
Parte um
Ainda não fui a Singapura, mas tenho curiosidade. Há ali algo de deliciosamente kitsch que me atrai. À partida, não lembra a ninguém passar ali o Natal, o certo é que nesta pequena Cidade-Estado, famosa por levar o seu rigor ao ponto de multar o infractor apanhado a largar pastilha elástica onde não deve, a época é assinalada com pompa e circunstância. Ávida de imitar o Ocidente, mas sempre com um toque local, Singapura cria a sua pópria alegoria natalícia, em especial na famosa Orchard Road, que se transforma por completo e quase encadeia quem passa.

Parte dois

Sei que Singapura não fica ali ao virar da esquina, mas, já que toquei no assunto, não resisto a juntar à lista um dos hotéis que descobri para a Volta ao Mundo, edição de Novembro de 2006. Num momento em que se banalizou o conceito de design hotel, a chegada do New Majestic, em Singapura, arriscava-se a passar despercebida. Acontece que este hotel, localizado num antigo armazém do bairro de Chinatown, não tem como ser ignorado, pois é talvez ― arrisco-me a dizer ― um dos mais imaginativos e surpreendentes hotéis dos últimos tempos. Se ficar pelo conceito de “New Asia” e pela mera descrição de que, no Majestic, se mistura mobiliário colonial de Singapura com peças de design mais contemporâneo ocidental, não estou a fugir à verdade; mas não basta. Para lhe fazer inteiramente justiça, tenho de falar, para começar, nos quartos: apenas 30 e todos diferentes, mas arrumados em categorias como “Ver e ser visto” (onde o forte é o jogo de espelhos); “Cama suspensa” (com camas enormes presas ao tecto), “Loft” (o quarto fica numa espécie de sótão), e “Aquário” (com uma banheira em vidro no meio da divisão). Existem também cinco quartos conceptuais ― Fluid, Work, Wayang, Untitled e Pussy Parlour ― concebidos por cinco artistas a quem foi dada total liberdade de criação. Por todo o hotel, gravuras, aplicações, ícones, mensagens visíveis apenas de certos pontos ou murais, criados de propósito por uma mão cheia de novos talentos locais. Voltando às camas, é bom que se diga que a sua roupa é um assunto à parte e que não se mediram despesas (desde almofadas e edredões de penas de ganso a lençóis de puro algodão com 280 fios).
Nas casas de banho, os produtos “oferta da casa” são todos da Kiehl’s. Com a imaginação a ditar a diferença, é claro que os uniformes do pessoal do hotel marcam pontos, num estilo informal e moderno a fugir para o tropical, e que a piscina é um lugar à parte, pois o seu fundo em vidro fragmentado faz as vezes de tecto do restaurante.
Feita a descrição, imagino que já estejam a pensar: muito bonito, mas e o preço? Pois bem, a diária começa nos 120 euros, o que me parece muito razoável tendo em conta a qualidade e o facto de, hoje, hotéis semelhantes custarem por vezes uma verdadeira fortuna.
Parte três
Fixem bem a torre iluminada ao centro... Agora desviem, devagar, o olhar para baixo, ligeirmente à direita. O que é aquilo? É um disco-voador? Um novo clube nocturno? Um restaurante panorâmico? Nada disso. Trata-se, e só, do Tribunal Supremo de Singapura, inaugurado em 2005. Não é de agora que Singapura aderiu ao traçado futurista de inúmeros arquitectos de renome mundial, mas este edifício, criado pela firma do arquitecto britânico Sir Norman Foster (o mesmo que está a mudar a Londres ribeirinha e a quem foi confiada a conversão do Aterro da Boavista, em Lisboa, ver também aqui), marca a diferença e o seu ar de nave espacial tem dividido opiniões. Instalado na margem direito do Rio Singapura, perto do Parque Padang, o complexo judicial incorpora vários tribunais e foi concebido para passar uma imagem de dignidade, transparência e abertura. Uma coisa é certa, de noite ou de dia, quem passa por ele não fica indiferente.
5 comentários:
Hoje à noite acho que vou sonhar com uma das camas deste New Majestic. As imagens são muito tentadoras :)
Nossa, que delícia esse "hotelzinho"!!! A idéia de 30 quartos TODOS DIFERENTES, é show de bola, e os temas são incrivelmente bem bolados!
Não gostei da coroa de flores em cima da árvore, lá na primeira foto. Coroa de flores é coisa de funeral. Mas gostei de tudo o mais.
beijos ( e diga-nos se encontrou 4 mãos para fazerem a massagem, neste fim-de-semana!)
Suzi:
Também não fiquei fã da coroa no topo da árvore, mas engraçado mesmo é que tudo ali é muito kitsch e isso, a meu ver, acaba por ter a sua piada!
Vou contar-te um segredo: eu faço a maior propaganda à massagem a quatro mãos, mas, a verdade, é que nem sou muito fã de massagens. Um dia ainda revelo aqui a minha estada num spa tailandês. Uma experiência quase a raiar o hilário!
As camas estão suspensas ou é impressão minha?
Olha, Singapura também faz parte da minha lista dos "a visitar".
Sim, Marta, as camas estão suspensas. É ou não tentador?
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