9.1.08

Rio: Lagoa, J. Botânico e Gávea

Vista geral da Lagoa Rodrigo de Freitas, D.R.


“O Rio de Janeiro continua lindo / O Rio de Janeiro continua sendo / O Rio de Janeiro, Fevereiro e Março” (Aquele Abraço, Gilberto Gil). Uma lagoa rodeada por prédios e morros. O céu de fim de tarde não chega a ficar incandescente, mas a magia não sai beliscada. Coloco de parte o cocktail de álcool e frutas amazónicas, demasiado adocicado, e ajeito-me numa das cadeiras alfresco do Kanta Galo (Av. Epitácio Pessoa, s/nº, Parque do Cantagalo) para melhor desfrutar o cenário. A minha preguiça nem sequer destoa da energia comedida com que a grande maioria, e são muitos àquela hora, se exercita e passeia nos oito quilómetros que rodeiam a Lagoa Rodrigo de Freitas.

Os parques vizinhos dos Patins e das Catacumbas foram os pioneiros, no final dos anos 90, a inaugurar a tradição dos quiosques com cozinhas de vários pontos de mundo, mas o Kanta Galo, o irmão mais novo do exótico ― e, a meu ver, mais conseguido ― Palaphita Kitch, pertence a uma geração mais recente de quiosques que vieram dinamizar o Parque do Cantagalo, às margens da Lagoa, entre o final do dia e a madrugada.

Mas nem tudo é tão idílico como parece à primeira vista. A meio caminho entre Ipanema e Leblon, a lagoa, ligada ao mar pelo canal do Jardim de Alah, padece ainda com a poluição, mas tem vindo a melhorar e está mais arborizada e cuidada. O trânsito intenso à sua volta também está longe de ser um bálsamo em hora de ponta, até porque é um eixo de circulação entre vários bairros da Zona Sul.


Alameda das palmeiras imperiais, J. Botânico, D.R.


É o caso do Jardim Botânico. Este bairro-jardim, um dos mais procurados por quem troca a proximidade às praias por um maior recato, cresceu em torno de um ícone da cidade (o parque comemora, juntamente com a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, o seu bicentenário em 2008), mas sem dúvida que o facto de albergar a sede da TV Globo contribuiu, e muito, para que, aos poucos, este se esteja a tornar um verdadeiro fenómeno gastronómico ― não é à toa que sucessos de São Paulo, como a Pizzaria Braz (R. Maria Angélica, 129) e Nakombi (R. Maria Angélica, 183-5), escolheram o Jardim Botânico para abrir as suas filiais cariocas.


Claude Troisgros, D.R.


Sem contar que continuam aqui dois dos chefes mais premiados dos últimos tempos: Claude Troisgros e Roberta Sudbrack (R. Lineu de Paula Machado, 916). O primeiro é um francês há muito radicado no Rio, mas não há meio de perder o forte sotaque. Reabriu, em finais de 2003, o seu antigo restaurante, o Olympe (R. Custódio Serrão, 62), e, desde então, não pára de arrecadar todos os prémios mais prestigiados para a sua cozinha francesa com um toque brasileiro. A segunda é agora uma confirmação em matéria de cozinha contemporânea e veio directa do Palácio da Alvorada, onde cozinhou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os comensais, que podem também participar em aulas semanais, sentam-se numa mesa comum e pagam cerca de 60 euros à cabeça para provar as suas criações, aparentemente simples, mas muito sofisticadas. Mais acessível é o seu café, no segundo piso da loja multimarca Dona Coisa (R. Lopes Quintas, 153), também no Jardim Botânico.



Aula culinária de Roberta Sudbrack (de óculos e rolo na mão), D.R.


Se forem durante o dia à vizinha Gávea, vão sair daqui com a impressão de que não é muito diferente, a não ser nas ladeiras, mais longas e íngremes. É provável ainda que voltem rendidos aos encantos do Parque da Cidade, do Instituto Moreira Salles (R. Marquês de S. Vicente, 476), um centro cultural com cinema, salas de exposições fotográficas, livraria e café à beira da piscina, e que se embasbaquem com as casas, no meio de um verde pujante, cujos terraços soalheiros apontam para o Corcovado.



Só que o Baixo Gávea, sobretudo ao redor da Praça Santos Dumont, se transfigura mal tomba o lusco-fusco. Se for então num domingo à noite, preparem-se para ter de abrir caminho por entre a multidão de jovens e para esperar por mesa no restaurante mais disputado do pedaço: o Braseiro da Gávea (nº 116, na foto). E o que tem de tão especial? Bem, a carne, sobretudo a picanha, é farta, o chope é gelado, mas a verdadeira explicação para o entra e sai constante está por cima do mictório, onde se pode ler: “Parabéns, você entra solteiro e sai namorando”. Surpresa só mesmo para quem chega aqui desavisado e ignora que o Braseiro, em particular, e o Baixo Gávea, em geral, são conhecidos como “o” ponto para flirtar e lançar olhares cheios de boas intenções.

4 comentários:

Luís F. disse...

Essa inscrição por cima do mictório é bem sugestiva….

:)

Suzi disse...

volto, ainda, 'tá bom?
há muito o que ver e ler, por aqui, desde ontem.
'té mais.
;o)

marta r disse...

Apetecia-me horrores dar um passeio agora pela Lagoa Rodrigo de Freitas... e terminá-lo com uma picanha nesse tal "Braseiro do Gávea".

Suzi disse...

- A mortandade de peixes que, volta e meia, assola a lagoa há muito não se repete, graças a deus e ao trabalho (lento, vagaroso e menor do que o ideal) de despoluição. Mas, vamos combinar: sentar-se ali, num dos quiosques, ou num pier, e ficar mirando o Cristo, numa noite estrelada, é TU-DO!!!

- o Jardim Botânico (o parque), acima de tudo, é um lugar de paz, onde você mergulha na natureza e sai encantado. E ali ao lado, ainda, o Parque Lage, outro recanto de paz. Fora isso, o blá-bláblá dos "Globais" especialmente da parte jornalística, com quem você tromba, na rua, se estiver nas proximidades da TV.

- E o Baixo Gávea, você traduziu bem: é "o point". Simples assim. rs*

Quando é que a "nossa turma" vai se reunir para curtir tudo isso, hein, Miguel, Martinha, Custódia e Luís F.??