30.12.07

O brinde

Hip, Hip, Hurra!, P.S. Krøyer (1859-1909)


Com a chegada de mais um ano, não é a ideia de uma vida nova que me move, até porque estou satisfeito com a que tenho, mas antes a perspectiva de poder continuar a descobrir e a aprender coisas novas.
Um brinde a 2008!

22.12.07

O espírito


Neste final de ano, a vida deu-me como presente poder testemunhar esta quadra, de que tanto gosto, de diferentes perspectivas. E foi assim que me encantei com os preparativos em Viena; que voltei a ser criança quando as luzes da grande árvore do Badrutt's se acenderam pela primeira vez no dia 6, em St. Moritz; que nessa mesma manhã me juntei a um amigo que comigo quis partilhar a abertura dos chocolates de São Nicolau enviados pela família distante; ou ainda que dei por mim a achar que, bem vistas as coisas, uma lagoa, cercada por montanhas e por betão, com um dos mais belos entardeceres do Rio, é o local perfeito para uma árvore gigante flutuante. E no regresso a casa, alegro-me por tudo o que vi, mas também, e sobretudo, por continuar certo de que, na noite de 24 para 25, não vou querer estar em mais lugar nenhum do mundo. Só aqui.
A todos vocês, eu desejo um Bom Natal!

13.12.07

St. Moritz: parte 2

Corviglia, foto de Nuno Filipe Oliveira, D.R.

A estação do funicular em Corviglia serve de escaparate a grandes cartazes de marcas como a Jet Set e dá acesso directo ao empório gastronómico dos Mathis ― Hartly, o pai, e Reto, o filho. Suponho que a ideia seja a de não obrigar quem sobe apenas com o intuito de comer, beber um prosecco e/ou gozar o panorama a molhar desnecessariamente as botas ou os sapatos. Edificado a 2486 metros de altitude, o complexo onde estão os Mathis já existe desde 1964, pelo que, embora renovado e aumentado em 1994 ― depois de Reto e da sua mulher, Barbara, terem assumido o espaço em 1992 ―, não deixa de se me afigurar como um mamarracho. Os interiores também não encantam, mas há um factor inegável: o carisma de Reto, um dandy de olhos muito azuis, afável e habituado aos holofotes, o que faz do La Marmite, o restaurante de alta gastronomia por oposição aos outros no edifício, mais baratos e informais, uma referência da cozinha mediterrânica, com as trufas e o caviar a dominarem o cardápio.

Talvez por isso, Reto seja, uma vez mais, presença confirmada no 15º Festival Gastronómico de St. Moritz, um evento com chefes convidados de vários países (que perfazem um total de seis estrelas Michelin) e uma série de almoços, jantares e
cocktails de degustação, a muitos euros por cabeça, que fazem deste certame anual uma verdadeira “extravaganza” culinária.


Reto Mathis, D.R.


Johri's Talvo, D.R.


Reto Mathis só perde em mediatismo para Roland Jöhri, o chefe com duas estrelas Michelin, que tem, desde 1992, o seu restaurante na aldeia vizinha de Champfèr, ainda parte da cidade de St. Moritz. Instalado numa casa alpina secular, o restaurante Talvo, membro da Relais & Châteaux, é um ponto gastronómico incontornável, pois Jöhri, natural da região, combina a alta gastronomia francesa com a cozinha local e não enjeita influências mediterrânicas e asiáticas. Bem secundado pelo subchefe René Dittrich, mais um chefe pasteleiro e um bom sommelier, Jöhri faz também uma dupla de sucesso com a sua mulher, Brigitte, que se encarrega de bem receber. A simpatia não tem preço, mas a cozinha de excepção tem, logo só um prato principal pode custar facilmente 45 euros.

Mas voltemos a Corviglia. Com St. Moritz ainda a meio gás, nas suas pistas imaculadas, esquiadores e snowboarders deslizam sem atropelos e envoltos em nuvens reluzentes de pó de talco. Há quem diga ― com alguma propriedade, reconheço ― que tantas distracções acabam por encurtar o tempo disponível (ou será antes a vontade, que é pouca?) para os desportos de neve. Não sei até que ponto as estatísticas, as tais que apontam um número superior a 50% de visitantes que vem a St. Moritz pela vida mundana e não pelo esqui, serão exactas, mas existem aqui os meios e as condições ideais à sua prática.


