10.1.07

À boleia do Casino Royale (3)

A viagem pelas locações do Casino Royale prossegue hoje tendo em vista o capítulo, um dos mais cruciais para a trama deste James Bond, que se desenrola supostamente em Montenegro. Acho que ter escrito “supostamente” já levanta um pouco da ponta do véu, mas vamos recordar primeiro o que se passa ali. Um dos vilões do filme, Le Chiffre, organiza um torneio de póquer Texas hold 'em, aberto a muito poucos por colocar, logo à partida, a fasquia de aposta muito alta, no Casino Royale, em Montenegro ― no livro de Fleming, em que se baseou o Casino Royale, o jogo é o Baccarat ou Chemin de Fer, mas no filme optaram pelo jogo de cartas mais moderno Texas Hold 'em ou Texas Holdem, onde uma mão com um par de oito é conhecida por Octopussy (polvo em português e, não por acaso, o nome de uma outra aventura de James Bond!). Como o Governo britânico quer deitar a mão ao bandido, o agente 007 é enviado, acompanhado de Vesper Lynd (uma agente do Tesouro com a missão de zelar pelo bom uso dos 10 milhões de dólares que vão permitir a Bond entrar no jogo), na tentativa de vencer o torneio e deixar Le Chiffre numa situação vulnerável perante os seus credores (Mr. White).


(Vesper Lynd/Eva Green no momento em que desembarca em "Montenegro", direitos reservados)


Em Montenegro, Bond e Vesper encontram-se com um outro agente, Mathis. Depois de se alojarem no Hotel Splendide, Bond vai para o torneio. De início perde todo o dinheiro que leva, mas, graças à intervenção do agente da CIA, Félix Leiter, consegue continuar em jogo e acaba por derrotar Le Chiffre. Tudo terminaria bem se, entretanto, Le Chiffre não raptasse Vesper para atrair Bond a uma armadilha, onde este será duramente torturado. E chega de contar a estória, pois já estão aqui todos os elementos que interessam para iniciar o roteiro.
Para início de conversa, nenhuma destas cenas foi gravada em Montenegro. Em vez dos Balcãs, a produção aproveitou as filmagens em Praga para a abertura do filme (falarei disso noutro post) e seleccionou a cidade de Karlovy Vary, na parte ocidental da República Checa, para se desenrolar a acção.


(Panorâmica de Loket, República Checa, direitos reservados)


(Vista do castelo de Loket, República Checa, direitos reservados)


Se bem se recordam, Vesper e Bond chegam ali de comboio ― num moderno Alstom Pendolino CD 680, mas com requintes dignos de um Expresso do Oriente, a começar no figurino de Vesper e Bond, e a terminar na escolha que ele faz no jantar a bordo: uma garrafa de Château Angélus, Premier Grand Cru Classé Saint-Émilion. Já o transporte escolhido para ir ter com Mathis, um encontro (na foto) que se dá na pitoresca localidade de Loket (fica perto de Karlovy Vary), é um Aston Martin DBS prateado (um modelo também usado em filmes da série como Goldfinger). Mais tarde, na cena da perseguição (que já foi gravada em Inglaterra, na Millbrook Test Track, em Bedfordshire) foram destruídos três Aston Martins, sendo que cada um custa cerca de 250 mil euros!


(Panorâmica de Karlovy Vary, na República Checa, direitos reservados)


(Gravação da chegada de Vesper e Bond a Karlovy Vary, direitos reservados)


Voltemos a Karlovy Vary, cujo nome também aparece como Carlsbad (afinal, foi fundada por Carlos IV em 1370). Assim que vi aquele casario colorido no ecrã, fiquei imediatamente fascinado e percebi o porquê da escolha. Quem já esteve na República Checa, sabe que aquela paleta de cores dos edifícios e a arquitectura, com claras influências alemãs e centro-europeias, é relativamente comum, mas Karlovy Vary, na confluência dos rios Ohře e Teplá, foi também elegida por ser uma das mais importantes cidades termais do país, sendo procurada como refúgio de Inverno desde o século XIV. As filmagens decorreram ali em Abril de 2006, incluindo locações como Mühlbrunnkolonnade (que fez as vezes da estação de comboio onde desembarcam Bond e Vesper) e Kaiserbad (para os exteriores do casino). Fala-se que a cidade recebeu por cada dia de filmagem o equivalente a mil euros.


