31.1.07

Aldeia Global (3)

O Centre Pompidou está de parabéns. Faz 30 anos que mudou para sempre a paisagem de Paris.

Aldeia Global (2)

O alerta está dado. As alterações climáticas, em grande parte devido ao aquecimento global (o que nos remete para a emissão de gases tóxicos, entre outras coisas, que nos responsabiliza a todos), estão já a ser sentidas um pouco por toda a parte. Por enquanto, a maioria das pessoas prende-se apenas em detalhes como o facto de as estações estarem cada vez mais imprevisíveis ou, no máximo, surpreende-se quando, no caso português, escuta que a nossa costa está a recuar um metro por ano. Mas a questão é mais séria do que isso. Tem, a médio e longo prazo, implicações dramáticas para nós e para as gerações vindouras.
Tem, inclusive, um impacte muito sério para quem, como eu, gosta de viajar. Não, não se trata apenas do risco de perder algumas das maravilhas que por agora ainda damos como adquiridas (vejam os exemplos a seguir, que retirei da edição de Janeiro da Travel & Leisure) ou de vir a ficar sem, para os que gostam de esquiar, boa parte das estâncias mundiais de Inverno num futuro próximo. Trata-se, isso sim, da emergência de adoptar uma atitude mais consciente e de não continuar a adiar o inevitável sob a desculpa de que a Natureza arranja sempre maneira de se regenerar. Passa, por exemplo, pelos hotéis e resorts levarem a sério o conceito de "amigo do ambiente", pelas companhias aéreas adoptarem uma prática mais eficiente de controlo energético, ou ainda pela indústria do turismo estudar formas de contribuir para travar o aquecimento global. Afinal, quem no seu juízo perfeito deseja que as previsões de hoje se tornem os factos de amanhã?


Cidades Costeiras
O nível da água do mar não pára de aumentar de ano para ano. A manter-se este ritmo, cidades costeiras como Veneza ou Miami, já para não falar de arquipélagos como as Maldivas ou das ilhas indonésias, vão ficar submersas daqui a 100 anos!

Barreira de CoralA menos que se reduza a emissão de CO2, a Grande Barreira de Coral da Austrália sofrerá uma redução drástica de 95% por volta do ano 2075!

GlaciaresOs glaciares estão a derreter... A manter-se a situação presente, a maioria terá totalmente desaparecido por altura do ano 2030!

Fauna e Flora
Com as variações de temperatura nas diferentes zonas do mundo, é provável que 37% das espécies actuais possam estar extintas até 2050!

30.1.07

Perdições (8)


Estes são os gelados...
(Direitos reservados)

... que estão a deixar Hollywood com água na boca
(Direitos reservados)

Há pessoas que nasceram para ter boas ideias e, detalhe importante, saber tirar partido delas (ler ganhar dinheiro). É o caso de um coreano de 32 anos, Hyekyung Hwang (o nome pouco importa para o caso), que abriu uma gelataria minúscula em Los Angeles, mais precisamente em West Hollywood, e não tem mãos a medir, ao ponto de ter contratado seguranças para manter a ordem nas horas de ponta em que a fila aumenta exponencialmente. A Pinkberry, assim se chama a mina de ouro, tem mobiliário de Philippe Starck e um layout cuidado, mas o que leva ali uma média de 1500 pessoas por dia são os gelados (custam entre 2,50 a 9 dólares, o que dá um pouco menos em euros). Apenas dois sabores (chá verde ou iogurte gelado) como base, cem por centro naturais e sem gordura, mas podem levar mais de duas dezenas de coberturas à escolha que incluem frutas frescas e cereais. O sucesso é tanto, e tão grande, que a Pinkberry vai abrir, até final de 2007, 40 outras lojas em Los Angeles, San Diego e Las Vegas. Não sei o que me irrita mais: não ter como provar uma destas maravilhas tão cedo ou ser totalmente desprovido de veia para o negócio.