Corviglia vista de Piz Nair

Apanho o teleférico que vai de Corviglia até Piz Nair, a 3057 metros de altitude. Como não existem pistas, a única atracção é a vista desafogada que se goza a toda a volta, pelo que há quem venha apenas para se sentir no topo do mundo, beber um copo ou fazer uma refeição ligeira no restaurante Panorama. Na hora de partir, esqueço-me de confirmar a veracidade de uma história caricata: o grego Constantine Niarchos, um milionário que terá sucumbido, em 1999, vítima de uma overdose homérica de cocaína no seu apartamento de Londres, duas semanas após ter conquistado o monte Everest, gostava tanto do vale de Engadine que não só terá financiado a construção do Panorama, onde tinha uma sala reservada, como terá conseguido que se criasse aqui um memorial depois da sua morte!


Alpina Hutte

Guardo o meu apetite para a Alpina Hütte. A meio caminho entre as plataformas de Piz Nair e de Corviglia, ela contradiz um pouco a ideia feita de que em St. Moritz tudo está pensado para que não se tenha de suar as estopinhas nas pistas. A pé, atinjo esta casa a muito custo e devo ser dos únicos na esplanada que não está devidamente equipado e com os esquis ou a prancha de snowboard pendurados à porta. A comida é excessivamente cara para a sua simplicidade, mas, num lugar onde até as cadeiras chegam de helicóptero, compreende-se e o panorama soberbo justifica-o.

12.12.07

St. Moritz: parte 1

Vista do quarto 409 do Badrutt's Palace, em St. Moritz


À entrada está estacionado um dos Rolls-Royce do hotel. O taxista, português como quase todos aqui, faz a manobra possível para me deixar o mais perto que consegue da porta principal, mas, ainda antes de perguntar quanto lhe devo, já me está a responder a uma outra questão que não fiz. Não em voz alta, pelo menos. A temporada está só a começar e ainda é demasiado cedo para as celebridades que, ano após ano, colocam St. Moritz nas páginas das revistas cor-de-rosa.

A reabertura do Badrutt’s Palace, que se dá religiosamente a 5 de Dezembro, é um catalisador da agenda social de St. Moritz. Não é para menos. Se esta estância fez do Inverno um acontecimento ansiosamente aguardado, tal só foi possível porque um senhor chamado Johannes Badrutt, após a compra de uma pensão de 12 quartos que esteve na origem do que é hoje o hotel Kulm, viu no vale de Engadine, no cantão suíço de Graubünden, perto da fronteira com Itália, potencial para tal.

É claro que na altura, em 1864, a ideia soava a um perfeito disparate; afinal, quem se podia dar a esse luxo tinha precisamente por hábito “refugiar-se” nas zonas mais temperadas da Europa para escapar aos rigores da estação. Foi então que Badrutt desafiou quatro amigos britânicos que costumavam passar o Verão no vale: eles voltariam no Inverno com a premissa de que se não gostassem, ele assumiria todas as despesas da sua deslocação e estada. Como acharam que não tinham nada a perder, aceitaram o repto, mas gostaram tanto que chegaram antes do Natal e só se foram embora depois da Páscoa.

O resto é história. O Badrutt’s foi o primeiro hotel dos Alpes a ostentar o nome Palace ― e o primeiro também a inaugurar uma arquitectura algo pesada que viria a fazer escola, arriscar-me-ia a acrescentar ― e só não perdeu a conta a todas as figuras sonantes que já acolheu ao longo dos tempos porque as suas identidades, e respectivas histórias, ficam devidamente registadas nos anais. É assim até hoje por mais sombra que lhe façam os seus concorrentes directos ― o Kulm, a Suvretta House e o Carlton, este último, aliás, reabriu em Dezembro, depois de uma remodelação de 40 milhões de euros, como o primeiro hotel de luxo da região só com suites.

Quem não está habituado a frequentar St. Moritz pode interrogar-se como uma cidade pequena, com uma população fixa que não chega aos seis mil habitantes, pode sobreviver apenas com duas temporadas ao ano ― de Dezembro a Abril e de Junho a Setembro ―, ficando os restantes meses adormecida e quase sem actividade. Pois tal só é possível porque para o grosso dos visitantes ― cerca de 63% são estrangeiros, com a Alemanha e a Itália na dianteira, a que não serão alheios a proximidade geográfica e o facto de aqui se falar alemão e romanche ―, independentemente de ter mais ou menos pergaminhos, de ser mais ou menos mediático, dinheiro não é problema e vêm dispostos a gastar muito em pouco tempo. Tão simples quanto isto.

E o que tem St. Moritz, e o Badrutt’s já agora, de tão especial para merecer a fidelidade de pessoas que vieram de férias com os seus pais e agora continuam a vir com os seus filhos? Da varanda do quarto 409, virada para o lago, avisto uma cidade dividida em Dorf, o centro com os seus hotéis, lojas e chalés, e Bad, a periferia com blocos de apartamentos e centros desportivos. Gostaria de dizer que formam um todo harmonioso, mas estaria a fugir à verdade.

