8.1.07

À boleia do Casino Royale (1)

Se não os podes vencer, junta-te a eles. Não me interpretem mal, eu gosto dos filmes do James Bond, não me move nada contra eles e não me sinto diminuído intelectualmente por admiti-lo aqui. Acontece que nunca, até agora, fui ver um filme do agente 007 ao cinema. Sempre assisti em televisão, em vídeo, em DVD. E, por mim, teria continuado tudo na mesma com este Casino Royale, ou seja, ficaria à espera, tranquilamente, que passasse numa televisão perto de mim. Sem sobressaltos. Não foi assim. Não só vi, como gostei e fiquei inspirado a escrever uma série de posts sobre o Casino Royale na perspectiva do viajante (se por mais não fosse, eu teria sempre como ponto de identificação com a personagem de Ian Fleming o facto de ele viajar muito, e em grande estilo).
A vantagem de ter ido depois de toda a gente (e de ter constatado que todos têm uma opinião a respeito), é que não ia ao engano. Esperava-me a habitual pancada de criar bicho, as piruetas inverosímeis, cenários escolhidos a dedo, gadgets muito caros, objectos de desejo como o relógio Omega que o agente traz no pulso e garotas, boas e más, fáceis. Com uma diferença muito significativa. Menos efeitos especiais e um James Bond de ruptura. É o Bond mais físico e musculado de sempre, a quem falta talvez finesse (como diz a certa altura Vesper Lynd/Eva Green, ele pode até ter estudado em Oxford, mas nota-se à légua a falta de berço por mais gostos caros que tenha, entretanto, adquirido), mas a verdade é que Daniel Craig, cuja pinta está mais para mafioso do Leste do que para lorde inglês, compôs um Bond eficaz e mais humano (por mais que insistam em comparar o seu físico ao de um trolha e o seu perfil ao de um pugilista): sua a camisa, sangra (por mais que apareça quase impecável cinco minutos depois), mostra emoção e, quase, chora (a outra vez em que chorou mesmo foi no filme rodado parcialmente em Portugal, em que a sua mulher é assassinada, mas cortaram a cena por medo de enfraquecer a sua virilidade aos olhos do público). Quanto aos cenários, nem tudo o que parece é. A fazer fé no roteiro de Casino Royale, Bond passa por Praga, Uganda, Madagáscar, Londres, Baamas, Montenegro e Itália. Por deformação profissional não consigo assistir a um filme destes sem sentir uma enorme curiosidade em deslindar os sítios onde tudo foi filmado.
Não devo ser o único. E, se puder ajudar a ver o filme com outros olhos, tanto melhor. Este primeiro post começa pelo fim. Mais precisamente pelo Lago Como, na região italiana da Lombardia, não muito longe de Milão e da fronteira suíça.


(Filmagens de Casino Royale na Villa Balbianello, Como, direitos reservados)

(Villa Balbianello, Como, Direitos reservados)


Estou certo que muitos reconheceram o Lago Como assim que Daniel Craig, a fazer as vezes de um Bond em convalescença depois de ter sido duramente torturado (uma sequência que terá deixado todos os homens com um aperto… no coração) pelo malvado Le Chiffre, surgiu em cena, aos cuidados de Vesper Lynd/Eva Green. Pois bem, aqueles magníficos jardins não pertencem, como já devem ter percebido por esta altura, a uma clínica de repouso, mas sim à Villa Balbianello di Lenn (espreitem aqui para ter uma ideia). Já os interiores, que aparecem como instalações da clínica no filme, não foram, por razões óbvias, filmados nesta villa, cujo décor é sumptuoso (até mesmo para James Bond), mas sim num antigo hospital militar em Planá, República Checa.



(Villa Balbianello, Como, direitos reservados)




A sequência final do filme, a que termina com a frase lapidar «O nome é Bond, James Bond», tem lugar numa outra casa fantástica do Lago Como. Só para recordar um pouco da cena, é aquela em que o famigerado Mr. White, acabado de regressar ao seu palacete (a tal casa, cujo nome já desvendo), recebe uma chamada no seu telemóvel. Bond está do outro lado da linha, mas apenas a poucos metros de distância, o que lhe permite atingir o vilão na perna, para o obrigar a rastejar, deixando em aberto o seu final. A cena foi gravada na espectacular Villa La Gaeta, em San Siro, uma localidade a Sul do Lago Como. Construída nos anos 1920, num estilo que mistura influências medievais e renascentistas, chegou a ser propriedade de um conde, mas hoje encontra-se reestruturada em apartamentos de luxo. Último aparte: todas as cenas nesta região foram rodadas nos últimos dois dias de Maio de 2006.

7 comentários:

marta r disse...

É simplesmente espectactular a região da Lombardia e o Lago Como...
Se não me engano, é também neste local que o Clooneyzito tem um castelo, não é?

E outra coisa: sabes como se chama a cidade onde decorreu o jogo do casino? Parece-me que não é exactamente o sítio que é suposto ser no filme...

marta r disse...

Olha, inventei uma palavra: "espectactular"....

Anónimo disse...

Tudo acaba em George Clooney, percebe, Miguel? rs*
É que ele é "espectactular"!!! (a palavra tem direitos reservados??)

Quanto ao post, mesmo, alguns filmes, quando são muito badalados, sei lá por que razão, eu termino não vendo. Esse é um, por exemplo. Vai entender...

(mas acho que vale pela fotografia. vou repensar)
;o)

Anónimo disse...

Marta:
Pois nem tudo ali é o que parece. Ao longo desta semana falarei mais do assunto.
Suzi:
Percebo o teu ponto de vista. Não é um filme "obrigatório", é "apenas" um filme que se vê bem. Mas tem uma série de coisas associadas às quais acho piada.

Custódia C. disse...

Prometo ver em DVD, que mais não seja pelos teus comentários, que são muito sugestivos.
E cá temos de novo o Lago Como ...ai...ai!!! (grande suspiro!!! que saudades !!!)

frapê disse...

Oi João!
Acredite: estava com saudades deste blog! e me diga, existe um verbo "deslindar"? O que significa? Tem a palavra linda no meio, então deve ter algo a ver com beleza... Certo?
Enfim, fiquei mais interesada em ver o novo Bond no cinema... (Confesso que, como vc, sempre esperava a tv!)
E sobre a minha alergia, espero encontrar logo a solução... Obrigada pelo carinho!
Beijocas,
Pin

Anónimo disse...

CCC:
Como só vais ver em DVD, ainda tenho tempo para te revelar mais alguns dos sítios e segredos do filme.
Pin:
Saudades! Só para ti - Deslindar: tornar inteligível, compreensível (o que está confuso, obscuro); explicar; investigar, pesquisar; apurar, resolver, descobrir (in Dicionário Houaiss). Bjos!