11.1.07

À boleia do Casino Royale (4)

No quarto post dedicado às locações da mais recente aventura de James Bond, Casino Royale, vou-me hoje concentrar na acção que decorre entre o Uganda, Madagáscar e Baamas. Para vos situar melhor, recordo um pouco da trama. James Bond vai até ao Uganda, a um campo de rebeldes, onde o vilão Mr. White apresenta Le Chiffre a Steven Obanno. Bond apercebe-se do tipo de operações em que estão envolvidos. Segue depois para Madagáscar atrás de um perito internacional no fabrico de bombas, que, após uma rocambolesca perseguição (curiosidade: a ginga utilizada pelo fabricante de bombas tem o nome de Parkour, e o actor que fez de Mollaka é um dos seus divulgadores), acaba por matar na Embaixada de Nambutu. Só que para escapar, Bond vê-se obrigado a explodir parte da embaixada, o que tem uma repercussão imediata nos media e coloca em cheque os serviços secretos britânicos. M. fica furiosa com Bond e retira-o do caso. Ele age por conta própria e vai para as Baamas, mas não a férias como todos julgam.


(Campo de rebeldes no "Uganda", Inglaterra, direitos reservados)


(Cena de perseguição num mercado de "Madagáscar, Baamas, direitos reservados)


Passemos então aos locais das filmagens. O campo de rebeldes do Uganda, longe de ter sido filmado neste país africano, foi simulado, imaginem, em Black Park, Iver Heath, Buckinghamshire, na Inglaterra. Desenganem-se também em relação a Madagáscar. A equipa não teve sorte nenhuma em viajar até ali e as gravações decorreram igualmente nas Baamas. Da cena do mercado em que Bond vigia o bombista Mollaka, durante um espectáculo popular com luta de cobras, até à incrível perseguição pelo prédio em construção (na foto), tudo foi gravado nas Baamas. Trata-se, aliás, do Coral Harbour, na ilha de New Providence, um hotel cujas construções foram abandonadas há 30 anos e que já serviu até de cenário noutras produções de James Bond. Actualmente, o sítio faz parte de uma base militar local, a Royal Bahamas Defence Force. Já o interior da Embaixada destruída foi simulado nos estúdios de Praga, na República Checa, mas os exteriores ficaram por conta do restaurante e do hotel Buena Vista, em Nassau.


(Cena da chegada de Bond à ilha Paradise, Baamas, direitos reservados)


(Ocean Club, Baamas, direitos reservados)


À revelia de M., James Bond vai para as Baamas no encalço da organização de Le Chiffre. Como sempre, depois de aterrar em Nassau, a capital, ele chega à ilha de Paradise em grande estilo, a bordo de um hidroavião e, mais tarde, vê-se Bond a dirigir um fabuloso 2007 Ford Mondeo (como se tratava de um protótipo, já que a Ford ainda não lançou o modelo para comercialização, foi enviado em grande segredo para as Baamas) pela costa até chegar a um resort que no filme aparece como Ocean Club (curiosidade: o número da matrícula do carro que ele amachuca de propósito no parque do hotel é 161138). Não fugiram à verdade, trata-se, com efeito, do One & Only Ocean Club, um dos melhores, senão mesmo o mais luxuoso de todo o arquipélago (espreitem aqui).


(Cena do Casino Royale no Ocean Club, Baamas, direitos reservados)


(Eva Green e Daniel Graig em Casino Royale, Baamas, direitos reservados)


É no Ocean Club que Bond estabelece a sua base e trava conhecimento com o mafioso Dimitrios e a sua mulher, a fogosa Solange com quem Bond tem um breve envolvimento (à conta do qual ela aparece morta mais tarde). A maioria das cenas, inclusive um encontro posterior com M., foi gravada no resort, mas o interior do iate de Le Chiffre, por exemplo, foi simulado nos estúdios de Barrandov e Modrany, em Praga, e a fabulosa casa de Dimitrios frente à praia, a que se vê na cena em que Bond sai da água esmeralda para ver Solange cavalgar na praia (na foto), é The Albany Estate, na costa ocidental da ilha de New Providence. Foi também nas Baamas que filmaram as cenas em que se vê Daneil Craig e Eva Green num romântico banho de mar.