Na realidade, o que explica até certo ponto o apelo irresistível de St. Moritz é, para começar, a sua localização, entre montanhas e à beira de um lago, mas também, e sobretudo, uma vivência mundana muito própria proporcionada por locais badalados, eventos como corridas de cavalo e campeonatos de pólo no gelo que obrigam a reservar alojamento com grande antecedência e uma mão cheia de chefes talentosos que, longe de se limitarem a recriar especialidades locais como a gulosa tarte de nozes e mel, podem praticar uma cozinha de autor e fazer-se cobrar por isso. Só depois vêm o esqui e os outros desportos.

Pode parecer que estou a perverter a ordem natural das coisas, mas, ironias à parte, não ando muito longe da verdade. O Badrutt’s, mais uma vez, é bom barómetro deste frenesim social de St. Moritz. Claro que o hotel leva os seus hóspedes até ao funicular e vai buscá-los no regresso com direito a chocolate quente, mas o que parece contar mesmo é que entre os seus restaurantes possui um Nobu, o japonês mais famoso do mundo; que os muitos cadeirões e sofás do seu grande hall não chegam para sentar toda a gente que ali se reúne no pós-esqui para ver e ser vista; ou ainda que o seu concièrge não se acanha, como assisti certa noite, a fazer os telefonemas necessários para conseguir uma passagem aérea de última hora entre Nova Iorque e Casablanca se isso lhe for pedido.


Chesa Futura, em St. Moritz, D.R.


Seja como for, St. Moritz não se resume aos salões do Badrutt’s. A abertura oficial da temporada de Inverno 2007-2008 começou a 24 de Novembro, mas, à semelhança do que sucedeu em anos anteriores, a maioria dos estabelecimentos só reabre entre a segunda e a terceira semanas de Dezembro. Acontece que as condições meteorológicas dos últimos meses têm permitido honrar, como uma fartura como há muito não se via, a tradição de St. Moritz, que se gaba de possuir neve de 1 de Dezembro a 1 de Maio, pelo que alguns, não muitos, anteciparam a sua abertura. Melhor ainda quando à neve se junta um sol radioso, o que parece não ser nada de extraordinário por aqui ― os manuais locais, pelo menos, não se cansam de frisar que tal fenómeno se deve à alta atitude e ao alinhamento das montanhas.

Do conjunto de montanhas com infra-estrutura para a prática de desportos de Inverno que cerca St. Moritz, Corviglia é, sem dúvida, aquela que fica mais acessível. O funicular sai da via San Gian, mas obriga a uma mudança em Chantarella. Vale a pena fazer uma paragem aqui, sobretudo ao entardecer, pois é um dos melhores pontos de observação da cidade à beira do lago e uma boa maneira de apreciar de perto os chalés rústicos e os blocos de apartamentos, destinados apenas aos muito ricos, que cravaram os seus alicerces nas encostas íngremes.

É o caso da Chesa Futura. Desenhado pela firma de arquitectura do britânico Norman Foster, o arquitecto-estrela armado cavaleiro pela rainha, este bloco de apartamentos ― e diz-se que Foster, incondicional de St. Moritz, reservou a penthouse para si ― foi construído em madeira, vidro e aço e, como começa ser hábito na obra mais recente de Foster, a sua peculiar forma orgânica já lhe valeu a alcunha de “amendoim”. Parece-se mais a um feijão, mas o certo é que criou uma nova marca indelével na paisagem da cidade. Depois, goste-se ou não, faz uma fusão notável entre a engenharia de ponta e técnicas locais ancestrais de construção.

10.12.07

Perdições (13)


Nem tinha ido à loja com o propósito de fazer qualquer compra, mas assim que bati o olho neles já não consegui sair de lá sem eles. Afinal, não são todos os dias que se encontram uns ténis-bota All Stars da Converse em pele e camurça. ADORO.

30.11.07

Golegã (3): passeios

Hotel Lusitano com estúdio de Carlos Relvas ao fundo

Mas nem tudo se resume ao Hotel Lusitano, afinal, convém não esquecê-lo, estamos em terra de cavalos. Animado pela possibilidade de vê-los no seu meio, saio da Golegã, em direcção ao Entroncamento, rumo à Quinta das Vendas. O caminho é curto e à chegada sou saudado pelo Luís Miguel, responsável pela boa forma física dos animais. Uma vez aqui, podem optar por um sem número de actividades, nas quais se incluem aulas e passeios, mas aproveito o à-vontade do meu anfitrião, que se trajou a rigor, para sairmos numa das charrettes mais antigas da quinta, puxados pela égua Roca. Decidimos ir até à Quinta da Cardiga, junto ao Tejo e a Vila Nova da Barquinha, mas para isso temos de atravessar uma estrada movimentada. A égua está nervosa. Apeio-me e ajudo a charrette a passar com segurança. Esta quinta, e as cruzes bordadas na pedra dos frontões à entrada não mentem, pertenceu à Ordem dos Templários e depois aos Freires de Cristo. O Palacete, com magnífico retábulo quinhentista de pedraria e torreões circulares, bem como os jardins, está fechado a cadeado, mas a área imensa à volta, pese embora um certo ar de abandono, pode ser livremente percorrida.

