26.1.07

Água para que te quero!

(Direitos reservados)


Da próxima vez que pedir água à refeição, vou pensar duas vezes. Bom, se calhar até não vou, mas, uma coisa vos garanto, vou a passar a enxergar a água com outros olhos. Serve isto para dizer que num destes dias fui convidado pela Maison de la France ― pela região de Rhône-Alpes, se quiser ser mais exacto ― para uma degustação de águas… Estranhei o convite, mas, na dúvida, resolvi ir conferir.
Antes que se apressem a tirar conclusões precipitadas, esclareço: não sendo eu um perito na matéria, ainda chego a distinguir a água da torneira de água mineral, a saber se o gás é natural ou induzido ou até a estabelecer as minhas preferências em matéria de marcas, proveniências e paladar (mais salgado ou doce consoante as ocasiões). Mas fico-me por aqui. É claro que já tinha ouvido falar de alguns bares de águas ― um dos pioneiros surgiu no célebre armazém Colette, em Paris, com mais de cem variedades ―, mas, confesso, curiosidade à parte, nunca me predispus a gastar um bom dinheiro para ir “apenas” beber água.
Introduzido o tema, devo dizer-vos que os franceses sabem, de facto, vender uma ideia. Como se de vinhos se tratasse, deram-nos a provar várias águas da região em copos próprios de pé alto, que pudemos apreciar pela densidade (podem ser mais ou menos encorpadas), pela tonalidade contra um fundo branco (e oui, as águas têm tonalidades diferentes) e saborear. Mentir-vos-ia se dissesse que fui capaz de ir além do salgado e doce, do metálico ou apimentado, mas o certo é que um palato treinado, tal como nos vinhos, consegue efectivamente distinguir todas as nuances de uma água. E assim aprendi (mais) uma lição: existem águas boas como aperitivo (normalmente as mais aromáticas, que podem substituir o vinho branco), outras que vão bem com saladas (as que possuem um ligeiro sabor acidulado, com um toque alimonado), outras que casam com pratos muito condimentados (ai é bom que deixem uma certa efervescência na boca), outras para molhos (caso da famosa Evian, conhecida por ter um gosto salgado e adstringente), outras que vão bem com peixe (convém que sejam salgadas e ligeiramente efervescentes), outras para acompanhar queijos (aqui têm mesmo de ser adstringentes) ou sobremesas (águas doces e suaves), e ainda as que fazem as vezes de digestivos (fortemente efervescentes e de paladar fresco, o que ajuda a limpar, não a eliminar okay?, a gordura e a refrescar a boca). Para muitos, estou certo, tudo isto pode parecer uma tremenda frescura, mas eu, que fui cheio de dúvidas, gostei. Depois, parece-me uma óptima alternativa para quem não quer ou pode beber álcool, mas ainda assim deseja tirar o máximo partido do que está a comer e a beber.

7 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com você. Pode ser uma grande viagem, esta de degustar águas e harmonizá-las com pratos. Não só pra quem não pode beber, como pra quem quer descobrir outros sabores e exercitar suas papilas gustativas. Boa dica!

marta r disse...

Tenho que experimentar uma "prova" destas. Seria útil para mim, que mal encontro diferenças entre a água da torneira e a mineral...

Suzi disse...

U-au! Só li o primeiro parágrafo.
Ainda não li o texto na íntegra.
Mas há uma água salgada ali me chamando. Vou mergulhar nela, um pouquinho, aproveitando que há sol no meu país...
Na volta eu te leio todo e comento direitinho, tá bom?
Vim pra te desejar um bom dia, e, é claro, ver se tinhas cumprido a promessa de estar aqui de manhã.
Homem de palavra!
Muito bem!
;o)

Beijo, Miguelito!

Anónimo disse...

Foi o que eu achei, Roberta. Viver e aprender.

Marta, tudo na vida pode ser exercitado. Até as papilas gustativas!

Bons banhos de mar, Suzi! Por cá estamos a viver um dos dias mais frios de sempre (mas sem neve).

Zorze Zorzinelis disse...

Aproveito o intervalo para te ler; deixa-me que te diga, embora eu seja um bajulador com os bloggers que realmente gosto de ler, este texto está magnífico! Não sabia que a água casava com diferentes propostas culinárias e que havia bares de água!? Achei muito interessante a ideia, todavia, meu caríssimo Miguel, não estou (ainda!) convencido.

Bom texto, muito bem! Abraço, amigo.

Custódia C. disse...

Ah Miguelito!
Sabes que eu gosto imenso de água e regra geral o pessoal goza comigo quando assinalo a diferença entre as águas? Gosto imenso de umas e detesto outras!
Finalmente alguém que me entende!
Mais um belo texto!

Suzi disse...

Simplesmente a-do-rei a idéia!!
Estou aqui, imaginando tudo o que descreveste.
Genial!



p.s. a água salgada do mar estava ótima!
;o)