Aldeia Global (1)


É um saco?


É um vestido?


Não, é um saco que pode ser vestido e um vestido que pode ser um saco

Mulheres de todo o mundo, a conhecida marca italiana de malas e acessórios Mandarina Duck, com lojas em Portugal, e o criador japonês Yohji Yamamoto uniram-se para vos facilitar ainda mais a vida em viagem (e não só). A nova colecção Y's Mandarina inclui um modelo, o Tablier, que se transforma em vestido com uma silhueta ajustável e muita arrumação. Para quem achou piada à ideia, duas más notícias: não consta que o modelo vá ser distribuído em Portugal e parece que custa qualquer coisa como 1000 euros (mas vale por dois, certo?). Aos homens, até ver, não toca nada.

29.1.07

Perdições (7)


A propósito de chocolate...

(Direitos reservados)

Chocolate com griffe
O Valle Flor, a funcionar no Hotel Pestana Palace, é um restaurante caro, não o nego, mas não se acanhem em considerá-lo para uma ocasião especial. A excelência da sua cozinha e o charme do hotel não desiludem. Para mais, e depois de ter lido a edição de Fevereiro da revista Evasões (cuja página reproduzo à esq.), fiquei a saber também que a jovem pasteleira do Valle Flor, Ana Rita Cristovão, ganhou, pela quinta vez consecutiva, o prémio Chocolatier do Ano no Festival Internacional de Chocolate de Óbidos. Em causa esteve uma das suas criações de sonho: Mil-folhas de chocolate manjari e maracujá, em espuma de cacau e trufa morna.
Outra dica preciosa: existe em Carcavelos, desde 2003, o Cacau Clube, uma associação não lucrativa que visa dar a conhecer o chocolate. O Cacau Clube organiza, entre Fevereiro e Março, três sessões que vão incluir, no final, a degustação de uma sobremesa criada por um chefe de renome. Mais informações através do e-mail: cacau.clube@telepac.pt


Chocolate à alentejana
Nem tudo se resume a Lisboa e arredores. Que o diga quem já foi à Mestre Cacau, em Beja. Criada, em 2005, pelo casal Célia e João Dias, esta casa inspirou-se nas chocolatarias de outras paragens para criar no Alentejo a sua marca registada. Assim, além da confeitaria própria, na Mestre Cacau produzem-se chocolates artesanais que surpreendem pelos recheios de medronho, café de Timor ou aguardente da Vidigueira.



(Fachada da Aquim, Rio de Janeiro, direitos reservados)

Chocolate de autor
Altas temperaturas não combinam bem com chocolate, mas isso não tem impedido o Rio de Janeiro de ganhar tradição na matéria. Um dos meus locais preferidos, para nenhum chocólatra "botar" defeito, é a loja Aquim, no Leblon (Av. Ataulfo de Paiva, 1321). Oriunda de uma família que se tornou famosa pelos seus buffets magistrais, Samantha Aquim (na foto, publicada na Veja), graças à sua formação na escola francesa de gastronomia Lenôtre, é quem comanda hoje as operações e produz artesanalmente, recorrendo quase sempre a chocolate belga, nove tipos de sofisticados bombons. Com uma média de venda superior às 200 unidades por dia, tudo ali é de arregalar a vista, pois as criações são expostas, como se de jóias se tratassem, numa vitrina especial.


Chocolate com pimenta

Se o nome do chefe Ferran Adrià dispensa apresentações, de tão famoso que se tornou no mundo inteiro, quando se fala em chocolate quem merece uma referência especial é o seu irmão Alberto, graças ao conceito Cacao Sampaka (Mercado de Chocolate). Com lojas em várias cidades espanholas (como Madrid, Girona, Valência, Málaga...) e até em Berlim, na Alemanha, é, contudo, a casa de Barcelona que chama mais à atenção. Num misto de café e loja, no nº 292 da Conseil de Cent, é o local ideal para comprar umas trufas perfeitas e beber uma típica chávena de chocolate espesso (com a consistência idêntica a um pudim, como os espanhóis gostam), enriquecido de uma pitada de canela e de pimenta.