Com o sol a cair a pique, despeço-me de Luís Miguel e da égua Roca e deixo para a manhã seguinte uma visita à Quinta da Broa. Situada à entrada da Azinhaga, aquela que se diz “a aldeia mais portuguesa do Ribatejo” e partilha a campina com a sua vizinha Golegã, é quase impossível falhar a enorme casa branca, de porte aristocrático, que ladeia a estrada de terra batida até Mato de Miranda. Trata-se de propriedade privada, mas, como é hábito por aqui, o pesado portão de ferro está aberto de par em par e franqueia a entrada para um amplo pátio, rodeado de construções tingidas de matizes invernais. Os actuais donos da quinta, a família Veiga, bem conhecida nas lides tauromáquicas pela coudelaria que leva o seu ferro, estão habituados a que este conjunto de casas agrícolas, com destaque para o palácio velho (cujo interior está repleto de belos frescos restaurados, muitos dos quais alusivos à faina agrícola), desperte a curiosidade de nacionais e estrangeiros. Talvez por isso, na medida do razoável e dependendo da forma como é feita a abordagem, tentam honrar a tradição antiga, iniciada pelo fundador Rafael José da Cunha, de atender quem bate à porta ― com uma diferença: antes, as pessoas vinham pedir um naco de broa (esse costume acabou por determinar a toponímia da quinta); hoje chegam aqui atraídas pela sua história. Quem sabe, um dia, as casas outrora destinadas aos empregados, e agora quase todas vazias, se convertam num belo projecto turístico.

Luís Miguel a atrelar a égua Roca, Quinta das Vendas


Por ora, é também pela Azinhaga, que tem um núcleo de solares, ermidas e explorações agrícolas interessante, que se faz o acesso até à Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, em tempos refúgio da maior colónia de garças da Península Ibérica. Entre os rios Tejo e Almonda, a reserva estende-se por 529 hectares e encanta pelos seus maciços de salgueiros e freixos. Lamento não ter trazido uma bicicleta comigo, pelo que me contento em caminhar um pouco até ao seu interior, com charcos durante quase todo o ano, onde se encontra uma maior variedade de plantas aquáticas e caniçais. Infelizmente, a Primavera tarda, pelo que não avisto nenhuma das aves aquáticas selvagens (sobretudo da família das garças) que aqui nidificam.

Já de saída para Lisboa, olho para a paisagem calma que me cerca. O rio, o gado e os cavalos à solta nas pastagens, a planura dos campos férteis ― numa terra onde muitos têm ainda na agricultura, na pecuária e na exploração das florestas o seu principal sustento ― baralham quem veio da cidade grande e se resignou a ouvir falar deste modus vivendi como se estivesse ferido de morte. Muita coisa mudou. A Golegã e o Ribatejo não estão imunes à modernidade nem aos seus contratempos. Mas, como alguém me disse, os ribatejanos estão empenhados em que, pelo menos neste canto de Portugal, não se percam para sempre certos usos e costumes. Nós agradecemos.

COMO IR

Para quem vêm do Porto ou de Lisboa pela A1, deve entrar na A23 em Torres Novas/Abrantes e virar no Km 17, na direcção de Barquinha/Entroncamento. Depois é só continuar pelo IC3 até à Golegã.

ONDE FICAR

Hotel Lusitano – Rua Gil Vicente, 4, tel.: 249 979 170
Diárias a partir de €135 (consultar pacotes e promoções).

ONDE COMER
Num raio de 50 km existem inúmeros restaurantes afamados, pelo que é possível, com a ajuda do hotel se quiserem, organizar um roteiro gourmet.
Hotel Lusitano – Rua Gil Vicente, 4, tel.: 249 979 170
Preço médio da refeição: €35
O seu restaurante, com vista desafogada para o jardim, não tem paralelo nas redondezas.
Restaurante Lusitanus - Largo Marquês de Pombal, 25
Preço médio da refeição: €12
É um espaço cuidado, debruçado sobre o Largo da Feira, onde se pratica uma boa cozinha regional.
Café Central – Largo da Imaculada Conceição, 9-11
Preço médio da refeição: €13
Cozinha tradicional portuguesa com destaque para o Bife à Central.
Casita D’Avó - Rua Dom Afonso Henriques, 30
Preço Médio da refeição: €12
Pequena casa, sem luxos, mas muito procurada pela sua cozinha regional esmerada.

