18.4.07

Na pele do lobo

Eu sei que a estória já anda a ser contada há demasiado tempo. Reconheço até que a estória, de tão repetida nos ínfimos detalhes, já cansa. Eu, pelo menos, estava decidido a deitá-la para trás das costas. Mas não deixam. A menos que eu queira dar uma de alienado e prefira reter-me no nosso primeiro-ministro a cumprir o seu papel institucional em Marrocos ― posso sempre também dizer: olha que giro, já estive ao pé daquelas muralhas rosa (ou serão salmão?) de Marraquexe!

Acontece que a estória está mal contada. Acontece que, por mais que me esteja a borrifar se José Sócrates é ou não engenheiro e ache que o país tem coisas bem mais urgentes para discutir, há coisas a mais a não baterem certo. Afinal, a revelação do dossier-bomba de ontem foi adiada para hoje. Pode ser que a montanha acabe por parir um rato. Não será a primeira vez.

Mas digam-me uma coisa, vocês que, tal como eu, estudaram numa universidade (pública, privada, não interessa), lembram-se alguma vez de ter entregue uma prova (de inglês técnico ou de outra coisa qualquer, tanto faz) não no local onde decorreu a dita prova, mas de a enviar mais tarde, directamente para o reitor da universidade, devidamente acompanhada de um cartão com o timbre de um gabinete de Secretaria de Estado? É a velha questão: à mulher de César não basta ser honesta, ela tem também de provar que é honesta.

Se José Sócrates não queria estar envolvido neste lodaçal de suspeitas, nada mais simples do que se ter comportado como um estudante comum de engenharia. Acontece que José Sócrates não se comportou como um estudante igual aos outros. Porque aos outros estudantes, estou certo, não foi permitido fazer uma prova em casa (sabe-se lá recorrendo a que ajudas externas), nem enviá-la mais tarde, deixando clara a sua função enquanto secretário de Estado. Nada me move contra Sócrates, até o respeito tirando uma questão ou outra com a qual não concordo (o novo aeroporto, o TGV…), mas se ele não queria ser lobo, bastava-lhe não ter vestido a pele. Tão simples como isto.


5 comentários:

Suzi disse...

Quem não é fiel no pouco não há de ser fiel no muito...

Mesmo acompanhando o desenrolar dessa história apenas por aqui e de longe, concordo que é preciso, além de ser honesto, parecer honesto.

(morta de sono... beijos de boa noite e de boa madrugada)

Zorze Zorzinelis disse...

Meu caro Miguel; acredita que pelo facto de eu ter estudado na Universidade Independente, a qual sempre teve todos os recursos necessários (em Comunicação Social penso que era uma das melhores!)- tinha, inclusivamente, protocolos com o CENJOR, fico desolada com o destino da mesma. Mais do que pelo facto do Exmo. Sr. Primeiro-Ministro Eng. José Sócrates fazer exames de Inglês Técnico em casa e devidamente acompanhado de um cartão de Governo (dá para acreditar?), a Independente fechar causa-me grande tristeza. Afinal de contas, gostei muito da minha estada por lá durante 4 anos. Questione-se o Sócrates, mas nunca a qualidade do curso de Com. Social que a universidade albergava! Abraço, Miguel! Gosto muito do novo formato do teu blog!

Miguel S. disse...

Percebo a tua indignação... A tua e de todos os que já passaram por lá. Abraço, Zorze.

marta r disse...

Eu já passei pela fase da surpresa e pela da indiferença em relação a este tema. Agora estou na fase em que só me apetece rir desalmadamente.
Os dados que vão aparecendo - como este último do texto de Inglês que vale uma cadeira universitária - só me levam a pensar quantos alunos deste país não serão "licenciados à pressão" por "instituições à pressão".

Custódia C. disse...

É tão fácil cair na tentação!
Mas faz-me muita confusão, como é que figuras públicas (tão públicas)se envolvem em embrulhadas destas ...