26.1.07

De olho no fim-de-semana (3)

(Club World, British Airways, direitos reservados)

Está a decorrer, até ao próximo domingo, mais uma edição da Bolsa de Turismo de Lisboa (FIL, Parque das Nações, Lisboa). Com abertura ao público, entre as 13h00 e as 23h00 (dia 27) e entre as 13h00 e as 20h00 (dia 28), a entrada custa €4,50 (bilhete normal), €12 (bilhete família) e €2,50 (jovens e séniores). Para além de ficarem a par das novidades de Portugal e do mundo, podem ainda provar comida regional nas tasquinhas do pavilhão 4. Sugiro que passem pelo stand da British Airways e que experimentem as novas poltronas do Club World. Para quem, habitualmente, só viaja em económica, pode ser uma oportunidade única para se sentar (e deitar, que é essa a ideia, com direito a coberta de dupla face, almofada com fronha de linho e tudo) numa poltrona da classe executiva pensada para voos de longo curso. Confesso que estava à espera de mais espaço, mas...

Bons sonhos. Bom fim-de-semana!

De olho no fim-de-semana (2)


Para quem está no Porto, ou não vai andar longe neste fim-de-semana, uma boa sugestão. O restaurante Porto Novo, comandado pelo chefe Jerónimo, prova por que razão o Sheraton Porto Hotel & Spa conquistou o seu espaço entre nós. Os jantares e as semanas temáticos sucedem-se a bom ritmo e, desta feita, trata-se de descobrir a gastronomia alentejana com toque de autor. Sábado e domingo, há almoço e jantar, mas o destaque vai todo para o simpático buffet de família do dia 28.
Reservas e informações pelo tel.: 220 404 000.

De olho no fim-de-semana (1)

(Roibos, direitos reservados)

Esta é uma boa dica para os amantes de chá. Eu não fui lá (ainda), mas confio em quem me passou a informação. A First Flush tem agora uma loja na Rua do Crucifixo, 108-110, à Baixa de Lisboa, onde é possível comprar, para além dos tradicionais apetrechos, chás e infusões frescos ao quilo. E, para os indecisos, eles organizam degustações das 12h00 às 14h00 e das 17h00 às 19h00. A menos que me desiluda, acho que ganharam mais um freguês.

Água para que te quero!

(Direitos reservados)


Da próxima vez que pedir água à refeição, vou pensar duas vezes. Bom, se calhar até não vou, mas, uma coisa vos garanto, vou a passar a enxergar a água com outros olhos. Serve isto para dizer que num destes dias fui convidado pela Maison de la France ― pela região de Rhône-Alpes, se quiser ser mais exacto ― para uma degustação de águas… Estranhei o convite, mas, na dúvida, resolvi ir conferir.
Antes que se apressem a tirar conclusões precipitadas, esclareço: não sendo eu um perito na matéria, ainda chego a distinguir a água da torneira de água mineral, a saber se o gás é natural ou induzido ou até a estabelecer as minhas preferências em matéria de marcas, proveniências e paladar (mais salgado ou doce consoante as ocasiões). Mas fico-me por aqui. É claro que já tinha ouvido falar de alguns bares de águas ― um dos pioneiros surgiu no célebre armazém Colette, em Paris, com mais de cem variedades ―, mas, confesso, curiosidade à parte, nunca me predispus a gastar um bom dinheiro para ir “apenas” beber água.
Introduzido o tema, devo dizer-vos que os franceses sabem, de facto, vender uma ideia. Como se de vinhos se tratasse, deram-nos a provar várias águas da região em copos próprios de pé alto, que pudemos apreciar pela densidade (podem ser mais ou menos encorpadas), pela tonalidade contra um fundo branco (e oui, as águas têm tonalidades diferentes) e saborear. Mentir-vos-ia se dissesse que fui capaz de ir além do salgado e doce, do metálico ou apimentado, mas o certo é que um palato treinado, tal como nos vinhos, consegue efectivamente distinguir todas as nuances de uma água. E assim aprendi (mais) uma lição: existem águas boas como aperitivo (normalmente as mais aromáticas, que podem substituir o vinho branco), outras que vão bem com saladas (as que possuem um ligeiro sabor acidulado, com um toque alimonado), outras que casam com pratos muito condimentados (ai é bom que deixem uma certa efervescência na boca), outras para molhos (caso da famosa Evian, conhecida por ter um gosto salgado e adstringente), outras que vão bem com peixe (convém que sejam salgadas e ligeiramente efervescentes), outras para acompanhar queijos (aqui têm mesmo de ser adstringentes) ou sobremesas (águas doces e suaves), e ainda as que fazem as vezes de digestivos (fortemente efervescentes e de paladar fresco, o que ajuda a limpar, não a eliminar okay?, a gordura e a refrescar a boca). Para muitos, estou certo, tudo isto pode parecer uma tremenda frescura, mas eu, que fui cheio de dúvidas, gostei. Depois, parece-me uma óptima alternativa para quem não quer ou pode beber álcool, mas ainda assim deseja tirar o máximo partido do que está a comer e a beber.

