18.1.07

De olho no Lisboa-Dakar (10)

(Mapa da Etapa de hoje, direitos reservados)

A prova Depois do dia morno de ontem, em que, devido a problemas de segurança no Mali, a Especial prevista teve de ser substituída por uma ligação entre Néma e Ayoun de 280 quilómetros não cronometrada (o que equivale a dizer que ficou tudo na mesma em termos de classificações), eis que a prova de hoje trouxe novas alegrias para os portugueses. Carlos Sousa, depois de sucessivos azares que lhe tiraram as chances de continuar no pódio, foi hoje o segundo mais rápido nos automóveis. Como perdeu muito tempo em etapas anteriores, infelizmente, não dá para passar da sétima posição na Geral. Depois de Hélder Rodrigues (apenas 22º na Etapa de hoje), que perdeu a sexta posição da Geral para o espanhol Esteve Pujol (o mais rápido do dia), o Paulo Gonçalves foi o segundo mais rápido nas motos e sobe à 28ª posição da Geral. Bom comportamento também do motard Nuno Mateus, que sobe para 31º, e de Miguel Barbosa, nos automóveis, pois ter sido 14º na Etapa permitiu-lhe subir para 28º na Geral. Nos camiões, Elisabete Jacinto subiu um lugar na Geral e é agora 21ª.

À margem É um facto que o
Dakar é uma prova dura, politica e ecologicamente incorrecta, e que já provocou, até à data, a morte de 47 participantes (este ano ficou manchado pela perda do piloto sul-africano Elmer Symons, de apenas 29 anos e um estreante), mas, ainda assim, parece-me excessiva e fora de contexto a posição que o Vaticano expressou através do seu orgão oficial, o Osservatore Romano. O Vaticano classificou o mais famoso rali todo-o-terreno do mundo como uma «corrida sangrenta de irresponsabilidade (...) O rasto de sangue que se avoluma de ano para ano nas rotas da corrida põe a nu a incontestável componente de violência que está subjacente a toda a tentativa de exportar os modelos ocidentais num contexto humano e ecológico que tem pouco a ver com o Ocidente». O texto acusa ainda a organização e os pilotos da prova de não terem em conta a realidade dos países que atravessam e de se "estarem nas tintas" para os destroços que deixam a apodrecer no deserto. Há aqui um certo fundo de verdade, não nego. Eu gosto do Dakar pela camaradagem que representa, pelo sentido de aventura e pelas paisagens, mas admito que tenha um impacte ecológico negativo e que se mantém um pouco alheado das realidades vividas pelos países africanos. Seja como for, gostaria de ver o Vaticano reagir com igual veemência em relação a outras coisas que, na minha modesta opinião, são muito mais escabrosas e graves aos olhos da comunidade global.

2 comentários:

Suzi disse...

Eu estava lendo o post e só me vinha à mente uma coisa... Justo que você mesmo escreveu nas últimas linhas.
:o\

Anónimo disse...

É Suzi, o Vaticano tem tomadas de posição que são, no mínimo, desiguais. Ora peca por excesso, ora peca por defeito. E não deveria ser assim.