30.11.07

Golegã (3): passeios

Hotel Lusitano com estúdio de Carlos Relvas ao fundo

Mas nem tudo se resume ao Hotel Lusitano, afinal, convém não esquecê-lo, estamos em terra de cavalos. Animado pela possibilidade de vê-los no seu meio, saio da Golegã, em direcção ao Entroncamento, rumo à Quinta das Vendas. O caminho é curto e à chegada sou saudado pelo Luís Miguel, responsável pela boa forma física dos animais. Uma vez aqui, podem optar por um sem número de actividades, nas quais se incluem aulas e passeios, mas aproveito o à-vontade do meu anfitrião, que se trajou a rigor, para sairmos numa das charrettes mais antigas da quinta, puxados pela égua Roca. Decidimos ir até à Quinta da Cardiga, junto ao Tejo e a Vila Nova da Barquinha, mas para isso temos de atravessar uma estrada movimentada. A égua está nervosa. Apeio-me e ajudo a charrette a passar com segurança. Esta quinta, e as cruzes bordadas na pedra dos frontões à entrada não mentem, pertenceu à Ordem dos Templários e depois aos Freires de Cristo. O Palacete, com magnífico retábulo quinhentista de pedraria e torreões circulares, bem como os jardins, está fechado a cadeado, mas a área imensa à volta, pese embora um certo ar de abandono, pode ser livremente percorrida.

Com o sol a cair a pique, despeço-me de Luís Miguel e da égua Roca e deixo para a manhã seguinte uma visita à Quinta da Broa. Situada à entrada da Azinhaga, aquela que se diz “a aldeia mais portuguesa do Ribatejo” e partilha a campina com a sua vizinha Golegã, é quase impossível falhar a enorme casa branca, de porte aristocrático, que ladeia a estrada de terra batida até Mato de Miranda. Trata-se de propriedade privada, mas, como é hábito por aqui, o pesado portão de ferro está aberto de par em par e franqueia a entrada para um amplo pátio, rodeado de construções tingidas de matizes invernais. Os actuais donos da quinta, a família Veiga, bem conhecida nas lides tauromáquicas pela coudelaria que leva o seu ferro, estão habituados a que este conjunto de casas agrícolas, com destaque para o palácio velho (cujo interior está repleto de belos frescos restaurados, muitos dos quais alusivos à faina agrícola), desperte a curiosidade de nacionais e estrangeiros. Talvez por isso, na medida do razoável e dependendo da forma como é feita a abordagem, tentam honrar a tradição antiga, iniciada pelo fundador Rafael José da Cunha, de atender quem bate à porta ― com uma diferença: antes, as pessoas vinham pedir um naco de broa (esse costume acabou por determinar a toponímia da quinta); hoje chegam aqui atraídas pela sua história. Quem sabe, um dia, as casas outrora destinadas aos empregados, e agora quase todas vazias, se convertam num belo projecto turístico.

Luís Miguel a atrelar a égua Roca, Quinta das Vendas


Por ora, é também pela Azinhaga, que tem um núcleo de solares, ermidas e explorações agrícolas interessante, que se faz o acesso até à Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, em tempos refúgio da maior colónia de garças da Península Ibérica. Entre os rios Tejo e Almonda, a reserva estende-se por 529 hectares e encanta pelos seus maciços de salgueiros e freixos. Lamento não ter trazido uma bicicleta comigo, pelo que me contento em caminhar um pouco até ao seu interior, com charcos durante quase todo o ano, onde se encontra uma maior variedade de plantas aquáticas e caniçais. Infelizmente, a Primavera tarda, pelo que não avisto nenhuma das aves aquáticas selvagens (sobretudo da família das garças) que aqui nidificam.