24.1.07

Rapidinhas (1)

(WC1, Londres, direitos reservados)

Londres Estreou-se a 12 de Dezembro de 2006 e fica em frente ao armazém Selfridges, no número 439-441 da Oxford Street. O WC1 está aberto de segunda a domingo e, ao contrário do que o nome sugere, não é um WC comum. Trata-se antes de um espaço onde, a troco de €7,5 (com direito a desconto em compras superiores a €15 de produtos de aromaterapia), as senhoras podem sentar-se, relaxar, refrescar-se ou até mudar de roupa em grande estilo.


(Naomi Campbell no Rio, direitos reservados)

Rio de Janeiro O prefeito (presidente da Câmara) do Rio de Janeiro, César Maia, teve uma ideia luminosa: convidar a modelo Naomi Campbell, que por mais de uma vez já foi atracção do Carnaval carioca, como embaixadora da cidade no estrangeiro. Uma espécie de “divulgadora” das belezas da Cidade Maravilhosa, mas não falta já quem ache a associação infeliz, pois temem que o mau comportamento da modelo ― constantemente notícia por agressão ― sirva de pretexto para comparações e piadas com a violência do Rio de Janeiro!


(Bairro Vermelho, Amesterdão, direitos reservados)

Amesterdão O Bairro Vermelho dispensa apresentações, pois tornou-se um cartão postal em todo o mundo graças à forma como a prostituição é ali encarada dentro da lei. Assim sendo, nada mais justo, no entender da autarquia local, do que encomendar uma estátua em bronze que, a partir de finais de Março, vai ser colocada para homenagear as prostitutas. A imagem escolhida é a de uma mulher a olhar em frente e confiante no mundo, e pretende passar uma mensagem positiva sobre a coragem das profissionais do sexo.


(Palácio da Vila, Sintra, direitos reservados)

Tóquio O metro de Tóquio, numa iniciativa conjunta com a Embaixada portuguesa, lançou 300 mil exemplares de um novo bilhete. Até ai nada de novo não fosse esse bilhete trazer impressa uma imagem do Palácio da Vila, em Sintra. Este monumento, que está na lista do Património Mundial da UNESCO, não aparece por acaso, já que Sintra é uma das vilas mais visitadas em Portugal pelos turistas nipónicos.


