombi (R. Maria Angélica, 183-5), escolheram o Jardim Botânico para abrir as suas filiais cariocas.


Claude Troisgros, D.R.


Sem contar que continuam aqui dois dos chefes mais premiados dos últimos tempos: Claude Troisgros e Roberta Sudbrack (R. Lineu de Paula Machado, 916). O primeiro é um francês há muito radicado no Rio, mas não há meio de perder o forte sotaque. Reabriu, em finais de 2003, o seu antigo restaurante, o Olympe (R. Custódio Serrão, 62), e, desde então, não pára de arrecadar todos os prémios mais prestigiados para a sua cozinha francesa com um toque brasileiro. A segunda é agora uma confirmação em matéria de cozinha contemporânea e veio directa do Palácio da Alvorada, onde cozinhou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os comensais, que podem também participar em aulas semanais, sentam-se numa mesa comum e pagam cerca de 60 euros à cabeça para provar as suas criações, aparentemente simples, mas muito sofisticadas. Mais acessível é o seu café, no segundo piso da loja multimarca Dona Coisa (R. Lopes Quintas, 153), também no Jardim Botânico.



Aula culinária de Roberta Sudbrack (de óculos e rolo na mão), D.R.


Se forem durante o dia à vizinha Gávea, vão sair daqui com a impressão de que não é muito diferente, a não ser nas ladeiras, mais longas e íngremes. É provável ainda que voltem rendidos aos encantos do Parque da Cidade, do Instituto Moreira Salles (R. Marquês de S. Vicente, 476), um centro cultural com cinema, salas de exposições fotográficas, livraria e café à beira da piscina, e que se embasbaquem com as casas, no meio de um verde pujante, cujos terraços soalheiros apontam para o Corcovado.



Só que o Baixo Gávea, sobretudo ao redor da Praça Santos Dumont, se transfigura mal tomba o lusco-fusco. Se for então num domingo à noite, preparem-se para ter de abrir caminho por entre a multidão de jovens e para esperar por mesa no restaurante mais disputado do pedaço: o Braseiro da Gávea (nº 116, na foto). E o que tem de tão especial? Bem, a carne, sobretudo a picanha, é farta, o chope é gelado, mas a verdadeira explicação para o entra e sai constante está por cima do mictório, onde se pode ler: “Parabéns, você entra solteiro e sai namorando”. Surpresa só mesmo para quem chega aqui desavisado e ignora que o Braseiro, em particular, e o Baixo Gávea, em geral, são conhecidos como “o” ponto para flirtar e lançar olhares cheios de boas intenções.

8.1.08

Rio: Santa Teresa

Vista para a Baia de Guanabara, a partir da Mama Ruisa, foto de JMS


“Da janela, vê-se o Corcovado / O Redentor, que lindo!” (Corcovado, António Carlos Jobim). Não é só o Corcovado, nem a baía de Guanabara, que eu avisto da varanda do Mama Ruisa. Situado numa ladeira de Santa Teresa, este antigo casarão, como tantos outros que existem por aqui, belíssimos, foi comprado pelo francês Jean-Michel Ruis e transformado numa pousada de muito bom gosto, onde não faltam apontamentos como as cadeiras Anel, criadas pelo falecido designer brasileiro Ricardo Fasanello ― cujo atelier (e produção) é mantido pela sua família no nº42 da rua do Paraíso.


Sala de estar da Mama Ruisa, Santa Teresa, foto de JMS


Neste bairro altaneiro existem ainda outras três ― Solar da Santa, Castelinho 38 e Rio 180 ―, surgidas entre 2006 e 2007, também nas mãos de estrangeiros que se apaixonaram pelo local; sem mencionar as casas de moradores, mais modestas, que aderiram ao conceito de cama e café de Leonardo Rangel e João Vergara. É, Santa Teresa está na moda.


Piscina da Mama Ruisa, Santa Teresa, foto de JMS


Para quem chega à espera de encontrar um bairro boémio e popular, que se tornou conhecido pelos blocos de Carnaval de rua, bares e ateliers, vai ter de se conter para não se sentir arrebatado pelo seu dédalo de ruas e ladeiras a pique, entre bolsas de verde e vistas panorâmicas, pelo acervo do museu Chácara do Céu (R. Murtinho Nobre, 93), antiga casa do coleccionador Raymundo Castro Maya, ou ainda por um prazenteiro almoço de domingo no Aprazível (R. Aprazível, 62), um restaurante que mais parece um refúgio, escondido entre denso arvoredo, com cozinha brasileira esmerada e recomendada.



Aprazível, Santa Teresa, foto de JMS


Podem subir a Santa Teresa de táxi, mas nada se compara a uma viagem no histórico “bondinho”, que atravessa os Arcos da Lapa, um aqueduto do século XVIII ― saídas da rua Prof. Lélio Gama, junto ao edifício da Petrobrás e da cónica catedral Metropolitana, talvez a obra mais incompreendida e mal-amada de Oscar Niemeyer.

7.1.08

Rio: Introdução

Estrada do Joá, Rio de Janeiro, foto de JMS


“Rio 40 graus / Cidade maravilha / Purgatório da beleza / E do caos...” (Rio 40 Graus, Fernanda Abreu). O rigor, e a minha boa consciência, obriga-me a começar esta série de posts sobre o Rio de Janeiro com um relato muito pessoal. Durante a minha última viagem, em Dezembro de 2007, fui finalmente vítima de um percalço infeliz. E não escrevo este “finalmente” com a mínima ponta de ironia, pois, nos muitos anos em que tenho visitado a cidade, nunca me comportei, por um minuto que seja, como se aguardasse o pior a qualquer instante.

Muito pelo contrário, do Rio, eu sempre esperei, e espero, o melhor. Mas aconteceu; num belo dia, à porta de um hotel cinco estrelas, onde era suposto não ter de me preocupar com mais nada, distrai-me por uma fracção de segundos e um taxista menos escrupuloso aproveitou para se escapulir com a minha mala. Fiquei, literalmente, com a roupa do corpo e com aquele amargo de boca de ser obrigado a ouvir, de amigos e familiares, um “finalmente”, desta vez sim, carregado de fina ironia. Mas não me dou por vencido. É claro que me enfureci ― e enfureci-me, sobretudo, pelo sentimento de impotência e de impunidade que sentimos num quase encolher de ombros generalizado e na falta de empenho das autoridades policiais, a quem faltam meios, formação e salários mais justos para fazerem a diferença ―, o que não apaga, todavia, tudo de bom que o Rio já me deu e, estou certo, me vai continuar a proporcionar.

Logo, desengane-se quem julgou ir ler um retrato ressentido do Rio de Janeiro. Seguir-se-ão antes vários relatos assumidamente pessoais, mas ainda assim com o devido distanciamento e espírito crítico, de alguém que quer passar a seguinte mensagem aos que sempre desejaram ir ao Rio, mas ainda não tiveram coragem: acidentes podem acontecer, ninguém está livre disso, mas é apenas uma probabilidade ínfima. Garantido mesmo é que ao chegarem ali, aposto, vão surpreender-se com cenários e situações que se tornaram clichés de tão repetidos em cartões postais, mas que, quando testemunhados ao vivo e a cores, nos emocionam. De quantos lugares do mundo podem dizer a mesma coisa?