ONDE COMPRAR
Casa Connosco – Av. Dr. José Eduardo Victor das Neves, nº35, 1º, Lj. L, Entroncamento, tel.: 249 726 250
Muitos dos objectos usados na decoração do hotel podem ser adquiridos nesta loja de Teresa Matos.


Portal manuelino da Matriz, D.R.

O QUE FAZER
- Admirar a Igreja Matriz do século XVI, com um belo portal manuelino e painéis de azulejos do século XVII.

-
Passear de charrette até várias quintas das redondezas, como a Quinta da Cardiga ou a aristocrática Quinta da Broa.


Picadeiro do Centro Hípico Lusitanus, D.R.

- Andar de bicicleta pela Reserva Natural do Paúl do Boquilobo.
- Marcar umas lições no picadeiro do Centro Hípico Lusitanus, no Largo Marquês de Pombal, nº25.

Museu Municipal de Fotografia Carlos Relvas, D.R.

- Visitar o Museu Municipal de Fotografia Carlos Relvas, no Largo D. Manuel I. Carlos Relvas criou o primeiro estúdio fotográfico do mundo a ser construído de raiz.
- Mimem-se no Puro Spa, a funcionar no hotel (aberto a não hóspedes), com tratamentos a partir dos €40 (mínimo 30 minutos) e pacotes a partir dos €240 (mínimo seis sessões).

29.11.07

Golegã (2): restaurante e spa

Restaurante

O restaurante do Hotel Lusitano (preço médio da refeição: €35) está num alpendre fechado, contíguo à sala de estar. É um espaço agradável, com bastante luz natural e boas vistas para o jardim, onde não é improvável cruzarmo-nos com figuras ilustres da terra como o presidente da Câmara. O jovem chef José Avillez prestou consultadoria na primeira carta, mas hoje a cozinha está a cargo de Paulo Costa, que passou pelo afamado Eleven, em Lisboa. Com várias tasquinhas à volta, onde se come bem e barato, este restaurante almeja conquistar uma clientela, dentro e fora do hotel, que aprecia detalhes como os copos de água azuis de Aino Aalto ou os talheres da Hepp Exclusiv, mas que também não abdica de um cardápio equilibrado, que saiba tirar partido dos produtos sazonais da região e dar-lhes um toque de modernidade. Um bom exemplo disso são as entradas, onde o chef admite poder “brincar” um pouco mais, sendo possível degustar coisas como um Torricado de ovos mexidos com farinheira, por exemplo. Na carta de Inverno, sempre que for oportuno, vai introduzir pratos de caça.

Bar e jardim, com mobiliário de exterior da Dedon


Nem de propósito, o Puro Spa (tratamentos a partir de €40, mínimo 30 minutos) fica em frente. É intenção do hotel recorrer aos serviços de uma nutricionista para ajudar a preparar menus pouco calóricos e que se moldem à ideia de proporcionar “clínicas de bem-estar”; por outras palavras, uma espécie de retiro para descansar, relaxar e desintoxicar. Instalado num pavilhão construído de raiz, onde também passou a funcionar um bar aberto para o jardim, este spa faz por honrar o nome e não se limita, como é prática comum, a uma salinha nos fundos. Nota-se o mesmo cuidado nos detalhes, a começar na boneca de porcelana da artista plástica Maria Rita, autora também das bolas de Pilates revestidas a feltro que substituem as useiras cadeiras, ou nas jarras sete noites da Tsé & Tsé, desta feita em negro, mas é mais do que (só) isso. Como o arquitecto Quintanilha já não foi a tempo de acompanhar a obra, Teresa e Raquel tiveram uma intervenção mais directa na escolha dos materiais e acessórios, pelo que optaram por deixar as paredes em cimento afagado ou por criar soluções engenhosas como as algas suspensas da Vitra, que proporcionam, juntamente com os colchões (serão poufs?) policromáticos da FatBoy, um ambiente único na sala de repouso. Na piscina coberta, a tepidez da água faz-me esquecer, num ápice, o frio lá fora. Flutuo de olhos postos no tecto robusto de madeira e sinto-me no ventre de um navio.




28.11.07

Golegã (1): o hotel

Pela cortina mal fechada entra um feixe de luz que se detém no tecto e faz sobressair, como na técnica do claro-escuro, os seus ângulos agudos. A custo, separo-me do edredão fofo e vou até à janela. A neblina chegou de mansinho pela noite e não se foi embora. Distingo na bruma o casario baixo circundante, tão típico da Golegã, e o chalé de Carlos Relvas, mas não avisto, para lá dos limites da vila, a campina, com as suas alvercas e chaboucos, que ainda ontem lá estava. É tempo de descer, tomar o pequeno-almoço e o sol dar-nos-á um ar da sua graça. Mesmo num dia de Inverno como este.