(Paris Hilton, 2000, por David LaChapelle)

Viena Já todos estamos cansados de saber que a tradição não é mais o que era, mas havia necessidade de convidar a azougada Paris Hilton (a foto é de David LaChapelle e está em exibição, em Berlim, na Fundação Helmut Newton) para figura de destaque no famoso Baile da Ópera de Viena? Richard Lugner, um bem sucedido empresário da construção civil, achou que sim e quer tê-la, no próximo dia 15 de Fevereiro, no seu camarote, enquanto desfilam as debutantes com toda a pompa e circunstância. Afinal, e bem vistas as coisas, por que não? Por lá já passaram, também como convidadas de honra, Grace Jones, Joan Collins, Pamela Anderson ou Sarah Ferguson, todas elas igualmente mediáticas... e escandalosas.

23.1.07

Músicas do Mundo (2)

(Central Station, Nova Iorque, direitos reservados)



Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

E assim chegar e partir

São os dois lados

Da mesma viagem

O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
(Encontros e Despedidas, na voz de Maria Rita)

22.1.07

Antestreia: Diamante de Sangue

(Diamante de Sangue, direitos reservados)


Preâmbulo Pertenço ao grupo dos indecisos que nutrem por Leonardo DiCaprio, enquanto actor, um sentimento ambivalente: por um lado, reconheço-lhe potencial, até uma certa profundidade de registo, mas, por outro, aquela cara de eterno menino do coro, e parte da sua filmografia, deixa-me sempre de pé atrás. Seja como for, Leo DiCaprio é o “novo” Robert De Niro de Martin Scorcese ― é o próprio realizador quem o diz ―, e é provável que venha a tornar-se um grande actor. Para já, continua a ser alvo da desconfiança, e de alguma injustiça, até por parte dos seus pares e afins ― veja-se o que aconteceu na recente edição dos Globos de Ouro, em que DiCaprio estava nomeado para melhor actor dramático por duas vezes (em Diamante de Sangue e Entre Inimigos) e não só não ganhou como, parece, terá sido alvo da chacota de George Clooney e Justin Timberlake.


(Leo DiCaprio e Djimon Hounsou em Diamante de Sangue, direitos reservados)


Enredo Estou curioso para ver Diamante de Sangue, de Edward Zwick (Shakespeare Apaixonado ou O Último Samurai), nos cinemas a partir de quinta-feira. Para já, interessa-me a estória e confio, até poder emitir opinião própria, nas críticas que tenho lido e que falam de uma boa mistura entre acção e drama, e de um filme que se vê bem, apesar de algumas incongruências (o sotaque irregular de DiCaprio, por exemplo, que ainda assim é elogiado por quase todos na composição da sua personagem) e de não acrescentar nada de novo (não escapam à tentação do lugar-comum que é o romance em tempo de guerra entre DiCaprio e Connelly). O filme tem como ponto de partida a guerra civil que devastou, em 1999, a Serra Leoa ― só para recordar: os conflitos na Libéria e na Serra Leoa ocasionaram a morte de 400 mil pessoas entre 1989 e 2003 ―, e centra-se nas personagens de Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um traficante de diamantes do Zimbabué, e de Solomon Vandy (Djimon Hounsou), um pescador de etnia Mende que, após a invasão da sua aldeia pela Força Unida Revolucionária, é obrigado a separar-se da sua família e a ir trabalhar para uma mina de diamantes. Solomon descobre um exemplar valiosíssimo, que enterra antes de ser preso e de travar conhecimento com Danny, que vê nessa pedra uma oportunidade única para sair de África. A realidade é, porém, bem mais complexa e este filme pretende ser uma denúncia do comércio dos “diamantes de sangue” para financiar conflitos armados, cuja extracção se faz à custa de violência, trabalho semi-escravo, jogadas políticas e com a cumplicidade dos chefes da indústria das pedras. Para desenvolver esta trama é também importante a entrada em cena da personagem de Maddy Owen (Jennifer Connelly) ― ainda que mal aproveitada, segundo alguns críticos ―, uma jornalista norte-americana que vai para a Serra Leoa com o ideal de desvendar a verdade. A busca do diamante escondido, e o que representa para cada um, em tempo de grande perigo e convulsão, lança as três personagens centrais numa corrida pela própria sobrevivência.