Já de saída para Lisboa, olho para a paisagem calma que me cerca. O rio, o gado e os cavalos à solta nas pastagens, a planura dos campos férteis ― numa terra onde muitos têm ainda na agricultura, na pecuária e na exploração das florestas o seu principal sustento ― baralham quem veio da cidade grande e se resignou a ouvir falar deste modus vivendi como se estivesse ferido de morte. Muita coisa mudou. A Golegã e o Ribatejo não estão imunes à modernidade nem aos seus contratempos. Mas, como alguém me disse, os ribatejanos estão empenhados em que, pelo menos neste canto de Portugal, não se percam para sempre certos usos e costumes. Nós agradecemos.

COMO IR

Para quem vêm do Porto ou de Lisboa pela A1, deve entrar na A23 em Torres Novas/Abrantes e virar no Km 17, na direcção de Barquinha/Entroncamento. Depois é só continuar pelo IC3 até à Golegã.

ONDE FICAR

Hotel Lusitano – Rua Gil Vicente, 4, tel.: 249 979 170
Diárias a partir de €135 (consultar pacotes e promoções).

ONDE COMER
Num raio de 50 km existem inúmeros restaurantes afamados, pelo que é possível, com a ajuda do hotel se quiserem, organizar um roteiro gourmet.
Hotel Lusitano – Rua Gil Vicente, 4, tel.: 249 979 170
Preço médio da refeição: €35
O seu restaurante, com vista desafogada para o jardim, não tem paralelo nas redondezas.
Restaurante Lusitanus - Largo Marquês de Pombal, 25
Preço médio da refeição: €12
É um espaço cuidado, debruçado sobre o Largo da Feira, onde se pratica uma boa cozinha regional.
Café Central – Largo da Imaculada Conceição, 9-11
Preço médio da refeição: €13
Cozinha tradicional portuguesa com destaque para o Bife à Central.
Casita D’Avó - Rua Dom Afonso Henriques, 30
Preço Médio da refeição: €12
Pequena casa, sem luxos, mas muito procurada pela sua cozinha regional esmerada.

ONDE COMPRAR
Casa Connosco – Av. Dr. José Eduardo Victor das Neves, nº35, 1º, Lj. L, Entroncamento, tel.: 249 726 250
Muitos dos objectos usados na decoração do hotel podem ser adquiridos nesta loja de Teresa Matos.


Portal manuelino da Matriz, D.R.

O QUE FAZER
- Admirar a Igreja Matriz do século XVI, com um belo portal manuelino e painéis de azulejos do século XVII.

-
Passear de charrette até várias quintas das redondezas, como a Quinta da Cardiga ou a aristocrática Quinta da Broa.


Picadeiro do Centro Hípico Lusitanus, D.R.

- Andar de bicicleta pela Reserva Natural do Paúl do Boquilobo.
- Marcar umas lições no picadeiro do Centro Hípico Lusitanus, no Largo Marquês de Pombal, nº25.

Museu Municipal de Fotografia Carlos Relvas, D.R.

- Visitar o Museu Municipal de Fotografia Carlos Relvas, no Largo D. Manuel I. Carlos Relvas criou o primeiro estúdio fotográfico do mundo a ser construído de raiz.
- Mimem-se no Puro Spa, a funcionar no hotel (aberto a não hóspedes), com tratamentos a partir dos €40 (mínimo 30 minutos) e pacotes a partir dos €240 (mínimo seis sessões).

5 comentários:

Suzi disse...

E pensar que começo a suspeitar que a viagem de janeiro será adiada...

:o((

marta r disse...

Bem, o Museu de Fotografia é fabuloso! Tenho que espreitá-lo, um destes dias....

Custódia C. disse...

Assim, de repente, como diz a M, fiquei com vontade de fazer um desvio, no caminho para Viseu :)
Bom fds Miguel

Luís F. disse...

Ora aqui está o roteiro completo! Muito bem! O Museu de Fotografia também me deixou impressionado, é fantástico!

Bom Fim-de-Semana!

Anónimo disse...

Não se trata de um museu de fotografia, mas antes de uma casa-estúdio. O edifício vale pelo facto de ter sido construído para funcionar como estúdio fotográfico. No seu interior podemos visitar os laboratórios, os cenários, as máquinas, e conhecer um pouco a vida e obra de Carlos Relvas. E é de facto uma visita fantástica!