Estúdio-museu Carlos Relvas, D.R.

Quem se habituou a associar a auto-proclamada capital nacional do cavalo ao rebuliço das duas primeiras semanas de Novembro, altura em que a Golegã atrai a si apreciadores e curiosos do mundo inteiro, talvez demore a acostumar-se à pacatez com que se vive aqui no resto do ano. O Hotel Lusitano, inaugurado há cerca de um ano, pretende beneficiar da proximidade de Lisboa ― sem trânsito, a viagem faz-se em menos de uma 1h30 ― para dar a conhecer a hospitalidade e a paisagem ribatejanas. Mas não vão à espera do óbvio. Do mesmo modo que estilizaram a figura do cavalo para fazer dele o seu ícone, apenas presente em subtis pormenores, Teresa e Raquel, duas engenheiras de formação que se encarregaram dos interiores, não recriaram no hotel a casa ou a quinta ribatejanas.


Vista geral do jardim e da ala nova


Sala de estar

José Dias Vieira comprou um belo casarão antigo a dois passos da igreja matriz e do pelourinho. Nele viviam antes duas irmãs idosas para quem a casa assimétrica de dois pisos se tinha tornado grande demais. O projecto de conversão em hotel foi então entregue ao arquitecto Francisco Quintanilha, entretanto falecido, que tratou, entre outras coisas, de altear o sótão para ganhar um segundo piso e de construir uma nova ala assumidamente contemporânea por contraste ao edifício original.

Bar visto a partir da sala de estar

Resolvida a questão arquitectónica, Teresa e Raquel, noras do proprietário, chamaram a si o desafio de dar conteúdo a um hotel de 24 quartos, em que apenas quatro são iguais, e transformá-lo numa unidade de charme contemporâneo, sem cair no cliché do design pelo design ou na tentação de enveredar pelo exótico-rural. Aproveitaram soalhos flutuantes, portadas e portas de origem, como a que separa a sala de estar do bar (e que se repete, no primeiro andar, no quarto 115), e trataram de as combinar, na casa antiga, com tons neutros e achocolatados, tecidos agradáveis ao toque, painéis em madeira rendilhada (há um particularmente bonito por cima da lareira, na sala), gravuras de Martins Correia cedidas pelo Museu Equus Polis e muitas peças escolhidas a dedo que Teresa, graças à sua loja de decoração (teresamatos@soladrilho.pt), garimpou junto de vários designers e artistas plásticos nacionais e estrangeiros.

Jarras sete dias criadas pela Tsé & Tsé


Almofadas de Teresa Martins

E foram detalhes como as almofadas bordadas de Teresa Martins, os apliques de parede Caboche, desenhados por Patricia Urquiola e Eliana Gerotto para a Foscarini, os candeeiros de Luísa Peixoto ou as jarras sete dias de cor opalina, de Sigolène Prébois e Catherine Lévy para a Tsé & Tsé, que não passaram despercebidos à revista Condé Nast Traveler e que já levaram as duas a serem convidadas para decorar um projecto nas ilhas Caimão. Aliás, todo o mobiliário escuro dos quartos, com linhas simples e ângulos rectos, é da sua autoria, sendo apenas combinado com roupa branca nas camas e tecidos, de cor verde ou laranja, da Designers Guild a forrar cadeiras e otomanas.

26.11.07

Parece que foi ontem


Mudou de nome, mudou de propósito e tem andado ao sabor de humores e de (maiores ou menores) disponibilidades. Mas sobreviveu, para minha surpresa, até hoje, a tempo de celebrar um ano de vida. Como sempre gostei de fazer as coisas à minha maneira por aqui, este post não vai ser diferente. Em vez de um bolo, um texto. Um tango que imaginei dançado ao som de um dos temas de Shigeru Umebayashi - em especial o Yumeji's Theme - que dão corpo a um belíssimo filme de Wong Kar-Wai, In the Mood for Love. Para ilustrar, não me ocorre nada melhor do que uma prancha de Hugo Pratt, num livro precioso de Corto Maltese.
E porque há coisas que têm mais sentido quando vividas em boa companhia, obrigado.

Tango

Rodopiamos
Embriagados pela luz
Sem despregar o olhar

Eu avanço
Tu recuas

Tropeçamos no ardor
Mas os corpos amparam a queda
Num compasso a dois tempos

Arremesso-te
Tu resistes

Faço-te girar
Tu rebates

A parede nua é a minha teia
Cerco-te por todos os lados
A minha língua é veneno
que te entorpece

Mas o desejo em ti aceso encadeia
Cego, apenas guiado pelo teu cheiro,
Devoro a tua boca

Sopro segredos ao teu ouvido
Os teus lábios devolvem murmúrios
São minhas as mãos que por ti deslizam
É tua a pele que se eriça ao meu toque

E porque a vertigem é passageira
Mas a ilusão pode ser eterna
Enredamo-nos na parede nua
Sem pressa dela sair.