(Jennifer Connelly em Diamante de Sangue, direitos reservados)


A polémica Já era de prever que a indústria de diamantes não ia gostar da forma como sai mal no “retrato”. O Conselho Mundial de Diamantes exigiu que o realizador informasse o público de que a realidade actual da mineração é bem diferente do que aparece no ecrã e a De Beers, uma das maiores empresas do ramo, deu-se mesmo ao trabalho, e à despesa, de contratar Nelson Mandela para ser o porta-voz da imagem e da posição da indústria frente às denúncias do filme. Zwick não foi na conversa, conta com uma retaguarda de peso no seu elenco ― Leonardo DiCaprio é activista ecológico, Jennifer Connely é porta-voz da Amnistia Internacional e Djimon Hounsou é militante da paz na África ― e possui amigos influentes e sensíveis a estas questões como Brad Pitt, Angelina Jolie ou George Clooney. Outra polémica envolveu a Warner Bro., que foi acusada de ter prometido próteses às crianças mutiladas e de ter adiado a sua entrega para a altura da estreia mundial do filme e assim obter maior publicidade. A produtora negou.


(Leo DiCaprio e Djimon Hounsou em Diamante de Sangue, direitos reservados)


O apelo de África Confesso-me um pouco cansado de, sempre que há uma rodagem em África, ver os actores nas revistas a falarem de como se comoveram com a dura realidade e de como desejam, um dia (sabe-se lá quando), dedicar as suas vidas a fazer o bem qual missionários. Enfim, Leonardo DiCaprio não foi excepção e já afirmou que rodar em África o Diamante de Sangue o modificou, pois fez com que descobrisse «o alcance da miséria» no continente e o «indescritível luxo» da vida no Ocidente. Eu diria que não é preciso ir a África para perceber isso, mas, tudo bem, mais vale tarde do que nunca. O actor ficou, particularmente, impressionado com muitas crianças moçambicanas que conheceu durante as filmagens e que apresentavam mutilações provocadas pelas minas. Impressionou-o também o facto de as pessoas, apesar da pobreza e das doenças, manterem uma alegria de viver contagiante.


(Jennifer Connelly durante as rodagens de Diamante de Sangue, direitos reservados)


(Opium, Cidade do Cabo, África do Sul, direitos reservados)


Os locais de filmagem Gravar na Serra Leoa, um território complicado que não sai da lista dos lugares a evitar, estava a prori fora de questão. A solução encontrada foi filmar em Moçambique, nomeadamente em Maputo, e na África do Sul para fazer as vezes da Serra Leoa. Na África do Sul, onde o elenco deu mais que falar, a maioria das cenas foi gravada em Port Edward, uma estância balnear na região de Kwazulu, Natal, e também na costa oriental, nos arredores da Cidade do Cabo. A presença da equipa, e de celebridades como DiCaprio, fizeram as delícias do comércio local (e não só, pois conta que até a igreja metodista de Port Edward foi arrendada durante as filmagens e isso rendeu um bom dinheiro à paróquia) e de hoteleiros como Gary Bentley. Claro que ter passado quatro meses em filmagens na África do Sul, deu tempo de sobra a DiCaprio para fazer das suas. Sobretudo na bela Cidade do Cabo, onde foi visto inúmeras noites na farra com jovens modelos. E foi assim que lugares já antes badalados como o famoso Mount Nelson Hotel (na foto acima) e clubes nocturnos como o Café Caprice, Opium ou o Ignite ascenderam à lista ainda mais desejada dos que se podem gabar: “aqui esteve Leonardo DiCaprio”.


