skip to main |
skip to sidebar
À boleia do Casino Royale (2)
Depois do Lago Como, prossigo a minha viagem pelos locais de rodagem do Casino Royale, o filme mais recente de James Bond. Para encerrar o capítulo de Itália, que no guião corresponde precisamente ao final da acção, o destino de hoje é Veneza. A Sereníssima, como é conhecida, é uma repetente nas aventuras de Bond, mas nem por isso Casino Royale se acanhou de gravar ali algumas das suas cenas mais emblemáticas. A maioria dos cenários, autênticos cartões postais, é facilmente identificada pelo grande público, mas, ainda assim, o filme faz uso de alguns truques e cria mesmo várias ilusões para melhor levar o espectador a render-se à narrativa.
(Daniel Craig/James Bond e Eva Green/Vesper Lynd a bordo do Spirit 54, Veneza, direitos reservados)
No guião do Casino Royale, James Bond e Vesper Lyind vão para Veneza numas férias românticas. Bond chega mesmo a enviar a sua carta de demissão a M., pois Vesper convence-o a deixar a vida de agente secreto antes que não lhe reste nada de humano. Chegam a Veneza em grande estilo, a bordo de um iate, o Spirit 54, um feito só mesmo para assistir na tela, pois há muito que deixou de ser permitida a navegação de barcos tão longos no Grande Canal (há 350 anos, segundo o dono do iate alugado pela produção). As autoridades de Veneza concederam a James Bond uma licença especial para navegar entre a Accademia e a Ponte do Rialto (à esq.). Do iate dá para ver o Campanário e a Basílica da Praça de S. Marco e outros ex-líbris de Veneza (espreitem alguns dos mais emblemáticos aqui).
(Daniel Craig a bordo do Spirit 54, ao fundo Praça de S. Marco, direitos reservados)
(Filmagens a bordo do Spirit 54, no Canal da Giudecca, Veneza, direitos reservados)
Quando vi Daniel Craig descer as escadarias do edifício que faz as vezes de hotel em Veneza, ainda ponderei que pudesse tratar-se do famoso hotel Danieli, mas, ao ver a cena de relance fiquei logo na dúvida. Até porque no filme eles colocam o hotel com saída directa para a Praça de S. Marco e isso não corresponde à realidade. Uma pesquisa confirmou as minhas suspeitas: o lobby que aparece na sequência em que Daniel Craig descobre a traição de Vesper Lynd e sai no seu encalço foi filmada, imaginem, no átrio do Museu Nacional de Praga. A foto, à esq., serve de prova. A equipa ficou alojada durante as filmagens em Veneza no luxuoso Hotel Cipriani. Desconheço se o quarto que aparece no filme é deste hotel, mas o Cipriani aparece como pano de fundo numa sequência em que Bond e Vesper navegam no iate.
("Lua-de-mel" de Bond e Vesper num hotel de Veneza, direitos reservados)
Segue-se a cena da perseguição de Daniel Craig a Vesper Lynn na Praça de S. Marcos. Segundo li, as cenas foram gravadas entre as 6h00 e as 19h30 de uma só jornada. Primeiro detalhe curioso: nesse dia, só a personagem de Eva Green podia usar encarnado para se distinguir na multidão enquanto era seguida por Daniel Craig (na foto, em plena acção) até ao cais embarque das gôndolas, o Bacino Orseolo. O banco onde Vesper levanta o dinheiro que desviou da conta de Bond foi todo simulado na esquina da praça, mesmo por baixo da Procuratie Nuove, constando inclusive que as caixas de Multibanco ficaram tão reais que até enganaram alguns turistas durante as rodagens!
(Panorâmica da Praça de S. Marco, Veneza, direitos reservados)
Ao todo foram três dias de filmagens em Veneza durante o mês Junho de 2006. A cena de perseguição a Eva Green, sempre segura no seu vestido encarnado e de mala metalizada na mão com o dinheiro, prosseguiu no Campo de San Barnaba (foto à esq., curiosidade: esta locação foi também utilizada no filme A Última Cruzada da série Indiana Jones), outrora uma zona mais pobre, que se destaca hoje pelo seu canal, pela barca de hortaliça e pela ponte, que Green atravessa, famosa por ter sido ali que as facções rivais de Veneza lutavam até uma delas cair à água. Foram realizadas também filmagens junto à livraria Toletta (Calle della Toletta, 1214).
