29.12.06

A Não Perder (2)

(Babel, de Brueghel, direitos reservados)

Acho que já deu para perceber que entendo o acto de viajar em sentido lato, não em sentido estrito. Assim sendo, não vão estranhar que fale aqui de Babel, em exibição desde ontem, como uma tremenda viagem. Aquele que é, seguramente, um dos filmes do ano e um dos mais sérios candidatos a arrebanhar os mais importantes galardões de cinema, tem a assinatura de Alejandro González Iñárritu. O primeiro filme que vi deste realizador mexicano foi o Amores Perros (Amores Brutos em português), um tremendo soco no estômago. Seguiu-se 21 gramas e agora este Babel, para fechar com chave de ouro a sua “trilogia da dor”.
E se falo em viagem é porque há muitas formas de viajar. Neste filme, para começar, estamos perante uma equipa multicultural, um elenco plurinacional
onde se destacam Brad Pitt, Gael Garcia Bernal (lembram-se dele em O Crime do Padre Amaro, versão mexicana?) e Cate Blanchett , que filmou em quatro línguas, em três continentes, e em quatro países (Marrocos, E.U.A., México e Japão). As rodagens duraram mais de um ano e o título Babel não foi escolhido ao acaso: o filme fala de relações humanas, de (in)comunicabilidade; parte daquilo que nos separa para chegar àquilo que, línguas, credos, latitudes, cor da pele e cultura à parte, nos une.
E se já houve um tempo em que todos falávamos a mesma língua, em que nos entendíamos, aqui o fio condutor a todos é a dor. Um tiro no deserto marroquino altera a vida de um casal americano e esse facto acaba por ter repercussões em três outras famílias em pontos diferentes do globo. Quatro estórias pessoais cruzadas, com a mestria habitual de Iñárritu
. É tudo muito real, muito cru. Da paisagem (da aridez do deserto marroquino às vertigens de Tóquio) às emoções dos actores, sem esquecer a música, tão intensa que nos chega a deixar pregados à cadeira.


(Alejandro González Iñárritu, à dir., com parte do elenco, direitos reservados)


O que diz João Lopes, crítico de cinema:
«Grande filme
é o novo de Alejandro Gonzalez Iñárritu: "Babel", um cruzamento de histórias — de novo com a colaboração do fiel argumentista Guillermo Arriaga — em que, de Marrocos aos EUA, do México ao Japão, descobrimos uma teia de histórias que, por assim dizer, traçam o mapa de uma interactividade afectiva, porventura fundamental para compreendermos o mundo de hoje. Com um elenco brilhante — incluindo Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal —, é também um filme que nos recoloca face a um drama eminentemente contemporâneo: a decomposição das relações pais/filhos. Ou ainda: o abalo interior de todas as hierarquias familiares. Para ver e rever.» (Cannes 2006)

5 comentários:

Custódia C. disse...

Lá teremos que ir ver Babel, pois então :)
Logo eu que sempre achei um encanto especial a essa Lenda que é a Torre de Babel!

Luís F disse...

Estou a morrer de curiosidade para ver este filme... não só pelo realizador mas também pela Cate Blanchett que é simplesmente fantástica!!!

Bom Ano Miguel!!!!

marta r disse...

Andava um bocado balançada em relação a este filme: não gostei particularmente de '21 gramas' mas o rapaz Gael não me deixa indiferente (adorei vê-lo como Che Guevara.
Mas acho que vou ver mesmo.

FELIZ 2007, Miguelito!

Suzi disse...

Uma vergonha, o tanto de tempo que não vou ao cinema...


.......
E Gael Garcia não é aquele Che de maravilhosa interpretação, no "Diários de Motocicleta"? Já vale o ingresso.

Anónimo disse...

Suzi:
Acho que a Martinha já respondeu à tua questão. Vão pelo Gael, mas olhem que vão surpreender-se com todo o elenco. Até mesmo as estrelas Brad Pitt e Cate Blanchett não brilham mais do que os outros. Eu gostei mesmo muito.
Marta:
Eu gostei muito do Amores Perros, pela novidade que trouxe, mas acho que este Babel é mesmo a cereja em cima do bolo na trilogia.