(Mausoléu Vitkov, no planalto, República Checa, direitos reservados)


(Corpo exibido na exposição Body World, direitos reservados)


Uma das cenas mais sinistras do Casino Royale, quase a raiar o surreal, é aquela em que James Bond, uma vez em Miami, segue Dimitrios até ao interior de um museu onde decorre a exposição Body World. Pois bem, a cena não decorre num museu de Miami, mas usa como exteriores o Ministério de Transportes de Praga e como interior o mausoléu Vitkov. E onde fica este mausoléu de mármore? No topo de uma colina, já nos limites da capital checa, e serviu durante anos para guardar as cinzas de altos funcionários do Partido Comunista, tendo chegado ao ponto de exibir, como aconteceu com Lenine, o corpo embalsamado de um presidente checo. Dado o antigo uso do Vitkov, não é de estranhar que apareça associado no filme à exposição real de corpos preservados do não menos sinistro Professor Gunther von Hagen. É uma exposição que tem corrido mundo, sempre envolta em grande controvérsia, pois Gunther (na foto acima) usou os cadáveres preservados de voluntários (a sua aparência é plastificada) para lhes retirar a pele e exibir o que ela esconde (deixando a nu músculos, veias, órgãos, etc…).


(Cena do Casino Royale gravada no aeródromo de Surrey, Inglaterra, direitos reservados)


(Aeroporto Internacional de Praga, direitos reservados)



Uma das sequências que mais se enquadra naquilo que se espera de um James Bond, ou seja perseguições insanas e proezas só possíveis com muito engenho e trabalho de produção, é aquela que decorre supostamente no Aeroporto de Miami. Já perceberam, uma vez mais pelo “supostamente”, que os terminais que se vêem no ecrã não são do Aeroporto Internacional de Miami, mas sim os de… Praga, na República Checa, e de Nassau, nas Baamas. Já a pista de descolagem foi simulada no aeródromo de Dunsfold Park, em Surrey, Inglaterra. Daniel Craig/James Bond vai ali em perseguição do bandido Carlos, um dos homens de Le Chiffre, e deita a perder o plano do vilão para explodir o Airbus (na realidade é um Airbus A340-600 da Virgin Atlantic) de uma das companhias que este queria prejudicar (essa perda de Le Chiffre vai dar origem depois ao torneio no casino para “angariar” fundos). Curiosidades: um dos trabalhadores do aeroporto que morre é o próprio realizador Martin Campbell, que não resistiu a fazer uma graça; os únicos aviões que aparecem no filme com a marca correcta são os da Virgin Atlantic Airways e da CSA Czech Airlines, todos os outros apresentam nomes de companhias fictícias; aliás, Richard Branson (na foto acima), o magnata da Virgin de que já falei neste blogue a propósito de uma ilha privada nas Caraíbas, foi outro dos que não resistiu a fazer uma “perninha” no filme e aparece, no momento em que o avião descola, a passar no detector de metais no aeroporto.


Ler mais:
Casino Royale em Karlovy Vary
Casino Royale em Veneza
Casino Royale no Lago Como
Vesper Martini

6 comentários:

marta r disse...

Bem, agora fiquei contente por saber que pelo menos o One and Only Ocean Club é real...

(Aquela exposição em Miami, a tal "Body World" é horrorosa!)

Custódia C. disse...

As coisas de que te lembras a pretexto de Bond!
Já tinha lido sobre a exposição desse Gunther von Hagens, que acho grotesca e não me agrada nem um bocadinho!
Quanto ao resto, um manancial de boa informação :)

Anónimo disse...

Marta e CCC:
Também eu acho grotesco e fiquei muito curioso quando a vi no filme, a pretexto de nada. Mas não podia deixar de fora. Ainda em Dezembro, esta exposição foi para um importante museu em Boston, se não me engano, como se pode ver no link. E enche sempre... Há gosto para tudo.

Suzi disse...

Quero crer que não dissecas (não no sentido daquela exposição horrorosa... rs) assim cada filme que vês... Isto é prazeroso e uma festa para quem te lê, mas deve dar um trabalho "do cão" para anotar!
;o)

Mais uma vez belo textos e belíssimas imagens, ou vice-versa.

Anónimo disse...

Não, Suzi, não sou maluco a esse ponto... Gosto de assistir como espectador. Fui ver este filme um pouco por acaso, como já expliquei aqui, e o que sempre me interessou nos Bonds, mais do que as piruetas ou os "brinquedos", são mesmo os sítios por onde ele passa (uma gravíssima deformação profissional). Meti-me nisto dos posts sem pensar muito no trabalho que me ia dar. Amanhã termina e, independentemente, se houve pouca ou muita gente a ler, eu cumpro uma missão que foi prazenteira e que me deu algumas ideias futuras (por outro lado, ADORO fazer pesquisa!!). Bjos

Suzi disse...

Eu estava a brincar, Miguelito. É claro!

Teu trabalho de pesquisa ficou fantástico, a seleção de imagens também (não quero tornar-me repetitiva), e começo a pensar que devias fazer de todos os filmes do Bond, e depois publicar. Sério mesmo! Obra de mestre!

Um beijo, querido!
E "bom dia!"