12.11.07

Viena (1): cafés

Estou sentado num confortável sofá do Phil (Gumpendorferstrasse, 10-12), entretido a bebericar um cremoso café latte e a observar tudo à minha volta; dois hábitos de que não abro mão quando vou a um café e me deixo ficar ali, sem pressas. E pressa é algo que a etiqueta dos cafés vienenses não prescreve, pois podem muito bem dar-se ao luxo de cobrar quase três euros por um simples cappuccino ― que virá sempre, como é da praxe, acompanhado de um copo de água ―, mas, em compensação, ficarão o tempo que entenderem a ler jornais e revistas, a conversar ou, simplesmente, a ver a vida passar, como eu. Ninguém levará a mal e os vienenses, que há muito fazem valer essa prerrogativa, continuam a usar os seus cafés como ponto de encontro. Alguém disse um dia que “mais do que para ler um livro, os cafés de Viena são perfeitos para se escrever um”. Concordo, sobretudo agora que a maioria faculta Internet sem fios de graça, o que dá muito jeito a quem anda sempre com o laptop atrás.
O Phil pertence a uma nova geração de cafés, que fazem também as vezes de
showroom ― tudo ali está a venda, desde os livros e CD’s às poltronas onde nos sentamos ou as mesas onde pousamos a chávena ―, talvez por isso o ambiente seja mais descontraído e informal do que em cafés mais conservadores, mas respeita a tradição de, mais do que apenas vender café e refeições ligeiras, proporcionar igualmente uma programação cultural que pode ir da presença de DJ’s convidados a exposições de fotografia ou projecção de filmes. Com tanto por onde escolher, o difícil será não encontrarem um à vossa medida, mas entre os cafés “históricos”, que são muitos, destaco o Central, pela sua elegância, o Landtmann, o preferido de Freud e por continuar hoje a ter uma frequência muito cool, o Kleines, que pertence ao actor Hanno Pöschl, o Sperl, pelos seus strudels quentes, e o Hawelka, com uma estória deliciosa: durante anos, a sua proprietária foi a responsável por muitos “arranjinhos”, pois tinha por hábito sentar estranhos
à mesma mesa e ninguém se atrevia a contrariá-la!

3 comentários:

Custódia C. disse...

Que boa vida vienense!
À falta de um café simpático,vou deixar a secretária por uns minutos e vou ali ao lado ao bar da faculdade, para ver se encontro um strudel para me animar :)
Fico à espera da próxima crónica!

Luís F. disse...

Essa do strudel...

Gosto desse conceito do café como ponto de encontro e mescla de actividades… bem convidativo…

Mas o strudel, o strudel….

Suzi disse...

então, de repente, de súbito, uma pontinha de inveja espetou meu coração...

(chávena - quando ía perguntar o que era mesmo, lembrei que é a nossa "xícara", não é isso?)