23.11.07

Bom fim-de-semana!

Já nas bancas. Em breve poderão ler também aqui

19.11.07

Pé na estrada...

Golegã, D.R.

A Feira Nacional do Cavalo já lá vai, bem como o Verão de São Martinho e o garbo dos cavaleiros à portuguesa, mas esta semana vou em trabalho para a Golegã. Quando voltar, logo conto como foi.

16.11.07

Viena (5): noite

Donaustadt, Viena, D.R.


Comparada com muitas das exposições, permanentes ou temporárias, em cartaz no Museumsquartier, True Romance: Alegorias de Amor desde a Renascença até ao Presente, em exibição até 3 de Fevereiro na Kunsthalle, é manifestamente fraca. Mas é aqui que acabo por encontrar, num desses acasos que não o são, um bilhete que não resisto a ler. Chego até ele depois de vaguear, ao som da sacerdotisa do amor Björk, por entre corações psicadélicos, séries de borboletas de Damien Hirst ou filmes que almas mais sensíveis rotularão de hardcore. Pregado num mural, é dos poucos escritos em inglês e nele se conta, em poucas linhas, a estória de John e Angela. Dois anónimos que, numa variação à Paul Auster da eterna fórmula “boy meets girl”, se conheceram há cinco anos numa das discotecas mais famosas de Viena.
Estava John, britânico, encostado ao balcão do bar, atordoado pelo
Wiener Gemütlichkeit (easygoing austríaco) e por uns copos a mais, quando se aproximou uma bela rapariga austríaca. Ela deixou-lhe na mão uma mortalha com um número de telefone e desapareceu na neblina de fumo. Não trocaram uma palavra.Com medo de ter sido uma alucinação, John esperou pela luz do dia para mandar um SMS à misteriosa aparição: “Quem és tu?”. A resposta não tardou. Angela, assim se chamava ela, marcou um encontro para essa mesma noite. O primeiro de muitos. Estão juntos até hoje.

Rote Bar, Volkstheater, Viena, D.R.

Flex é a discoteca onde tudo aconteceu. Desemboco aqui já a madrugada vai alta ― e nem sequer é uma figura de estilo rebuscada, pois o Flex fica literalmente à beira rio, junto à ponte Augarten ―, depois de ter navegado por vários bares de Lerchenfelder Gürtel, a norte do sétimo bairro. Estou acompanhado do DJ Bastillo, que faz de cicerone e me facilita a entrada. Lugares como o Loop, o Mezzanin, o Rhiz ou o Chelsea dividem a cena com o que já foi, e ainda é, uma espécie de bairro vermelho de Viena, com prostituição à vista desarmada, mas o Gürtel está a regenerar-se graças a fundos comunitários.

Passage, Viena, D.R.

Bastillo faz parte de uma nova geração de músicos, produtores e DJ’s que tenta agora a sua sorte na cena clubber vienense, e não só, depois do boom que catapultou para o estrelato internacional nomes como Kruder & Dorfmeister, responsáveis por alguns dos remixes de sucesso de Madonna. Fumo de cigarro, presença incómoda mas incontornável, e produções à parte ― quem fizer questão de ver gente bonita e ambientes mais sofisticados, vai ter de bater à porta de lugares da moda como o Passage, o Rote Bar (no Volkstheater) ou o Volksgarten, junto ao Bairro dos Museus ―, o certo é que este roteiro noctívago mais alternativo, mas com enorme aceitação entre os mais jovens, leva-me a tomar contacto pela primeira vez com o conceito de Kippen.

Passage, Viena, D.R.

No fundo, trata-se, tão só, de nos deixarmos levar pela atitude da música, independentemente do seu estilo ― do funky ou do jazzy à electrónica. O segredo, ou a diferença, está no facto de o som made in Viena, por mais intenso e envolvente que seja, nunca atingir aquele limiar insuportável em que a cabeça começa a latejar. Talvez seja um conceito difícil de traduzir por miúdos, mas a sensação é, asseguro, boa.

Flex, Viena, D.R.

