15.1.08

Rio: Copacabana

Calçada de Copacabana, criada por Burle Marx, D.R.


“A mão de Deus em tudo / Em Copacabana / O Rio bate um bolão / Garotas que passam têm lugar na canção” (Delírio dos Mortais, Djavan). Dou entrada no Copacabana Palace quando a tarde de sábado já vai a mais de meio. A piscina, há muito o coração social deste hotel, é agora também disputada por várias noivas, e respectivas entourages, que não se importam de pagar bem para que o seu dia de sonho inclua um cenário digno de capa de revista.


Fachada do Copa, D.R.


Há uns tempos, pediram que explicasse as razões que me levam a regressar aqui, ainda que prefira ambientes modernos e pequenos, e eu escrevi: “Regresso pelo conforto dos quartos, pelo empregado que se esforça em fixar o meu nome entre tantos, pelas orquídeas que trepam pelas árvores do pátio, pela feijoada de sábado, pelo brunch de domingo, e pela hora mágica em que as suas fachadas se alumiam. E também porque, para mim, a ideia de um dia perfeito no Rio termina com um banho ao luar, na piscina ancorada entre os restaurantes Pérgula e Cipriani”. A isto somo agora um outro atractivo de peso: um spa a cheirar a novo, de 700m² nas antigas Termas Copacabana, com acesso pelo edifício anexo, com belos apontamentos florais nas paredes, onde as empregadas usam havaianas em vez de sapatos e os tratamentos, a partir dos 35 euros, utilizam produtos das linhas Natura, Decleor, Wellness e Shiseido.


Piscina do Copa ao anoitecer, D.R.


Mas, Copacabana, por mais que a calçada ondulada projectada por Burle Marx continue apetecível (e a virar estampa de marcas como a Osklen), não se resume à bela fachada do Copa ou à Avenida Atlântica. Basta sair da beira-mar e entrar nas ruas interiores do bairro e sentir-nos-emos de imediato num outro “mundo”, que pouco ou nada preservou da aura mágica dos anos 50 e 60, tão bem ilustrados por Nelson Motta, o homem dos sete ofícios, em Ao som do mar e à luz do céu profundo. Uma outra época, em que o metro ainda não depositava centenas de pessoas vindas da Baixada fluminense nos congestionados areais e a vida corria a outro ritmo, com menos roubos, boates de quinta e prostituição de rua.

Sente-se, porém, ventos de mudança no ar. A prova disso são os novos quiosques da orla entre os postos 1 e 4, que trouxeram melhores condições sanitárias, maior conforto e uma infinidade de novos cardápios; a cozinha estrelada de Roland Villard em Le Pré-Catelan (Sofitel, Av. Atlântica, 4240); ou ainda a dupla de São Paulo que, depois de abrir o Copa Café (Av. Atlântica, 3056), inaugurou em 2007 o Atlântico (Av. Atlântica, 3880), uma mistura de lounge e restaurante, com arquitectura de Gilmar Peres, que já se tornou lugar da moda para ver e ser visto.


Um dos novos quiosques entre os postos 1 e 4, D.R.


Entre as novidades, conta-se igualmente uma roda gigante para breve, a ser instalada no Forte de Copacabana. Por ora, prefiro apontar o meu foco na direcção contrária, onde estão o Leme e a Urca, pensar na vista maravilhosa que tenho a partir do Morro do Pão de Açúcar e terminar com mais um verso cantado por Djavan: “Rio / Podem dizer o que quiser / Mas o xodó do povo / É o Rio / Casa do samba e do amor / Do Redentor / Louvado seja o Rio”. Ámen.

5 comentários:

marta r disse...

Gostava tantoooooooo de pernoitar no Copacabana Palace!!!!

Custódia C. disse...

.... e mergulhar naquela piscina ao luar ......duas vezes ámen :)

Luís F. disse...

Essa dos quiosques deve ter a mão de um parente da ASAE...

:)

Suzi disse...

Este blog é uma ode ao Rio de janeiro e eu aqui metida em processos, sem tempo de degustar apropriadamente. leituras rápidas e superficiais não me agradam. Por isso não há, ainda, comentários meus em cada post lindo que escreveste.
Volto.
Volto, porque o "Do avesso" merece uma leitura decente!
;o)

Suzi disse...

Sim, o Copacabana Palace tem todo um quê de luxo e beleza. Mas, definitivamente, não é para "qualquer bico"... rs*


... antes mesmo do metrô, as pessoas da zona norte e baixada fluminense já curtiam o mar de Copacabana. E, cá entre nós, acho ótimo que o façam, e cada vez mais. É a democratização do mar. Porque o Rio é de todos, inclusive dos pobres. E a elite da zona sul acha que arrendou o mar...

Os novos quiosques... Bem, as obras enfeiaram a orla por muitos meses, mais tempo do que o programado. São lindos, é verdade, mas não têm a tranqüilidade do Recreio... Pesquisa aponta que apenas 3% dos cariocas freqüentam os quiosques à noite. Uma pena, isso. Porque nada como uma noite de verão num quiosque, no calçadão, regada a água de coco...

Ainda não andei na roda gigante. A Urca é meu sonho de consumo em relação a morar. O Cristo e o Pão de Açúcar... bem, esses são mesmo o xodó da gente.

;o)