(Café Caprice, Camps Bay, África do Sul, direitos reservados)


(Ignite, Cidade do Cabo, África do Sul, direitos reservados)

21.1.07

De olho no Lisboa-Dakar (12)

(Lago Rosa, Dacar, Senegal, direitos reservados)

A posteriori No décimo post dedicado a esta edição do Lisboa-Dakar, dei conta da tomada de posição do Vaticano em relação à dureza desta prova. Nem de propósito, ontem li sobre o trabalho que a organização tem desenvolvido nos últimos anos, associada a uma ONG, para melhorar as condições de vida dos países africanos por onde costuma passar o rali. Ajudam na recolha e tratamento de lixo, dão material escolar, tentam melhorar e diversificar o tipo de culturas agrícolas, entre outras coisas. Pode até ser pouco para o grande proveito que tiram com a realização do Dakar, mas, ainda assim, está longe de corresponder ao retrato mercenário e exagerado que o Vaticano pintou.

Cumpriu-se a tradição com a chegada ao fabuloso Lago Rosa, em Dacar, no Senegal. Terminou a 29ª edição do Dakar. A segunda com partida em Lisboa (a organização, para além de 2008, está a negociar para ver se até 2009 o mítico rali não muda de endereço).
O dia de ontem ficou marcado pela morte de um motard francês, por paragem cardíaca, e pela falta de companheirismo do norte-americano Mark Miller, que, pela segunda vez neste Dakar (a outra foi em Marrocos), bloqueou por quase uma hora a passagem do seu colega de equipa, o português Carlos Sousa, e impediu-o, provavelmente, de ganhar a Especial. Mesmo assim, Miller viu o seu esforço compensado e, na recta final, conseguiu destronar o piloto do Qatar e terminar na quarta posição da Geral. Carlos Sousa manteve a sétima posição, mas, não fossem os problemas técnicos que os Race Touareg II demonstraram, teria feito muito melhor. Repetiu a posição, mas teve a sua melhor performance desde sempre. Miguel Barbosa termina na 24ª posição e tem o seu futuro em aberto. Nas motos, Cyril Desprès acreditou até ao fim, beneficiou do infeliz acidente de Marc Coma e venceu o Dakar. Hélder Rodrigues, o melhor português em prova, leva para casa o quinto posto e foi terceiro na Especial de hoje. O brasileiro Jean de Azevedo, quarto na Etapa, prova que poderia ter feito bem melhor do que "apenas" a 25ª posição. Paulo Gonçalves classifica-se em 23º e Nuno Mateus em 32º. Nos camiões, o brasileiro André de Azevedo assegurou a quinta posição e Elisabete Jacinto, 21ª na Geral, acaba por não cumprir, por um fio de cabelo, o seu objectivo inicial de ficar entre os 20 primeiros. A Mitsubishi, grande estrela de outras edições, acaba por sagrar-se mais uma vez vencedora nos automóveis, mas leva como amargo de boca o facto de não ter conseguido que nenhum dos seus carros vencesse uma Especial. O certo é que Stéphane Peterhansel já conta com nove vitórias no Dakar (esta foi a terceira em carros), e isso ninguém lhe tira. Para o ano há mais.

20.1.07

Músicas do Mundo (1)

(Rosas de Kelaat M'Gouna, Marrocos, direitos reservados)

Não sei se já vos aconteceu, mas comigo passa-se frequentemente. Estou num determinado lugar e escuto uma música, que posso até já conhecer, mas, a partir dessa altura, uma e outro passam a ficar associados para sempre na minha memória. Um desses (felizes) acasos deu-se entre uma música de Katie Melua e uma estada em Marrocos. Estava alojado no Dar Zemora, uma casa esplêndida nos arredores de Marraquexe, e das janelas do meu quarto verde-jade podia ver o jardim, onde, lembro-me bem, as primeiras rosas, as soberbas rosas marroquinas, começavam a despontar. Ainda era Inverno na Europa, mas por ali vivi uma Primavera temporã. Na aparelhagem, também não esqueço, não parava de tocar Nine Million Bycyles. É como ela, e com um punhado de rosas, que vos desejo um bom fim-de-semana.