Outras cenas foram ainda gravadas no Mercado do Rialto, mas vamos à sequência em que Bond entra num antigo palazzo do Grande Canal, onde Vesper vai entregar o dinheiro ao vilão Mr. White. Alguns exteriores foram gravados no Conservatorio Benedetto Marcello, mas a queda do edifício e o seu consequente afundamento no canal, durante o qual Vesper morre apesar das tentativas de Bond para a salvar, não aconteceu, como é óbvio, para valer. Foi tudo simulado no tanque de Paddock dos Pinewood Studios, já no Reino Unido. A maqueta do palácio pesava noventa toneladas e o seu colapso foi controlado por computador e um apurado sistema de compressão e válvulas. Mr. White sai ileso da cena, com a maleta do dinheiro, e assiste a tudo do balcão de um edifício vizinho, no Grande Canal.
9 comentários:
Acho que me convenceste a pegar o filme!!
Parece que ainda não chegou às locadoras, aqui. Mas quando eu for ver, suspeito que terei de imprimir estes teus posts, para conferir os detalhes curiosos. E porque Veneza é mesmo um sonho...
E já que viste com tanto carinho, percebeste alguns erros de gravação? Bem, são coisas que ouvi dizer, porque ainda não vi o filme.
1) Há um torneio no Cassino Royale em Montenegro, não há? Nessa cena, parece que o James Bond tem de criar uma senha de 6 dígitos para liberar o dinheiro das apostas. O que me disseram é que a senha criada é 836547, e que no finalzinho do filme, quando o dinheiro que Bond ganhou no Cassino tem de voltar para sua conta, a senha digitada para liberar o dinheiro é 837737.
A outra é:
2. Há uma perseguição dos carros da polícia ao caminhão de combustível que pretende se chocar com o avião. Parece que os policiais americanos metralham os pneus do veículo furando-os, e na seqüência seguinte os pneus do veículos estão intactos.
Confere?
Bem, eu morro de rir, com essa gente que descobre furos onde, às vezes, nem há. Mas alguns são mesmo absurdos, como o do prato de Brad Pitt em "Onze Homens e Um Segredo" (você percebeu?)
Miguel, hora de dormir!
Tenha uma boa noite.
Até amanhã.
;o)
(nossa!!!! como eu falei!!! o comentário virou um post!!)
e ainda faltou dizer que tua seleção de imagens ficou PERFEITA!!!
Suzi, também acho tudo isso muito curioso. Aliás, já sabia desses erros no Casino Royal, mas estou a guardá-los para quando falar nas gravações do Casino de Montenegro (que não é Montenegro, mas sim Rep. Checa, mas disso logo falarei). Bjos!
É engraçado que ainda não ganhei coragem para ver a última odisseia do James Bond. Mas uma coisa é certa: os cenários são sempre extraordinários. Li com muita atenção e, de facto, tocaste em pormenores que nunca consiguiria descortinar. Bem, deixa-me perguntar-te o seguinte: tu publicaste este texto na revista ou tiveste este trabalho todo só para o blog?! De qualquer forma, muito bom texto! Fica bem; um abraço, Zorze
Pronto, lá se vai o meu sonho de entrar em Veneza em grande estilo, a bordo de um iate...
Não sei como é que o realizador não se perdeu na montagem do filme com tanto corta & cola de cenas gravadas em sítios diferentes.
O Cinema é mesmo isso, a ilusão... Excelente post!!!
Caro Zorze:
Há artigos que dão posts e há posts que podem dar artigos. Acho que vai ser o caso deste. Abraço.
Pois é ....nem tudo o que parece é :) Mas já sabíamos isso não é verdade?
Estou a gostar imenso desta tua "dissecação"!
Quando ver o filme, é de "olhos bem abertos" :)
Oi, João Miguel.
Estou tentando desde o início de dezembro mandar um e-mail para você, mas todos eles voltaram. Você tem outro e-mail que não aquele clix.pt?
agradeço se puder me retornar, tenho novidades!
abraços
Nina
Enviar um comentário