16.2.07

Diários de São Paulo (2)

(A Casa dos Budas Ditosos, direitos reservados)


Fiquei de voltar aqui para contar como foi a peça A Casa dos Budas Ditosos, um texto de João Ubaldo Ribeiro com adaptação de Domingos de Oliveira, protagonizada por Fernandinha Torres. Imagino que muita gente já a tenha visto desde que estreou, em finais de 2003, mas eu não tive oportunidade quando da sua curta temporada em Lisboa. Casa cheia numa terça à noite, no Teatro Cultura Artística, ao Centro, para prestigiar uma actriz que não precisa de ser apenas conhecida como "a filha de" (Fernanda Montenegro) e arrebatou o prémio Shell por esta sua interpretação primorosa. Sozinha em palco, sem grandes artifícios, ela dá, do princípio ao fim, um show de boa representação. E nem damos pelos 90 minutos passarem. O texto é muito picante, quase a raiar o hardcore, mas não ofende nem confrange. Fernandinha encarna uma baiana "arretada" de 68 anos, que narra, sem falsos pudores e sempre com muito humor, a sua vida sexual libertina. Saímos de lá de alma lavada.


(Tigela de açai, direitos reservados)


A comida, como não podia deixar de ser, continua a ocupar um lugar de destaque neste meu roteiro por Sampa. Um destes dias, e graças a uma dica da Tatiana, que se dispôs, pacientemente, a mostrar-nos algumas lojas de criadores brasileiros nos Jardins, fiz um lanche muito simples que valeu por um manjar: uma tigela de açai gelado (uma fruta da Amazónia conhecida pelo seu valor energético) com rodelas de banana e cereais crocantes por cima. Uma delícia! Para os paulistanos que me estão a ler, o mapa da mina fica na esquina da Oscar Freire com a Rua Augusta (Vó Sinhá Café, rua Augusta, 2724).
Aliás, comer bem em São Paulo é muito fácil, tal é a variedade e quantidade de restaurantes por metro quadrado, mas já fazê-lo a preços razoáveis são outros quinhentos. Vai dai, e aproveitando que não estava longe do bairro do Paraíso, fui experimentar um restaurante siro-libanês, A Tenda do Nilo (R. Oscar Porto, 638, aberto para almoço de seg. a sáb.), de que ouvi falar muito bem (também pela relação qualidade-preço). É um espaço acanhado, desprovido de glamour, mas, em compensação, o acolhimento da Olinda e da Xmune (duas irmãs) é tão caloroso e a comida tão saborosa, que quando saí de lá já queriam que levasse o seu kibe premiado embrulhado para o hotel, pois à refeição tinha provado a carne de costela desfiada com trigo. Adoram os portugueses, pois têm clientes lusos que trabalham ali perto, e tratam toda a gente por habib (querido). Lamento que em Portugal, um país com herança árabe, haja tão poucos restaurantes deste tipo de comida (então de tradição libanesa ou síria, nem vê-los).

A viagem está quase a terminar. Os paulistanos fizeram-se à estrada, dispostos a enfrentar longas horas de trânsito, para passar as miniférias de Carnaval na praia ou na serra. Mesmo numa cidade que se gaba de trabalhar a sério, o facto é que quase tudo pára e os compromissos ficam adiados para depois. A maioria só regressa ao batente depois da Quarta-feira de Cinzas.

3 comentários:

marta r disse...

Esta imagem do tal açai é de deixar água na boca. Hummmmmm....
Gostava tanto de ver a peça da Fernanda!

Anónimo disse...

Foi uma descoberta, Marta, é o que te digo. Com direito a entrar naquela lista de coisas boas de que sinto falta e que publiquei aqui há uns tempos.

Custódia C. disse...

Habib Miguel, coisa boa esta de ler os teus relatos ...