There are nine million bicycles in Beijing
That's a fact,
It's a thing we can't deny
Like the fact that I will love you till I die.

We are twelve billion light years from the edge,
That's a guess,
No-one can ever say it's true

But I know that I will always be with you.


I'm warmed by the fire of your love everyday
So don't call me a liar,
Just believe everything that I say


There are six BILLION people in the world
More or less
and it makes me feel quite small
But you're the one I love the most of all


We're high on the wire
With the world in our sight
And I'll never tire,
Of the love that you give me every night


There are nine million bicycles in
Beijing
That's a Fact,
it's a thing we can't deny
Like the fact that I will love you till I die


And there are nine million bicycles in
Beijing
And you know that I will love you till I die!

(Nine Million Bicycles, Katie Melua)

19.1.07

De olho no Lisboa-Dakar (11)

(Mapa da Etapa de hoje, direitos reservados)

O Dakar é mesmo uma prova imprevisível até ao último instante. O motard espanhol Marc Coma fez um Dakar irrepreensível e tinha tudo para ganhar folgadamente aos seus mais directos adversários no domingo, mas eis que o azar lhe bateu à porta na Etapa de hoje, de ligação entre o Mali e o Senegal. Perdeu-se e deu um tombo aparatoso, pelo que teve de ser evacuado de helicóptero e abandonar a competição. Esteve Pujol também sofreu um revês, pelo que o português Hélder Rodrigues, sétimo na Geral, beneficiou da situação e ascendeu, finalmente, ao Top 5. O Dakar é mesmo assim, o azar de uns é a sorte de outros, e o português tem feito uma óptima prova. Nas motos, Paulo Gonçalves subiu para 26º e Nuno Mateus para 32º da Geral. Nos carros, a Mitsubishi, que se prepara para ganhar esta edição, ainda não conseguiu vencer uma única Etapa. Carlos Sousa foi o quarto mais rápido do dia, mas para subir da sétima posição só mesmo contando com o infortúnio alheio... Miguel Barbosa foi 9º, sobe para 26ª da Geral, e prova que tem potencial para fazer mais e melhor numa próxima edição. Elisabete Jacinto manteve a 21ª posição da Geral nos camiões. O dia de amanhã, antes da grande final no domingo, pode servir para alterar a posição de pilotos que estão apenas a segundos uns dos outros, como é caso do americano Mark Miller e do piloto do Qatar, quinto e quarto, respectivamente, na Geral dos automóveis. A ver vamos.

(As minhas) Perdicões (7)

Frase do dia:
If it makes you happy, it can't be that bad
(Sherly Crow)

Associação de ideias. O refrão de uma música, que ora e volta oiço sem querer, levou-me desta vez a pensar em várias coisas que podem até não ser as mais saudáveis, mas fazem-me feliz. E se me fazem feliz, claro está, não podem ser assim tão más. Em tempo de aldeia global, a tendência é fazer como que o mundo venha até nós, mas, dei por mim a lembrar-me de uma mão cheia de coisas cujo sabor está gravado na minha memória (foram as primeiras que me vieram à cabeça, mas a lista poderia continuar por aí fora...) e que me remetem para determinados lugares e só para eles. É que mesmo que as encontrasse no supermercado da esquina (e não acho boa parte delas), o mais provável é que não me soubessem tão bem. Por muitas voltas e reviravoltas que o mundo dê, é bom saber que certas coisas continuam no lugar onde é suposto estarem.


Água de coco (Brasil)


Apfelstrudel (Alemanha)


Citronelle chá de erva-limão ou lúcia-lima (Seychelles, Índico)


Frappé grego (Grécia)


Harissa (Tunísia)


Makroud (Kairouan, Tunísia)


Mangosteen (Tailândia, Ásia)


Pastéis de Belém e bica (Lisboa, Portugal)


Sachertorte (Viena, Áustria)


Tarte flambée (Alsácia, França)