Se alguma coisa aprendi, nestes anos de itinerância, é que o acto de viajar não se esgota num só conceito ou modelo. Hoje, fui e voltei. Sem sair do mesmo lugar. E revi Paris. Através de palavras que, não sendo as minhas, não me impediram de ver com os meus próprios olhos.
Ao chegar ao meio da ponte, imobilizo-me. Retenho a respiração. Está uma mulher em frente dele. Pequena, de cabelos grisalhos, com um vestido severo mas rosto risonho e os olhos já fechados. Ele continua de cabeça baixa, com as costas apoiadas ao friso, não a viu. Ela aproxima-se. Murmura algumas palavras, suponho. Porque Ossyane levanta a cabeça. Os seus dois braços levantam-se também, lentamente, como as asas de uma ave que estivesse há muito desabituada de voar.
Estão agora um de encontro ao outro, colados. Abanam as cabeças da mesma maneira, em uníssono, como para envergonhar o destino que os separou.
Seguram-se com raiva. Creio que ainda não disseram quase nada um ao outro, e que choram. Sinto os meus próprios lábios tremerem.
(…) Há casais de transeuntes que pararam e que os observam, intrigados, enternecidos. Eu não posso observá-los da mesma maneira. Não sou transeunte.»
Tenham um bom dia!
4 comentários:
Muito bonito, mesmo muito - deves saber bem, tal como eu (!), como a vida parisiense é romântica. Bom dia para ti também, Miguel! Ficamos em contacto. Abraço alienado!
Há que tempo que ando para ler este rapaz, o Amin... Parece que agora é que é.
Bom dia!
Concordo em pleno com as tuas palavras... e como é bom viajar assim, pelos olhos dos outros...
Que texto lindo! De Paris já tenho saudades (já passou um ano desde a última visita!)
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