Comprovo-o, precisamente, na pista de um Flex à cunha. Não há muito a (d)escrever sobre o Flex ― o ponto alto do espaço, que lembra um porão industrial, são os rebuçados e chupa-chupas numa parede de vidro por cima dos urinóis. Interessa mesmo é que os melhores DJ’s se pelam para actuar aqui, que o seu sistema de som é tido como um dos melhores na Europa e que consegue a proeza de reunir debaixo do mesmo tecto o tipo certinho de gravata e o matulão com rastas até à cintura. Tem o seu quê de decadente e de transgressivo, mas parte ― grande parte, arriscar-me-ia a dizer ― da sua graça está mesmo ai. E depois, o amor acontece. Mesmo nos lugares mais improváveis. Ou não.

GUIA PRÁTICO

Quarto do Roomz Vienna


COMO IR
A SkyEurope opera, quatro vezes por semana, um voo directo entre Lisboa (partida à 01h30) e Viena (partida às 21h30) com preços desde 29 euros por cada trecho.

ONDE FICAR
Roomz Vienna
Paragonstrasse, 1
Tel.: 00431 7431 777
Diárias desde 59 euros para um hotel de design moderno situado no 11º bairro, a dez minutos de metro do centro histórico.

15.11.07

Viena (4): pessoas e lugares

Katrin e Sofia (fotografadas por Nuno Filipe Oliveira para a Rotas & Destinos)


Conheci a Sofia Podreka e a Katrin Radanitsch através do Nuno, que vive em Viena e já fotografou o trabalho destas duas jovens designers vienenses (como o original cabide à esq.), sócias na dottings, atelier dedicado ao design industrial, para várias revistas austríacas (e agora para a Rotas & Destinos, edição de Dezembro 2007). Quando chegámos ao seu atelier, instalado num andar cheio de luz, fui logo contagiado pela simpatia de ambas. A Sofia é mais extrovertida, a Katrin é mais tímida num primeiro contacto, mas foi ela que tomou a iniciativa, antes mesmo de nos sentarmos, de nos oferecer um café latte (com o devido copo de água, pois claro, que assim manda a cortesia austríaca!) e bolachinhas. Não foi nada complicado convencê-las a deixar-nos espreitar o seu caderno de moradas favoritas na cidade, que deixo agora aqui para quem interessar. Detalhe: as duas são grandes fãs das linhas dos anos 50 e dos grandes arquitectos austríacos, pelo que as suas escolhas reflectem isso mesmo.


Bed & Breakfast Martina Podreka, Viena, D.R.

DORMIR
Martina Podreka

Werdertorgasse, 15-20
Martina.podreka@chello.at
Bed & Breakfast, com design moderno, na Baixa vienense. Pertence a uma tia da Sofia.


Bed & Breakfast Martina Podreka, Viena, D.R.
ALMOÇO
Rebhuhn

Berggasse, 24
A “Perdiz” serve comida tipicamente austríaca.

Soho Kantine

Nationalbibliothek
Josefsplatz, 1
Café e comida tailandesa na Biblioteca Nacional.


Criações da Muhlbauer, Viena, D.R.

COMPRAS
Mühlbauer

Seilergasse, 10
Chapéus de todos os feitios para todos os gostos.

Moveis usados

Duas dicas: Glasfabrik e Lichterloh.

PAUSAS

Cafe Drechsler

Linke Wienzeile 22/Girardigasse 1
Reabriu em 2007 com decoração de Sir Terence Conran.

Fachada do Café Pruckel, Viena, D.R.

Café Prückel
Stubenring, 24
Fica frente ao MAK (Museu Austríaco de Arte Aplicadas) e passou por um período de degradação, mas agora está de novo na berra e a todos encanta pela sua atmosfera e decoração anos 50.

Zum Schwarzen Kameel
Bognergasse 5
Já Beethoven adorava a “Dália Negra”, uma casa muito elegante onde as senhoras bem postas de Viena adoram almoçar e lanchar. Deliciosas sandes frescas e bolinhos de perder a cabeça.

LAZER

Krieau

Nordportalstrasse, 247
Três discípulos de Otto Wagner desenharam um dos mais antigos hipódromos da Europa.

JANTAR

Palmenhaus

Burggarten
Fica numa estufa de Friedrich Ohmann, um dos mais belos exemplares de arte nova vienense, com serviço de bar e restaurante de cozinha austríaca moderna.

Expedit Bar
Wiesingerstrasse 6, com a Biberstrasse
Antigo armazém convertido em bar e templo da boa cozinha italiana.

Palmenhaus, Viena, D.R.

SAÍDAS
Loos American Bar
Kärntner Durchgag, 10
Desenhado por Adolf Loos, em 1903, é o preferido de muito jovens designers.

Volksgarten
Burgring, 1
Possui um clube nocturno da moda e um bar-anfiteatro, mas o preferido é o pavilhão de Verão, encerrado no Inverno, desenhado por Oswald Haerdtl em 1958, conhecido por “Bananas”.

Café da Palmenhaus, Viena, D.R.