(Fachada do Grandhotel Pupp, em Karlovy Vary, direitos reservados)


A cidade termal checa também tinha a seu favor um outro factor de peso: o Grandhotel Pupp. É provável que o nome não vos diga nada, mas se falar em Hotel Splendide, se calhar, quem já viu o filme, vai lembrar-se que foi ali onde se alojaram Bond e Vesper. Pois o Splendide do filme é o Grandhotel Pupp. Com uma fachada imponente, salões faustosos e uma longa história, o Pupp foi a escolha certa para filmar cenas como o jantar entre Bond e Vesper. Curiosidade: o número do quarto de James Bond era o 378. Hoje, como era de esperar, o hotel está a rentabilizar a sua aparição em Casino Royale e até já tem um pacote James Bond!


(Sala de Jantar do Grandhotel Pupp onde decorreu a cena abaixo, direitos reservados)


(Gravação com Daniel Craig e Eva Green no salão do Grandhotel Pupp, direitos reservados)


(Cena do Casino Royale durante o torneio, direitos reservados)



Na localidade de Lázně, também nos arredores de Karlovy Vary, a produção encontrou em Kaiserbad (à esq.), umas termas do princípio do século XX, o edifício perfeito para fazer as vezes do exterior do casino e utilizou, até onde consegui apurar, um dos seus salões como a sala de jogo do filme. O mais curioso é que Fleming se inspirou no Casino do Estoril para escrever a estória do Casino Royale. Outra curiosidade: há quem preste atenção aos mínimos detalhes e na sequência do filme em que Bond introduz o código secreto da conta para onde quer que lhe seja enviada a quantia que ganhou no jogo, Daniel Craig, em vez de digitar 837737, que são os dígitos referentes à senha VESPER, marca 836547. Não escapa mesmo nada.


8 comentários:

Zorze Zorzinelis disse...

Meu caro Miguel. Uma vez mais estiveste em grande. Devo-te dizer que no outro dia, há coisa de 1 mês ou mais, vi uma revista com um artigo teu - a Volta ao Mundo (é ñ é?). Bom, já que estás numa de escrever, queria-te perguntar se já viste o Apocalipto? Belas paisagens e bom apontamento histórico, ou não? Abraço, Miguel!

Anónimo disse...

Miguel, se eles acertaram em cheio nas locações, você nos premiou com uma seleção de imagens perfeita! E um texto cheio de curiosidades!
Show!
Beijos e bom dia!

Anónimo disse...

Zorze:
Sim, saiu um artigo sobre o Rio de Janeiro na Volta ao Mundo de Dezembro. Ainda não vi o "Apocalipto", de Mel Gibson, mas estou curioso e espero vê-lo por estes dias. Abraço.
Suzi:
Um bom dia para ti também! Bjos

Custódia C. disse...

Mühlbrunnkolonnade ????? Para conseguir ler tive que separar as sílabas todas :):):)
Estas tuas crónicas são deliciosas!!!

marta r disse...

A avaliar pelas imagens, Karlovy Vary parece ser fabulosa.
Nunca tinha lido nada sobre esta cidade, nem sequer tinha ouvido falar.

Que tesouro. Acho que tenho que começar a pensar numas férias termais...

Luís F disse...

Estou como a Marta, Karlovy Vary é simplesmente fantástica... já para não falar do teu post, mais uma vez, muito bom...

wednesday disse...

Sei que o post já é antigo, mas andava a ver algumas coisas sobre o meu último destino (um dos...). Adorei Karlovy Vary. Mas há que realçar algumas coisas para quem pensar lá ir:
- Quase parece uma cidade russa, dada a quantidade de russos que lá vão
- os preços são mais elevados do que em Praga
- à noite não há quase pessoas na rua e muito menos luzes, o que faz esconder a beleza da cidade
- os spas públicos têm qualidade de serviços que deixa muito a desejar.

Mas para quem lá for, é uma cidade que parece de brincar. E tomar um copo no salão do Hotel Pupp não é todos os dias e é bem acessível.

Anónimo disse...

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