13.12.07

St. Moritz: parte 2

Corviglia, foto de Nuno Filipe Oliveira, D.R.

A estação do funicular em Corviglia serve de escaparate a grandes cartazes de marcas como a Jet Set e dá acesso directo ao empório gastronómico dos Mathis ― Hartly, o pai, e Reto, o filho. Suponho que a ideia seja a de não obrigar quem sobe apenas com o intuito de comer, beber um prosecco e/ou gozar o panorama a molhar desnecessariamente as botas ou os sapatos. Edificado a 2486 metros de altitude, o complexo onde estão os Mathis já existe desde 1964, pelo que, embora renovado e aumentado em 1994 ― depois de Reto e da sua mulher, Barbara, terem assumido o espaço em 1992 ―, não deixa de se me afigurar como um mamarracho. Os interiores também não encantam, mas há um factor inegável: o carisma de Reto, um dandy de olhos muito azuis, afável e habituado aos holofotes, o que faz do La Marmite, o restaurante de alta gastronomia por oposição aos outros no edifício, mais baratos e informais, uma referência da cozinha mediterrânica, com as trufas e o caviar a dominarem o cardápio.

Talvez por isso, Reto seja, uma vez mais, presença confirmada no 15º Festival Gastronómico de St. Moritz, um evento com chefes convidados de vários países (que perfazem um total de seis estrelas Michelin) e uma série de almoços, jantares e
cocktails de degustação, a muitos euros por cabeça, que fazem deste certame anual uma verdadeira “extravaganza” culinária.


Reto Mathis, D.R.


Johri's Talvo, D.R.


Reto Mathis só perde em mediatismo para Roland Jöhri, o chefe com duas estrelas Michelin, que tem, desde 1992, o seu restaurante na aldeia vizinha de Champfèr, ainda parte da cidade de St. Moritz. Instalado numa casa alpina secular, o restaurante Talvo, membro da Relais & Châteaux, é um ponto gastronómico incontornável, pois Jöhri, natural da região, combina a alta gastronomia francesa com a cozinha local e não enjeita influências mediterrânicas e asiáticas. Bem secundado pelo subchefe René Dittrich, mais um chefe pasteleiro e um bom sommelier, Jöhri faz também uma dupla de sucesso com a sua mulher, Brigitte, que se encarrega de bem receber. A simpatia não tem preço, mas a cozinha de excepção tem, logo só um prato principal pode custar facilmente 45 euros.

Mas voltemos a Corviglia. Com St. Moritz ainda a meio gás, nas suas pistas imaculadas, esquiadores e snowboarders deslizam sem atropelos e envoltos em nuvens reluzentes de pó de talco. Há quem diga ― com alguma propriedade, reconheço ― que tantas distracções acabam por encurtar o tempo disponível (ou será antes a vontade, que é pouca?) para os desportos de neve. Não sei até que ponto as estatísticas, as tais que apontam um número superior a 50% de visitantes que vem a St. Moritz pela vida mundana e não pelo esqui, serão exactas, mas existem aqui os meios e as condições ideais à sua prática.


Corviglia vista de Piz Nair

Apanho o teleférico que vai de Corviglia até Piz Nair, a 3057 metros de altitude. Como não existem pistas, a única atracção é a vista desafogada que se goza a toda a volta, pelo que há quem venha apenas para se sentir no topo do mundo, beber um copo ou fazer uma refeição ligeira no restaurante Panorama. Na hora de partir, esqueço-me de confirmar a veracidade de uma história caricata: o grego Constantine Niarchos, um milionário que terá sucumbido, em 1999, vítima de uma overdose homérica de cocaína no seu apartamento de Londres, duas semanas após ter conquistado o monte Everest, gostava tanto do vale de Engadine que não só terá financiado a construção do Panorama, onde tinha uma sala reservada, como terá conseguido que se criasse aqui um memorial depois da sua morte!


Alpina Hutte

Guardo o meu apetite para a Alpina Hütte. A meio caminho entre as plataformas de Piz Nair e de Corviglia, ela contradiz um pouco a ideia feita de que em St. Moritz tudo está pensado para que não se tenha de suar as estopinhas nas pistas. A pé, atinjo esta casa a muito custo e devo ser dos únicos na esplanada que não está devidamente equipado e com os esquis ou a prancha de snowboard pendurados à porta. A comida é excessivamente cara para a sua simplicidade, mas, num lugar onde até as cadeiras chegam de helicóptero, compreende-se e o panorama soberbo justifica-o.

5 comentários:

Luís F. disse...

Viajo sempre nas tuas crónicas… o problema é que fico sempre com vontade de largar tudo, pegar na trouxa e apanhar o primeiro avião para algures…

Custódia C. disse...

Eu cá por mim, também iria mais pelo aspecto mundano, até porque, pode-se sempre partir uma perna ou um braço a fazer ski .... :)

marta r disse...

O que é um prosecco?

(Ok, podes responder daqui a uns dias, já que agora deves andar noutras "temperaturas"...)

Suzi disse...

feliz retorno!!
aguardamos-te aqui também!

Luís F. disse...

Miguel,

BOM NATAL!!!