7.1.08

Rio: Introdução

Estrada do Joá, Rio de Janeiro, foto de JMS


“Rio 40 graus / Cidade maravilha / Purgatório da beleza / E do caos...” (Rio 40 Graus, Fernanda Abreu). O rigor, e a minha boa consciência, obriga-me a começar esta série de posts sobre o Rio de Janeiro com um relato muito pessoal. Durante a minha última viagem, em Dezembro de 2007, fui finalmente vítima de um percalço infeliz. E não escrevo este “finalmente” com a mínima ponta de ironia, pois, nos muitos anos em que tenho visitado a cidade, nunca me comportei, por um minuto que seja, como se aguardasse o pior a qualquer instante.

Muito pelo contrário, do Rio, eu sempre esperei, e espero, o melhor. Mas aconteceu; num belo dia, à porta de um hotel cinco estrelas, onde era suposto não ter de me preocupar com mais nada, distrai-me por uma fracção de segundos e um taxista menos escrupuloso aproveitou para se escapulir com a minha mala. Fiquei, literalmente, com a roupa do corpo e com aquele amargo de boca de ser obrigado a ouvir, de amigos e familiares, um “finalmente”, desta vez sim, carregado de fina ironia. Mas não me dou por vencido. É claro que me enfureci ― e enfureci-me, sobretudo, pelo sentimento de impotência e de impunidade que sentimos num quase encolher de ombros generalizado e na falta de empenho das autoridades policiais, a quem faltam meios, formação e salários mais justos para fazerem a diferença ―, o que não apaga, todavia, tudo de bom que o Rio já me deu e, estou certo, me vai continuar a proporcionar.

Logo, desengane-se quem julgou ir ler um retrato ressentido do Rio de Janeiro. Seguir-se-ão antes vários relatos assumidamente pessoais, mas ainda assim com o devido distanciamento e espírito crítico, de alguém que quer passar a seguinte mensagem aos que sempre desejaram ir ao Rio, mas ainda não tiveram coragem: acidentes podem acontecer, ninguém está livre disso, mas é apenas uma probabilidade ínfima. Garantido mesmo é que ao chegarem ali, aposto, vão surpreender-se com cenários e situações que se tornaram clichés de tão repetidos em cartões postais, mas que, quando testemunhados ao vivo e a cores, nos emocionam. De quantos lugares do mundo podem dizer a mesma coisa?

3 comentários:

Suzi disse...

Bem, um misto de vergonha e tristeza tomou conta do meu coração quando recebi a notícia. E tu soubeste retratar, Miguel, o exato sentimento que nos aflige: impotência e impunidade.
Não tenho nada a acrescentar às tuas palavras. Mas devo dozer que para quem estava só com a roupa do corpo, até que estavas bem bonitinho, ali pelo Viena.
:o))

p.s.
como um presente, colocaste hoje a foto de uma das mais lindas vistas do Rio (sob o meu ponto de vista, ao menos). Eu amo fazer meu percurso para o trabalho pelo Joá, só pra ver esse marzão imeeeenso, que é lindo em dias de sol e emocionantemente melancólico em dias chuvosos.
amei!

marta r disse...

Ao Rio, perdoa-se tudo, não é?

Luís F. disse...

São coisas que acontecem... é desagradável, mas, como dizes, há que seguir em frente...
Cá esperamos o restante relato…

Bom Ano Miguel!