15.3.07

Memórias (1)


(Os Cinco, Enid Blyton, direitos reservados)

É uma pergunta recorrente a que tento, a todo o custo, esquivar-me. E não é por snobismo ou por achar tolo ou sem propósito da parte de quem faz a pergunta, mas, tão só, porque eu não sei responder. A sério, não sei mesmo qual é o sítio que mais gostei de visitar até hoje.

É claro que tenho uma ideia. É claro que tenho preferências, mas, da mesma forma que nunca me interessei em coleccionar apenas carimbos nos passaportes e que faço questão de voltar tantas vezes quanto possível aos lugares de que gosto - razão pela qual muita gente fica surpreendida por já ter visitado mais países do que eu, mesmo sem a possibilidade de realizar 8 a 10 viagens por ano como já me chegou a acontecer -, também não perco muito tempo a pensar nisso. Gosto de viajar. Ponto.

Agora se me perguntarem de onde vem esta minha paixão por viagens, que o acaso e a teimosia se encarregaram de transformar em profissão, ai já fica mais fácil. Creio que o gosto pelas viagens é algo que nasce connosco, mas que vai sendo aprimorado graças aos estímulos que vamos recebendo ao longo da vida.

No meu caso, lembro-me bem que foi determinante o facto de, juntamente com o tradicional álbum de fotografias, terem-se lembrado em minha casa de me fazer um álbum só para os postais de viagens que os amigos dos meus pais e/ou familiares me enviavam de várias partes do mundo. Guardo esse livro até hoje, como um tesouro precioso. Mais tarde, quando, mais do que aprender a ler, passei a devorar livros, é óbvio que a colecção de Os Cinco, de Enid Blyton, teve um papel preponderante para aumentar o meu desassossego.

Até ter a minha própria colecção, que guardo também religiosamente, comecei a ler uma edição de 1960 (?) que pertencia à minha tia mais nova, e cujos alguns exemplares "herdei". Mais tarde, já na década de 1980, a série passou na televisão e não perdi pitada (acho que em 1996 foi produzida nova série, mas por essa altura eu já via o mundo pelos meus próprios olhos), mas eu tinha imaginado de uma certa maneira aquelas personagens (mais do que personagens, acho que foram amigos de infância), pelo que a série nunca conseguiu suplantar a magia dos livros. Graças a eles, eu que cresci na cidade, mas sempre passei férias no campo e na praia, pude dar largas à minha fantasia.

Pergunto-me até que ponto é verossímil colocar pré-adolescentes a viajarem sozinhos, a acamparem em ilhas e a enfrentarem todo o tipo de malfeitores, mas isso é apenas um detalhe muito pequeno comparado ao que Os Cinco fizeram pelo imaginário de várias gerações de crianças e adolescentes. E o mais engraçado, tenho-o bem presente, aprendi logo então a não conjugar o verbo viajar no seu sentido mais estrito. Quem se recorda das descrições copiosas que Enid Blyton fazia dos lanches e piqueniques? Eu delirava e tenho a certeza que parte do meu prazer em viajar também através da comida e dos diferentes temperos começou ali. Uma curiosidade, diga-se de passagem, que mantenho viva até hoje.

5 comentários:

Suzi disse...

Por isso eu gosto tanto da expressão: "Ih! Viajou!" ou "Ih! Viajei!", usada para situações que nem envolvem malas e passaportes, mas apenas a mente. "Apenasmente".

Beijos.
;o)

Custódia C. disse...

Estou com um sorriso de orelha a orelha!
Os meus livros dos Cinco, também são edição dos anos sessenta!
Ainda há dias comentei num blog que postou sobre a Enid Blyton, que ainda hoje gosto de fatia de pão barrada com manteiga e ovo cozido por cima, por causa dos fabulosos pic-nics dos Cinco!
Também eu viajei com eles. Estás a ver o Bugio ali onde o Tejo já é Oceano? eu imaginava que era a Ilha do Farol e que também eu me metia num barco a remos e ia à procura de aventuras ….

marta r disse...

Ai, "os Cinco", que saudades.

Esta imagem é tão, tão, tão familiar...

(acho que até estou emocionada!)

Luís F disse...

Descobri o prazer da leitura com esta trupe... Inesquecível...

magarça disse...

Que saudades dos tempos em que lia Os Cinco de um so fôlego e sonhava com aventuras e faustosos piqueniques... até as refeições de carne enlatada me faziam água na boca!